SóProvas


ID
4959694
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vitória - ES
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Caso de secretária


     Foi trombudo para o escritório. Era dia de seu aniversário, e a esposa nem sequer o abraçara, não fizera a mínima alusão à data. As crianças também tinham se esquecido. Então era assim que a família o tratava? Ele que vivia para os seus, que se arrebentava de trabalhar, não merecer um beijo, uma palavra ao menos!

     Mas, no escritório, havia flores à sua espera, sobre a mesa. Havia o sorriso e o abraço da secretária, que poderia muito bem ter ignorado o aniversário, e entretanto o lembrara. Era mais do que uma auxiliar, atenta, experimentada e eficiente, de pé-de-boi da firma, como até então a considerara; era um coração amigo.

     Passada a surpresa, sentiu-se ainda mais borocochô: o carinho da secretária não curava, abria mais a ferida. Pois então uma estranha se lembrava dele com tais requintes, e a mulher e os filhos, nada? Baixou a cabeça, ficou rodando o lápis entre os dedos, sem gosto para viver.

     Durante o dia, a secretária redobrou de atenções. Parecia querer consolá-lo, como se medisse toda a sua solidão moral, o seu abandono. Sorria, tinha palavras amáveis, e o ditado da correspondência foi entremeado de suaves brincadeiras da parte dela.

     — O senhor vai comemorar em casa ou numa boate? Engasgado, confessou-lhe que em parte nenhuma. Fazer anos é uma droga, ninguém gostava dele neste mundo, iria rodar por aí à noite, solitário, como o lobo da estepe.

     — Se o senhor quisesse, podíamos jantar juntos, insinuou ela, discretamente.

     E não é que podiam mesmo? Em vez de passar uma noite besta, ressentida — o pessoal lá em casa pouco está me ligando —, teria horas amenas, em companhia de uma mulher que — reparava agora — era bem bonita.

     Daí por diante o trabalho foi nervoso, nunca mais que se fechava o escritório. Teve vontade de mandar todos embora, para que todos comemorassem o seu aniversário, ele principalmente. Conteve-se, no prazer ansioso da espera.

     — Onde você prefere ir? perguntou, ao saírem.

     — Se não se importa, vamos passar primeiro em meu apartamento. Preciso trocar de roupa.

     Ótimo, pensou ele; faz-se a inspeção prévia do terreno, e, quem sabe?

     — Mas antes quero um drinque, para animar — ela retificou.

     Foram ao drinque, ele recuperou não só a alegria de viver e de fazer anos, como começou a fazê-los pelo avesso, remoçando. Saiu bem mais jovem do bar, e pegou-lhe do braço.

    No apartamento, ela apontou-lhe o banheiro e disse-lhe que o usasse sem cerimônia. Dentro de quinze minutos ele poderia entrar no quarto, não precisava bater — e o sorriso dela, dizendo isto, era uma promessa de felicidade.

     Ele nem percebeu ao certo se estava se arrumando ou se desarrumando, de tal modo os quinze minutos se atropelaram, querendo virar quinze segundos, no calor escaldante do banheiro e da situação. Liberto da roupa incômoda, abriu a porta do quarto. Lá dentro, sua mulher e seus filhinhos, em coro com a secretária, esperavam-no atacando "Parabéns para você".

    (ANDRADE, C. Drummond de. Cadeira de Balanço. 11 ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1978, p. 11-12.)

Sobre a regência do verbo “pegar” no período: “Saiu bem mais jovem do bar, e pegou-lhe do braço” (14º §), está correto afirmar que se classifica como verbo:

Alternativas
Comentários
  • Se "do braço" é o objeto indireto, o que é o "lhe"?

  • O LHE SERIA POSSESSIVO NESSE CONTEXTO?

  • eu achei que do braço era adjunto.

    quem pega pega algo( OD); de alguem(OI); do braço ai nao eh nenhum dos dois.

  • Sobre o "lhe "

    Quando possessivo = adjunto adnominal.

    Pegou o seu braço.

  • Assertiva D

    “pegar” no período: “Saiu bem mais jovem do bar, e pegou-lhe do braço” (14º §), (..) transitivo indireto: objeto indireto “do braço

  • LHE=POSSE--->DELA/DELA/SEU/SUA----ADJUNTO ADNOMINAL

  • Em consulta ao Dicionário Prático de Regência verbal de Celso Pedro Luft, p.396, o verbo "pegar", na acepção trazida em tela, é transitivo indireto e rege as preposições "em" ou "de". Portanto, "do braço" é complemento verbal indireto (objeto indireto) do verbo em apreço e o pronome "lhe", adjunto adnominal.

    Letra D

  • Sr. Shelking

    Segui esse raciocínio.

  • Pegou-lhe do braço.

    Pegou SEU braço. 

    O lhe é adjunto adnominal, pois tem valor de posse.

    Já o verbo "pegar", no sentido de "agarrar" ou "segurar", pode ser usado com transitivo direto ou indireto. Quando indireto, poderá ser construído com complementos regidos da preposição em ou de, como foi o caso da frase utilizada na questão.

    Assim, seria possível dizer tanto "Pegou o livro e saiu" como "Pegou do livro e saiu".

    Avaliando o trecho, percebemos que nele optou-se pela construção que pouco usamos atualmente: "Pegou-lhe do braço", que produz o mesmo sentido de "Segurou seu braço". Talvez a escolha por essa regência menos comum do verbo "pegar" tenha ocorrido pelo fato de o texto fazer uso de linguagem literária e de ser um texto relativamente antigo, datado de 1978. 

    Em resumo, podemos dizer, então, que LHE é adjunto adnominal referente ao substantivo braço (SEU braço) e que DO BRAÇO é objeto indireto do verbo "pegar", utilizado na acepção de segurar, agarrar.

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  • Recomendo esse texto aos homens.

    Nesse trecho antes de terminar o texto saquei a maldade da secretária:

    No apartamento, ela apontou-lhe o banheiro e disse-lhe que o usasse sem cerimônia. Dentro de quinze minutos ele poderia entrar no quarto, não precisava bater — e o sorriso dela, dizendo isto, era uma promessa de felicidade.