SóProvas


ID
4897369
Banca
FAU
Órgão
Prefeitura de Apucarana - PR
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

" Nunca esquecerei aquela noite..."


A noite, de Elie Wiesel, é um dos mais

populares relatos da barbárie nazista

HELIO GUROVITZ

10/07/2016 - 10h00 - Atualizado 10/07/2016 10h00


    Diante dos limites da linguagem para lidar com o horror, vários escritores sobreviventes do nazismo escolheram o suicídio. O poeta Paul Célan se lançou no Rio Sena. O psicólogo Bruno Bettelheim se asfixiou com um saco plástico. O escritor Primo Levi morreu ao cair – não por acidente, segundo a polícia – da escadaria de seu prédio em Turim. Elie Wiesel não. Morreu de causas naturais aos 87 anos, na semana passada. Mas não foi indiferente ao tormento. Consumido pela culpa de não ter salvado o pai no campo de Buchenwald, ficou anos em silêncio. Foi o escritor francês François Mauriac quem o convenceu a escrever. “Aquele olhar, como de um Lázaro levantado dos mortos, mas ainda prisioneiro nos confins sombrios por onde vagara, tropeçando entre os cadáveres da vergonha”, escreveu Mauriac sobre o primeiro encontro com Wiesel. “E eu, que acredito que Deus é amor, que resposta poderia dar ao jovem questionador, cujos olhos escuros ainda traziam o reflexo daquela tristeza angélica (…)?” Depois da conversa com Mauriac, Wiesel escreveu, compulsivamente, algo como 800 páginas em iídiche, idioma materno seu e da maioria dos judeus exterminados. O livro resultante, Un di velt hot geshvign (E o mundo silenciou), não saiu na íntegra. Com uma fração do tamanho original, foi publicado em francês em 1958, sob o título La nuit (A noite).


A noite, de Elie Wiesel é o livro da semana


    Entre as quase 60 obras que Wiesel produziu, A noite é a mais conhecida. Tornou-se um dos mais populares relatos da barbárie nazista, ao lado do Diário de Anne Frank e de É isso um homem?, de Primo Levi. Não fez sucesso no lançamento, nem mesmo depois de traduzido para o inglês, em 1960. Foi conquistando o público nos anos 1960 e 1970. Em 2006, voltou à lista de mais vendidos, escolhido pelo clube do livro da apresentadora Oprah Winfrey. A noite foi escrito com alta carga de sentimento – mas não é sentimental. Muito menos piegas. Não tem um olhar religioso ou vingativo. É tão somente um testemunho e, por isso mesmo, mais contundente. Narra o encontro de Wiesel, aos 15 anos, com o mal na forma mais absoluta. Do momento em que sua família é arrancada de casa até o instante em que, libertado de Buchenwald, ele enfim olha no espelho pela primeira vez em meses. “Das profundezas do espelho, um cadáver olhou de volta para mim”, diz. “O olhar nos seus olhos, enquanto olhavam os meus, nunca me deixou.”

    Dos quatro filhos da família Wiesel, Eliezer era o único menino. Na aldeia judaica de Sighet, passa seu tempo entre estudos rabínicos e as conversas com o zelador da sinagoga, que lhe dá acesso ao estudo da cabala, então proibido a quem tivesse menos de 30 anos. O zelador some, levado pelos nazistas. Por milagre, escapa dos campos e volta à aldeia, onde relata o extermínio. Ninguém acredita nele. Pensam que está louco. Pouco depois, os alemães segregam os judeus em dois guetos. A família Wiesel embarca então no trem da morte. Ao chegar ao complexo de Auschwitz Birkenau, na Polônia ocupada, a mãe e a irmã de 7 anos são separadas. As duas vão direto para as câmaras de gás (outras duas irmãs se salvariam). Pai e filho escapam, na seleção comandada pelo facínora Josef Mengele. São enviados ao campo de trabalho de Buna, onde sobrevivem a uma rotina de fome, tortura, doença e escravidão. Com a aproximação das tropas soviéticas, são levados numa marcha forçada de centenas de quilômetros. A maioria morre de exaustão. Na chegada a Buchenwald, o pai de Wiesel está doente, à beira da morte. O filho faz de tudo para tentar acudi-lo. Também exausto, acaba por largá-lo. Na noite fatídica, 29 de janeiro de 1945, Shlomo Wiesel é levado ao forno crematório.

    Dez anos se passariam até que Elie entendesse a única coisa que poderia dar sentido a sua vida depois: prestar testemunho; manter viva a memória. Silêncio e indiferença diante do mal, dizia, são um pecado maior. Sua voz se tornou, desde então, “a consciência da humanidade” e se fez ouvir por toda parte onde os mesmos crimes voltavam a ser cometidos – da Bósnia ao Camboja, de Ruanda a Darfur. Era a mesma voz daquele menino que, diante do mal absoluto, soube encontrar as palavras mais belas e pungentes: “Nunca esquecerei aquela noite, a primeira noite no campo, que transformou minha vida numa longa noite, sete vezes maldita e sete vezes selada. Nunca esquecerei aquela fumaça. Nunca esquecerei os pequenos rostos das crianças, cujos corpos vi tornados em coroas de fumaça sob um céu azul em silêncio. Nunca esquecerei aquelas chamas que consumiram minha fé para sempre. Nunca esquecerei o silêncio noturno que me despojou, por toda a eternidade, do desejo de viver. Nunca esquecerei aqueles momentos que assassinaram meu Deus e minh’alma e transformaram meus sonhos em pó. Nunca esquecerei isso, mesmo que seja condenado a viver tanto quanto o próprio Deus. Nunca”.

Adaptado: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/heliogurovitz/noticia/2016/07/nunca-esquecerei-aquela-noite.html, acesso em 10 de jul, de 2016. 

Marque a alternativa correta em relação à classificação das palavras sublinhadas, na ordem em que aparecem na frase:


“Morreu de causas naturais aos 87 anos, na semana passada. Mas não foi indiferente ao tormento”.

Alternativas
Comentários
  • GAB E

  • Passada é adjetivo?

  • Igor Gelako,

    Passada é adjetivo que está caracterizando o substantivo semana.

    [...] na semana passada [...]

    >Na análise sintática, esse excerto é adjunto adverbial de tempo. 'Na' é adjunto adnominal. 'Semana' é o núcleo do adjunto adverbial. 'Passada' é adjunto adnominal.

    >Na análise morfológica, 'Na' é a junção da preposição 'em' + o artigo definido 'a'. 'Semana' é substantivo. 'Passada' é adjetivo.

    >Quando for fazer análises de períodos, se tiver explícito, procure sempre o núcleo que normalmente é um substantivo, pois todo o resto gira em torno dele, inclusive o adjetivo.

    Equívocos, avisem-me ou corrige aqui nos comentários.

  • Pessoal, neste contexto o "passada" está desempenhando função de adjetivo.

    Não é só uma semana, é a semana PASSADA.

    Podemos ver claramente que está qualificando (adjetivando) a palavra semana.

  • Assertiva e

    Morreu de causas naturais aos 87 anos, na semana passada. Mas não foi indiferente ao tormento”.

    preposição,

    numeral,

    adjetivo,

    advérbio.

  • A questão é sobre classe de palavras e quer saber a classificação morfológica dos termos destacados em “Morreu de causas naturais aos 87 anos, na semana passada. Mas não foi indiferente ao tormento”. Vejamos:  

     

    A) artigo, numeral, adjetivo, advérbio.

    Errado.

    Artigo: é a palavra que se antepõe ao substantivo para determiná-lo, definindo ou indefinido o ser nomeado por esse substantivo.

    Artigos definidos: determinam de forma precisa os substantivos. São eles: o, a, os, as.

    Artigos indefinidos: indeterminam os substantivos, caracterizando-os de forma vaga, imprecisa e generalizada, sem particularizar e individualizar pessoas, objetos ou lugares. São eles: um, uma, uns, umas.

     

    Numeral: palavra variável que indica uma quantidade exata de pessoas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa série. Refere-se ao substantivo, dando-lhe ideia de número.

     

    Adjetivo: palavra variável em gênero, número e grau que expressa qualidade, defeito, origem, estado do substantivo ou de qualquer palavra substantivada.

     

    Advérbio: palavra invariável que indica circunstâncias. Modifica um adjetivo, um verbo ou outro advérbio.

     

    B) preposição, numeral, substantivo, advérbio.

    Errado.

    Preposição: palavra invariável que une dois termos, subordinando um ao outro.

    As preposições essenciais são: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre, trás.

     

    Substantivo: palavra que usamos para nomear seres, coisas e ideias. Por ser variável, apresenta flexões em gênero, número e grau.

     

    C) conjunção, numeral, adjetivo, preposição.

    Errado.

    Conjunção: palavra invariável que une orações ou termos semelhantes (de mesma função sintática).

     

    D) preposição, numeral, adjetivo, conjunção.

    Errado.

    Explicado acima

     

    E) preposição, numeral, adjetivo, advérbio.

    Certo. "De" é uma preposição essencial. "87" é um numeral cardinal. "Passada" é um adjetivo que qualifica o substantivo "semana". "Não" é um advérbio de negação.

     

    Gabarito: Letra E

  • passada qualifica a semana

  • Participando da discussão:

    Semana passada.

    Não dá para usar o bizu do tão , mas dá para substituir por outro adjetivo.

    Semana passageira.

    Semanada ( tão ) Passageira

    O termo qualifica o anterior = Adjetivo.

  • Adjetivo é classe que se refere a substantivo. Qualifica, caracteriza. É classe variável.

    Advérbio é classe que modifica verbo, adjetivo ou outro advérbio. Indica circunstância (tempo, lugar, intensidade...). É invariável.

    Na dúvida, tente flexionar a palavra, mandá-la ao plural ou ao feminino. Se for advérbio, não variará. Só não proceda assim para

    diferenciar as locuções adjetivas das adverbiais. A tendência é a de as locuções, de um modo geral, não variarem.

  • Letra E para os não assinantes assim como eu.