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ID
4908763
Banca
UEPA
Órgão
SEAD-PA
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o Texto para responder a questão.


Texto 

O novo ativista digital


    O paulista Renan Fernandes, de 22 anos, é um observador atento da conjuntura política e social do país. Participa das discussões no centro acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, onde cursa o 5° ano. Ele dá aulas voluntariamente no cursinho pré-vestibular para estudantes carentes que funciona na faculdade. No dia 13 de junho, quando 5 mil manifestantes protestavam nas ruas do centro de São Paulo, ele era um deles. “Sou usuário do transporte público e queria ajudar a lutar por uma tarifa mais justa”, afirma Fernandes. Ele diz ter sido atingido por uma bala de borracha disparada pelos policiais, afirma que viu uma amiga ser ferida pelos projéteis e outra queimar as mãos, depois de ser atingida por uma bomba de gás lacrimogêneo. Revoltado, organizou um abaixo-assinado na internet para protestar contra a ação violenta da polícia. Em menos de uma hora, o texto ganhou quase 1.000 assinaturas. Hoje, está com quase 6 mil. Se chegar à marca dos 7.500, Fernandes promete entregar o documento ao governador do Estado, Geraldo Alckmin. Fernandes diz que, mesmo que os policiais não sejam punidos, o importante é protestar. “Quero espalhar informação e conscientizar as pessoas”, afirma.

    Os milhares de manifestantes que ganharam as ruas do Brasil nas últimas semanas são parecidos com Fernandes. São jovens que descobriram na internet uma ferramenta poderosa para lançar e organizar protestos: contra a má qualidade dos serviços públicos, contra a corrupção, contra a violência da polícia e, sobretudo, contra tudo o que eles consideram abaixo de suas elevadas expectativas em relação à situação econômica e social do Brasil.

     Os jovens se tornaram mais exigentes por dois motivos. Primeiro, porque aumentou o nível de escolaridade. Eles estão mais instruídos. Segundo dados do INEP, o Instituto de Pesquisas do Ministério da Educação, entre os jovens de 18 e 24 anos, aqueles que cursavam o nível superior passaram de 15%, em 2002, para 29,9%, em 2011. O segundo motivo é a crise econômica. O crescimento brasileiro, que chegou a ser de 7% ao ano, caiu para menos de 1% no ano passado, arrastando com ele a possibilidade de melhoria rápida no padrão de vida dos brasileiros, sobretudo os mais jovens. O país não conseguiu cumprir a expectativa de realização pessoal criada entre os jovens urbanos.

    Há dois anos, na Espanha, o movimento Indignados promoveu uma série de protestos contra as altas taxas de desemprego no país – e aproveitou para pedir o fim da corrupção e melhorias na educação, saúde, cultura. Reivindicações muito parecidas com as do movimento americano Occupy Wall Street. “As multidões têm hoje instrumentos para se organizar e se reunir quase instantaneamente, pelas redes sociais como o Twitter e o Facebook”, afirma o sociólogo espanhol Manuel Castells, “O novo espaço público, formado pela interseção do universo virtual com o local, gerou um contrapoder: pela primeira vez na história, as forças de mudança reúnem força e condições de encurralar o poder."

    A força contestadora da juventude – no Brasil, na Turquia, nos Estados Unidos, na Espanha – é historicamente a força motriz de um processo de saudável renovação social. “Os jovens estão em busca de independência e esbarram nos limites da família, das instituições, da sociedade. É natural que tentem derrubá-los”, diz a educadora Ana Karina Brenner, pesquisadora do Observatório Jovem do Rio de Janeiro, da Universidade Federal Fluminense. No Brasil, organizaram-se clandestinamente e marcharam para derrubar a ditadura militar. Nos anos 1980, num mundo marcado pela competição entre capitalismo e socialismo, os sonhos da juventude se tornaram mais materialistas. Os jovens queriam exercer suas competências e ascender economicamente. Nos Estados Unidos, ficaram conhecidos como yuppies. No Brasil, queriam o direito de votar para presidente e mobilizaram a sociedade numa das maiores campanhas já realizadas no país, as Diretas Já.

    De lá para cá, o país tem vivido um longo ciclo de normalização política e econômica, que coincidiu com o surgimento da internet. A rede chegou para mudar radicalmente a forma como vivemos e nos relacionamos. A geração surgida dessas novas circunstâncias parece acreditar ser possível lutar pelo bem comum sem abrir mão de suas ambições individuais. “Por ter crescido num ambiente de estabilidade política e econômica, esse jovem está imbuído de um espírito público de melhorias”, afirma Drica Guzzi, coordenadora de projetos da Escola do Futuro da USP.

    Alfabetizados num mundo regido pela rapidez da internet, conectados globalmente, esses jovens mudaram a forma de fazer política e de engajar-se em causas sociais. Disseminam, pelo Twitter, dicas de como se portar numa passeata. “Eles têm ferramentas para se colocar como protagonistas e provocar microrrevoluções. Associadas, elas causam grandes mudanças.”

     “Eles são regidos por uma nova maneira de pensar e agir, influenciada pela tecnologia”, afirma o publicitário Rony Rodrigues, presidente da Box 1824, empresa de pesquisa especializada em tendências de consumo e comportamento jovem.

    A facilidade para disseminar campanhas pelas redes sociais também é motivo de preocupação. Em meio a tantas informações e apelos, será que os jovens conseguem se aprofundar nas discussões? O perigo é acabar encampando causas sem entender os reais interesses por trás do movimento.

    Ainda é cedo para saber se esse vazio do engajamento digital prevalecerá. Um dos levantamentos mais extensos já feitos sobre o assunto sugere perspectivas otimistas. A equipe liderada pelo educador americano Joseph Kahne analisou a participação virtual e real de 3 mil jovens americanos entre 15 e 25 anos. Os resultados sugerem que, entre aqueles que participavam de alguma atividade política ou social nas redes sociais, 96% também tomavam parte em formas tradicionais de engajamento, vinculadas a instituições. “O ativismo digital é uma maneira complementar de trabalhar por mudanças”, diz Kahne.

(Marcela Buscato e Fillipe Mauro, com Júlia Korte, Luís Antônio Giron e Mariana Tessitore. Época. 31/07/2013. Adaptado)

Existem no português brasileiro algumas expressões muito comuns, mas que, em determinados contextos comunicativos, oferecem dúvidas quanto ao seu emprego. Observe os enunciados 01 e 02 e marque a alternativa correta com relação aos elementos neles destacados.


Enunciado 01 - [...] “ dois anos, na Espanha, o movimento Indignados promoveu uma série de protestos contra as altas taxas de desemprego no país – e aproveitou para pedir o fim da corrupção e melhorias na educação, saúde, cultura. Reivindicações muito parecidas com as do movimento americano Occupy Wall Street.”

Enunciado 02 - [...] “Para nós, há trinta anos atrás, Raízes do Brasil trouxe elementos como estes, fundamentando uma reflexão que nos foi da maior importância” (trecho do Prefácio de Raízes do Brasil, publicado em 1936).

Alternativas
Comentários
  • GABARITO OFERTADO PELA BANCA - C

    Infelizmente comete um grave pecado ao admitir a assertiva.

    I) “ dois anos, na Espanha (...)

    O verbo haver está sendo utilizado no sentido de tempo decorrido.

    https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/a-ou-ha.htm

    II) A expressão há dez anos, sem o advérbio atrás, é a forma mais correta

    Na expressão há dez anos atrás há uma repetição de ideias desnecessária para a transmissão do conteúdo da frase, uma vez que o verbo haver, quando conjugado como verbo impessoal, já indica tempo decorrido. Assim, é desnecessária a utilização do advérbio atrás para indicar o passado.

    Fonte: Professora Flávia Neves.

    Peço que confiram o postagem dela : https://duvidas.dicio.com.br/ha-dez-anos-ou-ha-dez-anos-atras/

  • essa banca ficou louca

  • Que barbaridade...desaprendendo português!!! Erro grotesco da banca no enunciado 2.

    A alternativa A está correta, conforme a gramática.

  • Boa noite!

    Gostaria de expressar meu descontentamento com Qconcursos - acredito que seja de muitos outros estudantes.

    Os responsáveis que anexam as questões nesta plataforma deveriam filtrar melhor o que se coloca aqui, pois, a grande maioria que faz uso do Qconcursos, são leigos em muitos tópicos de determinadas matérias e, através disso acaba gerando um desconforto ao que tange a questão aqui anexada.

    Minha opinião!

  • Ainda bem que corrigiram o gabarito. Correto é a letra "A".

  • ""....Só para complementar: o trecho acima destacado da alternativa "e", na verdade, refere-se ao conceito de pretérito perfeito composto, o qual é formado pelo por um verbo auxiliar no presente e um verbo principal no particípio. Exemplos: tenho falado.

  • Gabarito da banca: letra C - Gabarito sugerido: ANULADA

    a) Esta foi a alternativa apontada como correta no gabarito preliminar. Já no gabarito definitivo, houve a mudança para a letra C. Acontece que a letra A está correta. No enunciado 01, temos o verbo haver com o sentido de temo decorrido. O verbo fazer também pode apresentar esse mesmo sentido. Nesses casos, ambos os verbos são impessoais e não se flexionam no plural. Exemplos:

    Há dois anos que não o vejo → Faz dois anos que não o vejo. 

    Já o enunciado 02 apresenta uma estrutura que é condenada pela gramática tradicional.  Como a forma verbal "há" já indica tempo decorrido, a repetição dessa ideia por meio do advérbio "atrás" acarretaria uma redundânciaO problema é que a forma "há dois anos atrás" é muito comum na língua falada e a gramática nada mais é do que as regras da língua. Os verdadeiros "donos" da língua são os seus falantes. Não são os gramáticos que ditam as regras. O papel dos gramáticos é observar o funcionamento da língua (pelos falantes) e, baseados nisso, escreverem as regras (que eles visualizaram). Dessa forma, já há gramáticos que defendem o uso de "há X anos atrás" como certo. Mas isso ainda não é algo unânime. Assim, a meu ver, a letra A está certa. 

    b) ERRADO – Não é marca de preposição? Trata-se de um verbo impessoal que indica tempo decorrido, e não de preposição. A letra B já está errada

    Já no enunciado 02, realmente temos o verbo haver, mas com o sentido de tempo decorrido, pois esse verbo pode adquirir outros significados também.  

    c) CERTO - Alternativa apontada como correta no gabarito definitivo. Vejam que a parte inicial da alternativa é idêntica ao início da letra A. Realmente, no enunciado 01, a expressão destacada ("há") foi usada como forma do verbo haver e poderia ser substituída por faz. Já vimos isso. Já no enunciado 02, o advérbio "atrás" foi realmente usado como um reforço expressivo. Veja que a alternativa não adentra o mérito de isso estar certo ou errado segundo a gramática tradicional. Ela apenas disse que "atrás" foi usado como recurso de ênfase (e foi mesmo) porque "há" é um monossílabo fraco (e é mesmo). Inclusive, esse tipo de construção é comum em músicas ("eu nasci há 10 mil anos atrás....") e também na literatura. Então, realmente, a letra C também está correta.  

    d) ERRADO - A expressão destacada no enunciado 01 tem o sentido de tempo decorrido e equivale a "faz". Não tem o sentido da preposição "em". A letra D já está errada. A segunda parte da assertiva, a meu ver, está errada também, pois o emprego do advérbio "atrás" acarreta uma repetição da ideia de tempo passado.

    e) ERRADO - No enunciado 01, a expressão destacada indica algo que aconteceu no passado, indica que o evento acontece 2 anos atrás. Para ações que começaram no passado e se prolongam no presente, costumamos empregar o pretérito perfeito composto do modo indicativo.