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ID
4880842
Banca
FEPESE
Órgão
Prefeitura de Lages - SC
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto.

Brasileiro, homem do amanhã

Há em nosso povo duas constantes que nos induzem a sustentar que o Brasil é o único país brasileiro de todo o mundo. Brasileiro até demais. Colunas de brasilidade, as duas colunas são: a capacidade de dar um jeito; a capacidade de adiar.
    A primeira é ainda escassamente conhecida, e nada compreendida, no exterior; a segunda, no entanto, já anda bastante divulgada lá fora, sem que, direta ou sistematicamente, o corpo diplomático contribua para isso.
    Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam apenas por humorismo (nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã), não é no Brasil uma deliberada norma de conduta, uma diretriz fundamental. Não, é mais, bem mais forte do que qualquer princípio da vontade: é um instinto inelutável, uma força espontânea da estranha e surpreendente raça brasileira.
    Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada).

Adiamos em virtude dum verdadeiro e inevitável estímulo inibitório, do mesmo modo que protegemos os olhos com a mão ao surgir na nossa frente um foco luminoso intenso. A coisa deu em reflexo condicionado; proposto qualquer problema a um brasileiro, ele reage de pronto com as palavras: logo à tarde; só à noite; amanhã; segunda-feira; depois do Carnaval; no ano que vem. Adiamos tudo: o bem e o mal, o bom e o mau, que não se confundem, mas tantas vezes se desemparelham. Adiamos o trabalho, o encontro, o almoço, o telefonema, o dentista, o dentista nos adia, a conversa séria, o pagamento do imposto de renda, as férias, a reforma agrária, o seguro de vida, o exame médico, a visita de pêsames, o conserto do automóvel, o concerto de Beethoven, o túnel de Niterói, a festa de aniversário da criança, as relações com a China, tudo. Até o amor. Só a morte e a promissória são mais ou menos pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral da reforma, uma instituição sacrossanta no Brasil.
    Quanto à morte, não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na Canção do Exílio, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que ele morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele poema famoso cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis.
    Sim, adiamos por força de um incoercível destino nacional, do mesmo modo que, por obra do fado, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no Times, o português adora bacalhau, o alemão trabalha com furor disciplinado, o espanhol se excita com a morte, o japonês esconde o pensamento, o americano escolhe sempre a gravata mais colorida.
    O brasileiro adia; logo existe.
    A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico. A verdade é que já está nos manuais. Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei no fim do volume algumas informações essenciais sobre nós e nossa terra. Entre endereços de embaixadores e consulados, estatísticas, indicações culinárias o autor intercalou o seguinte tópico:

DES MOST (*palavras)
  •  Hier: ontem
  •  Aujourd’hui: hoje
  •  Demain: amanhã

Le seul importante est le dernier (*a única palavra importante é a última)

A única palavra importante é amanhã. Ora, esse francês astuto agarrou-nos pela perna. O resto eu adio para a semana que vem.
Paulo Mendes Campos

Observe o trecho abaixo.

“Quem nunca enganou-se e desobedeceu as sinalizações da vida? Pode ser que houvessem caminhos menos tortuosos, mas as ações não seriam tão beneficentes. Assim, prepara-se armadilhas, ou melhor, o destino sempre as prepara e nós, com bastante sacrifícios, movemo-nos rumo a decisão final”.

Observe as afirmativas feitas sobre o trecho.

1. O trecho pode ser classificado como uma narração.
2. Há dois casos de inadequação à norma culta em se tratando de mecanismos de regência: um verbal outro nominal.
3. Há uma impropriedade quanto à ortografia, a saber: a palavra “beneficente” deveria ser escrita da seguinte forma: “beneficiente”.
4. Há um desvio à norma culta no que se refere à colocação pronominal.
5. Há três casos de incorreção no uso dos processos de concordância, de acordo com a norma culta: dois verbais e um nominal.

Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.

Alternativas
Comentários
  • “Quem nunca enganou-se e desobedeceu as (falta crase) sinalizações da vida? Pode ser que houvessem caminhos menos tortuosos, mas as ações não seriam tão beneficentes. Assim, prepara-se (deveria estar no plural) armadilhas, ou melhor, o destino sempre as prepara (deveria estar no plural) e nós, com bastante (erro na concordância) sacrifícios, movemo-nos rumo a (erro na regência , pois falta crase) decisão final”.

  • "Houvessem" está incorreto, o certo seria "houvesse", já que se trata de um verbo impessoal, na forma que foi colocado.

  • “Quem nunca enganou-se e desobedeceu as sinalizações da vida? Pode ser que houvessem caminhos menos tortuosos, mas as ações não seriam tão beneficentes. Assim, prepara-se armadilhas, ou melhor, o destino sempre as prepara e nós, com bastante sacrifícios, movemo-nos rumo a decisão final”.

    Quem nunca se enganou e desobedeceu às sinalizações da vida? Pode ser que houvesse caminhos menos tortuosos, mas as ações não seria tão beneficentes. Assim, preparam-se armadilhas, ou melhor o destino sempre as prepara e nós, com bastantes sacrifícios, movemo-nos ruma à decisão final.

    2. Há dois casos de inadequação à norma culta em se tratando de mecanismos de regência: um verbal outro nominal.

    Certo. A forma verbal 'desobedeceu' rege-se de preposição 'a'. Então, 'Desobedeceu às sinalizações.'

    A forma nominal 'rumo' rege-se de preposição 'a'. Então, 'Movemo-nos rumo à decisão final.'

    4. Há um desvio à norma culta no que se refere à colocação pronominal.

    Certo. Pronomes interrogativos e advérbios atraem o pronome. Então 'Quem nunca se enganou...'

    5. Há três casos de incorreção no uso dos processos de concordância, de acordo com a norma culta: dois verbais e um nominal.

    Certo. -Verbo 'haver' com sentido de existir\acontecer\ocorrer é impessoal. Então, 'Pode ser que houvesse caminhos...'

    -Verbo acompanhado de partícula apassivadora, verbo concorda com o sujeito. Então, 'Preparam-se armadilhas...' 'Armadilhas são preparadas...'

    -Bastante quando puder ser intercambiável por MUITOS é variável e concorda com o substantivo. Então, 'com bastantes sacrifícios'

    GAB: D

    Equívocos, avisem-me.

  • GABARITO D

    “Quem nunca enganou-se( 1 ) e desobedeceu as (2) sinalizações da vida? Pode ser que houvessem (3) caminhos menos tortuosos, mas as ações não seriam tão beneficentes. Assim, prepara-se ( 4) armadilhas, ou melhor, o destino sempre as prepara e nós, com bastante ( 5 ) sacrifícios, movemo-nos rumo a ( 6 ) decisão final”.

    1) Nunca = palavras negativas são Fator atrativo de próclise

    2) Obedecer / desobedecer = VTI (A) A +A = CRASE

    Desobedeceu às sinalizações.

    Desobedeceu aos semáforos

    3) Haver no sentido de existir

    4) VTD +SE = Partícula apassivadora

    Armadilhas são preparadas.

    5) Bastantes - Trocamos por "muitos ".

    Bastantes sacrifícios.

    6) Rumo à decisão

    Rumo ao problema

  • fiquei ate emocionado por acertar essa. rsrs
  • Assertiva D

    São corretas apenas as afirmativas 2, 4 e 5.

     2. Há dois casos de inadequação à norma culta em se tratando de mecanismos de regência: um verbal outro nominal.

    4. Há um desvio à norma culta no que se refere à colocação pronominal.

    5. Há três casos de incorreção no uso dos processos de concordância, de acordo com a norma culta: dois verbais e um nominal.