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ID
5256676
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
PM-TO
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1A2-II

   Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, a beira de uma poça: a fome apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comida. A cachorra Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disto. Agora, enquanto parava, dirigia as pupilas brilhantes aos objetos familiares, estranhava não ver sobre o baú de folha a gaiola pequena onde a ave se equilibrava mal. Fabiano também às vezes sentia falta dele, mas logo a recordação chegava. Tinha andado a procurar raízes, à toa: o resto da farinha acabara, não se ouvia um berro de rês perdida na caatinga. Sinha Vitória, queimando o assento no chão, as mãos cruzadas segurando os joelhos ossudos, pensava em acontecimentos antigos que não se relacionavam: festas de casamento, vaquejadas, novenas, tudo numa confusão. Despertara-a um grito áspero, vira de perto a realidade e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula. Resolvera de supetão aproveitá-lo como alimento e justificara-se declarando a si mesma que ele era mudo e inútil. Não podia deixar de ser mudo. Ordinariamente a família falava pouco. E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas. O louro aboiava, tangendo um gado inexistente, e latia arremedando a cachorra.
    As manchas dos juazeiros tornaram a aparecer, Fabiano aligeirou o passo, esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos. As alpercatas dele estavam gastas nos saltos, e a embira tinha-lhe aberto entre os dedos rachaduras muito dolorosas. Os calcanhares, duros como cascos, gretavam-se e sangravam.
   Num cotovelo do caminho, avistou um canto de cerca, encheu-o a esperança de achar comida, sentiu desejo de cantar. A voz saiu-lhe rouca, medonha. Calou-se para não estragar a força.
   Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira, chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra. 

Graciliano Ramos. Vidas secas. 107.ª edição (com adaptações).

No texto 1A2-II, o segmento “como cascos”, em “Os calcanhares, duros como cascos, gretavam-se e sangravam” (segundo parágrafo), expressa uma

Alternativas
Comentários
  • Gab: B

    como cascos, "como" da ideia de comparação.

  • como é uma conjunção subordinada adverbial comparativa

  • Gab: B como (comparação) PMAL 2021, pertenceremos!
  • Se a cruz lhe pesa

    Não é para se entregar

    Mas pra se aprender a amar

    Como alguém que não desiste

    A dor faz parte do cultivo desta fé

    Pois só sabe o que se quer

    Quem luta para conseguir ser feliz

  • Essa foi recente no certame da PMTO acertei mas não foi suficiente rumo a pmmg
  • "como"  adverbial comparativa

  • LETRA B

    Neste contexto a conjunção adverbial está na forma comparativa, fazendo relação entra calcanhares e cascos.

  • A questão avalia o valor da conjunção "como" no trecho destacado. O narrador afirma que os calcanhares do personagem Fabiano eram duros como cascos. O termo "cascos" serve como um elemento de comparação e de materialidade para os calcanhares, a parte do corpo citada no trecho. A alternativa correta, portanto, é a letra B.

    A) causa
    Incorreto, as principais conjunções que expressam causalidade são "porque", "visto que", "uma vez que", "posto que", etc. A conjunção como também pode expressar uma relação de causalidade, no entanto, ela deve ser empregada com o sentido de "porque". Se substituirmos o "como" pelo "porque" nesse trecho, vemos que o seu sentido não permanece o mesmo: "Os calcanhares, duros porque cascos, gretavam-se e sangravam".

    B) comparação.
    Correto, como explicado acima.

    C) consequência.
    Incorreto, as principais conjunções que expressam uma relação de consequência são "que", " de forma que", "de maneira que", etc.

    D) conclusão.
    Incorreto, as principais conjunções conclusivas são "logo", "portanto", "por conseguinte", "por isso", "assim", etc.

    E) concessão.
    Incorreto, para expressar uma relação de contrariedade, as principais conjunções são: "embora", "conquanto", "ainda que", "mesmo que", "posto que", "apesar de que", entre outras.

    Gabarito da Professora: Letra B.
  • Conjunções comparativas

    iniciam uma oração que encerra o segundo membro de uma comparação, de um confronto)

    EXEMPLOS--------------------->: que, do que ,depois de mais, menos, maior, menor, melhor e pior , qual (depois de tal ), quanto (depois de tanto ), como, assim como, bem como, como se, que nem.

    ESTUDAGUERREIRO

    FÉNOPAI QUE SUA APROVAÇÃO SAI