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ID
5256679
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
PM-TO
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1A2-II

   Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, a beira de uma poça: a fome apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comida. A cachorra Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disto. Agora, enquanto parava, dirigia as pupilas brilhantes aos objetos familiares, estranhava não ver sobre o baú de folha a gaiola pequena onde a ave se equilibrava mal. Fabiano também às vezes sentia falta dele, mas logo a recordação chegava. Tinha andado a procurar raízes, à toa: o resto da farinha acabara, não se ouvia um berro de rês perdida na caatinga. Sinha Vitória, queimando o assento no chão, as mãos cruzadas segurando os joelhos ossudos, pensava em acontecimentos antigos que não se relacionavam: festas de casamento, vaquejadas, novenas, tudo numa confusão. Despertara-a um grito áspero, vira de perto a realidade e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula. Resolvera de supetão aproveitá-lo como alimento e justificara-se declarando a si mesma que ele era mudo e inútil. Não podia deixar de ser mudo. Ordinariamente a família falava pouco. E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas. O louro aboiava, tangendo um gado inexistente, e latia arremedando a cachorra.
    As manchas dos juazeiros tornaram a aparecer, Fabiano aligeirou o passo, esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos. As alpercatas dele estavam gastas nos saltos, e a embira tinha-lhe aberto entre os dedos rachaduras muito dolorosas. Os calcanhares, duros como cascos, gretavam-se e sangravam.
   Num cotovelo do caminho, avistou um canto de cerca, encheu-o a esperança de achar comida, sentiu desejo de cantar. A voz saiu-lhe rouca, medonha. Calou-se para não estragar a força.
   Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira, chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra. 

Graciliano Ramos. Vidas secas. 107.ª edição (com adaptações).

No texto 1A2-II, a forma pronominal “o”, em “encheu-o” (terceiro parágrafo), retoma o termo

Alternativas
Comentários
  • Gab: A

    encheu-o a esperança de achar comida.

    quem se encheu de esperança?

    fabiano

  • @pmminas #otavio rumo ao CFSD 2022

    LETRA - A

    encheu-o a esperança de achar comida? FABIANO.

  • GAB: A

    PMAL 2021

  • PM-AL 2021.

    VIBRA!!

  • Pena que as provas da PMAL e PMMG serão realizadas no mesmo dia!

  • Confesso que deu pra matar a questão logo pelas alternativas, um erro, nem sempre vem assim.

  • Essa é basicamente uma questão sobre coesão referencial, na qual o enunciado pedia que o candidato identificasse a que elemento do texto o pronome oblíquo “o" remetia.

     

    Sendo assim, percebe-se que o terceiro parágrafo já começa falando de algo ou alguém que não é apresentado claramente ali. Assim, ao retornar ao parágrafo anterior, percebemos que a narrativa está toda focada em Fabiano e reserva-se a nos contar os sentimentos desse personagem na situação em que ele se encontra, lutando contra a fome e contra o cansaço ao sair de um território penoso e encontrar sinais dos juazeiros (que é uma árvore frondosa que gera bastante sombra). Assim, sabendo que o terceiro parágrafo continua tratando do mesmo personagem de quem se tratava no segundo, percebemos que o pronome “o" em “encheu-o a esperança de achar comida" refere-se diretamente a Fabiano. O trecho poderia até mesmo ser reescrita da seguinte maneira: “a esperança de achar comida encheu Fabiano". Mas não vamos cometer a heresia de mexer em um texto de Graciliano Ramos.

     

    Gabarito do Professor: Letra A.

  • Gabarito A ) Encheu-o a esperança de achar comida. Quem tinha esperança de achar comida? Fabiano.

  • Só é possível encher de esperança alguém, porquanto se trata de sentimento, algo subjetivo.