SóProvas


ID
4076422
Banca
FUNCAB
Órgão
Prefeitura de Porto Velho - RO
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Meu amigo Brasílio

    No sábado, fui visitar meu velho amigo Brasílio. Ele me recebeu no portão, animado, com um uisquinho na mão, me convidou para entrar, abriu uma champanhe francesa, me deu uma taça, acendeu um charuto cubano. Disse que as coisas estavam indo bem para ele, que os negócios tinham engrenado, que ele finalmente tinha descoberto o segredo para viver na fartura.

     - Fica para jantar - ele convidou.

    Feliz com a felicidade do meu amigo querido, aceitei. Ele foi buscar um prato na cozinha, mas, ao abrir a gaveta, parou, constrangido.

    - Ixi, não tenho talheres.

    - Como não tem talheres, Brasa? - perguntei. Eu tinha cansado de fazer boquinha na casa do Brasílio e sempre usávamos uns talheres lindos, de prata, herança de família. - Vendi pela internet.

    Foi assim que comprei este charuto - disse, distraído, enquanto a cinza caía no chão. Foi aí que notei as paredes vazias e esburacadas. Os quadros tinham sumido. E os fios de eletricidade haviam sido arrancados.

    - Descobri que dá para viver muito bem apenas catando as coisas de valor da família e colocando para vender. Isso que é vida.

    Claro que o Brasílio não existe e que a história aí em cima é fictícia - ninguém faria um absurdo desses, vender o patrimônio para torrar em desfrute. Ou faria?

    Em grande medida, o modelo econômico deste nosso país é baseado numa lógica bem parecida com a do meu querido e fictício amigo. Bem mais que a metade da economia brasileira é sustentada pela mera extração de recursos naturais, de maneira não sustentável. Arrancamos a floresta, passamos nos cobres e aí torramos a grana - e ficamos sem floresta. É o mesmo que vender a prataria da família e gastar em uísque e charutos.

    Muito da prosperidade recente do país foi abastecida por indústrias de alto impacto, que fazem dinheiro a curto prazo, mas nos deixam mais pobres depois. Historicamente este país confundiu gerar riqueza com atacar o patrimônio, surrupiando-o de nossos descendentes. Não precisa ser assim. Há países como a Suécia. Lá, boa parte da economia é baseada na exploração sustentável da floresta. Se a gelada e infértil Suécia conseguiu um dos maiores padrões de vida do mundo explorando floresta, por que um país tão fértil, com uma floresta incomensuravelmente mais rica, como é o caso do Brasil, não poderia fazer o mesmo?

    Porque a floresta equatorial brasileira não é simples e previsível como a floresta temperada sueca. Lá, cresce basicamente uma única espécie de árvore, que permite uma exploração industrial da madeira pelas indústrias de papel, móveis e navios. A floresta brasileira é muito mais rica do que a sueca, mas é também muito mais complexa. E lidar com complexidade é muito mais difícil. Em vez de fazer um produto só, há que se aprender a fazer centenas, milhares. Em vez de uma matéria-prima só, há quase infinitas.

    Muito difícil. Melhor derrubar tudo e vender a lenha. Melhor alargar tudo para gerar energia. Melhor passar o trator e fazer monocultura de soja ou gado. E aí ficar sem talheres para o almoço.

(Denis Russo Burgierman. Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs/mundo-novo/>, , acesso em 18/01/2015.) 

Assinale a opção em que, apesar da omissão de uma vírgula, as duas frases mantêm o mesmo sentido e estão corretas quanto à pontuação.

Alternativas
Comentários
  • Os sinais de pontuação desempenham portentoso papel na frase, tendo em vista que facilitam a compreensão do discurso escrito, além de contribuir significativamente para a clareza do texto. Há uma miríade deles, dentre os quais se destacam: vírgula, pontos de exclamação e interrogação, dois-pontos, ponto e vírgula, aspas, travessão e parêntesis.

    Aqui deve-se analisar o uso da vírgula. Leiamos as frases:

    a) "Lá, cresce basicamente uma única espécie de árvore...” Lá cresce basicamente uma única espécie de árvore...

    Correto. A vírgula imediatamente após o adjunto adverbial "lá" pode ser suprimida sem que isso implique erro, tendo em vista a curta extensão do termo;

    b) "... e sempre usávamos uns talheres lindos de prata, herança de família.” ... e sempre usávamos uns talheres lindos, de prata herança de família.

    Incorreto. A proposta de reescritura alterou a posição de termos e promoveu o deslocamento da vírgula. Isso implicou erro, uma vez que "de prata", adjunto adnominal de "talheres", não pode ser separado do termo a que se refere;

    c) "Arrancamos a floresta, passamos nos cobres e aí torramos a grana...” Arrancamos a floresta passamos nos cobres e aí torramos a grana...

    Incorreto. Não pode haver supressão da vírgula, pois há uma encadeamento de orações coordenadas, sendo que a primeira (arrancamos a flores) e a segunda (passamos nos cobres) separam-se apenas por vírgula, haja vista serem assindéticas;

    d) "Ele me recebeu no portão, animado, com um uisquinho na mão, me convidou para entrar...” Ele me recebeu no portão animado, com um uisquinho na mão, me convidou para entrar...

    Incorreto. O adjetivo "animado" é predicativo do sujeito, ou seja, característica do sujeito "ele". Se suprimidas as vírgulas, altera-se significativamente o sentido. Note que na reescritura entende-se que animado é o portão, e não o sujeito;

    e) "... permite uma exploração industrial madeira pelas indústrias de papel, móveis e navios.” ... permite uma exploração industrial da madeira pelas indústrias de papel móveis e navios.

    Incorreto. Há uma série de elementos de mesma função sintática, portanto a vírgula está correta e não pode ser retirada.

    Letra A

  • Galera, advérbio pequeno no início da oração é facultativo, entretanto, cuidado com a cacofonia. Claramente, na letra A há um comprometimento na pronúncia, causando um som desagradável (lacresce). Bons estudos.