SóProvas


ID
4006765
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Manaus - AM
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.

Memórias de um aprendiz de escritor

         Escrevo há muito tempo. Costumo dizer que, se ainda não aprendi - e acho mesmo que não aprendi, a gente nunca para de aprender não foi por falta de prática. Porque comecei muito cedo. Na verdade, todas as minhas recordações estão ligadas a isso, a ouvir e contar histórias. Não só as histórias dos personagens que me encantaram, o SaciPererê, o Negrinho do Pastoreio, a Cuca, Hércules, Tarzan, os piratas. Mas também as minhas próprias histórias, as histórias de meus personagens, essas criaturas reais ou imaginárias, com quem convivi desde a infância.

        “Na verdade”, eu escrevi ali em cima. Verdade é uma palavra muito relativa para um escritor de ficção. O que é verdade, o que é imaginação? No colégio onde fiz o segundo grau, havia um rapaz que tinha fama de mentiroso. Fama, não; ele era mentiroso. Todo mundo sabia que ele era mentiroso. Todo mundo, menos ele.

         Certa vez, o rádio deu uma notícia alarmante: um avião em dificuldades sobrevoava Porto Alegre. Podia cair a qualquer momento. Fomos para o colégio, naquele dia, preocupados; e conversávamos sobre o assunto, quando apareceu ele, o Mentiroso. Pálido:

         — Vocês nem podem imaginar!

        Uma pausa dramática, e logo em seguida:

        — Sabem esse avião que estava em perigo? Caiu perto da minha casa. Escapamos por pouco. Gente, que coisa horrível!

         E começou a descrever o avião incendiando,o piloto gritava por socorro ... Uma cena impressionante. Aí veio um colega correndo, com a notícia: o avião acabara de aterrissar, são e salvo. Todo mundo começou a rir. Todo mundo, menos o Mentiroso:

         — Não pode ser! - repetia incrédulo, irritado. — Eu vi o avião cair!

        Agora, quando lembro este fato, concluo que não estava mentindo. Ele vira, realmente, o avião cair. Com os olhos da imaginação, decerto; mas para ele o avião tinha caído, e tinha incendiado, e tudo o mais. E ele acreditava no que dizia, porque era um ficcionista. Tudo que precisava, naquele momento, eram um lápis e um papel. Se tivesse escrito o que dizia, seria um escritor; como não escrevera, tratava-se de um mentiroso. Uma questão de nomes, de palavras.

SCLIAR, Moacyr. Memórias de um aprendiz de escritor. São Paulo: Ed. Nacional, 1984.

Sobre os elementos destacados do segmento “Agora, quando lembro este fato, concluo que não estava mentindo. Ele vira, realmente, o avião cair. Com os olhos da imaginação, decerto; mas para ele o avião tinha caído, e tinha incendiado, e tudo o mais. E ele acreditava no que dizia, porque era um ficcionista. Tudo que precisava, naquele momento, eram um lápis e um papel. No colégio onde fiz o segundo grau, havia um rapaz que tinha fama de mentiroso. Se tivesse escrito o que dizia, seria um escritor; como não escrevera, tratava-se de um mentiroso. Uma questão de nomes, de palavras.”, é correto afirmar:

Alternativas
Comentários
  • Aos que assinalaram a alternativa "a" (de acordo com as estatísticas da questão, foi a segunda alternativa mais assinalada):

    A conjunção 'quando', nessa frase, é uma conjunção subordinada adverbial temporal, a qual poderia ser substituída por "enquanto, assim que, logo que, até que". Logo, por conta disso, não se poderia substituir por "se", que é uma conjunção subordinada adverbial condicional.

    O sentido da frase "Agora, quando lembro este fato, concluo que não estava mentindo" é que hoje em dia, nos momentos em que ele pára e se lembra do fato, ele conclui que não estava mentindo. A frase não é construída no sentido de "agora, CASO/SE lembro do fato".

    Portanto, gabarito é letra "B".

  • Não entendi o gabarito da letra B por conta desse trecho: Tudo que precisava, naquele momento, eram um lápis e um papel

    Não entendi a concordância

  • Achei que '' tudo o mais'' era coloquialismo

  • Tudo que precisava, naquele momento, eram um lápis e um papel

    Concordância Correta, basta colocar a frase na ordem direta

    Um lápis e um papel eram tudo que precisaria naquele momento.

  • "Tudo que precisava, naquele momento, eram um lápis e um papel". Formalmente, a regência do verbo precisar, indicando necessidade, não deveria ser obedecida, "precisar DE" (VTI)? Sei que com o "que" é "aceitável" a ausência da preposição, mas por se falar em " respeito à norma culta da língua" fiquei na dúvida...

  • Se MOACIR SCLIAR

    Não respeita a Norma Culta quem dirá EU ser ÍNFIMO do conhecimento de

    nossa língua.