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ID
5302366
Banca
COMPERVE
Órgão
UFRN
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Para responder à questão desta prova, considere o texto abaixo.

Das vezes em que fomos embora
Ana Clara Dantas
Fui embora poucas vezes na vida. A mais dramática foi mesmo quando saí de casa. Não houve briga ou desentendimento. Eu apenas senti que não cabia mais numa cidade pequena. Vim de Caicó para Natal, onde ainda estou e não tenho vontade de sair. Geograficamente falando, minha maior partida. Pessoalmente, o encontro com o meu lugar no mundo.
Hoje estou mais sujeita a partidas alheias. Amigos que vão pro Rio, São Paulo, Santa Catarina, Japão. E, a cada ida, a cidade fica maior, pois o que é físico torna-se coisa de poeta: saudade. E, pra quem não sabe versar sobre ela, resta uma lágrima envergonhada.
Penso que ir embora é ter certeza de que pessoas, sentimentos e até objetos ocupam espaço. Porque até você sair de vez, seja de onde for, tudo é banal. Um almoço com os pais, uma saída com os amigos e a saudade besta do que se tem ao alcance. Depois, é saber que nada disso cabe na mala ou num feriadão.
Sorte que a gente se espalha e a vida cuida de preencher os espaços. Já nem sei o quanto de vida cabe em um dia, em um mês, e neste ano que tanto nos tirou. Nos arrancou convívio, saúde, dinheiro, sossego, gente. E nos devolveu tudo em espanto a cada reencontro encabulado. Vejo o que o tempo fez em cada um desde que fomos embora, saímos, deixamos alguém. Estamos mesmo correndo.
Meio quilo de palavras ditas aos que me fazem tanta falta é tudo o que preciso. Quem dera elas viessem assim, no peso. Ou sob encomenda. Talvez até por aplicativo. No entanto, as palavras fogem. Pior, se amontoam e nada falam a ninguém, apesar do barulho. Limito-me a dizer, então, que tenho saudades imensas.
E saudades precisam ser ditas. Mais, precisam ser ouvidas. E isso há de caber até na bagagem de mão.

Disponível em: https://www.saibamais.jor.br/das-vezes-em-que-fomos-embora/. Acesso em: 3 mar. 2021. [Adaptado] 

Para responder à questão, considere o parágrafo transcrito abaixo.

Fui embora poucas vezes na vida. A mais dramática foi mesmo quando saí de casa. Não houve briga ou desentendimento. Eu apenas senti que não cabia mais numa cidade pequena. Vim de Caicó para Natal, onde ainda estou e não tenho vontade de sair. Geograficamente falando, minha maior partida. Pessoalmente, o encontro com o meu lugar no mundo.

A pontuação empregada no parágrafo contribui para imprimir-lhe um tom

Alternativas
Comentários
  • Alguém pode comentar. Obg.

  • Gabarito D - Emotivo, reforçado pela ausência de elementos coesivos entre os períodos.

    As frases são, de certa maneira, independentes, têm um sentido e sentimento completo. A fala prossegue de maneira estanque, com pausas (que induzem à reflexão). Não há elementos coesivos, que poderiam gerar fluxo para a leitura e ritmo. Tem um tom melancólico.

  • Sei la, achei nada emotivo nisso

  • Imaginem um idoso contando essa história.

    Cada "ponto" nos faz refletir, como se a pessoa desse uma pausa na fala e ela mesmo lembrasse do momento. Atribui emoção e reflexão ao texto.

  • A questão requer conhecimento acerca do emprego dos sinais de pontuação e mecanismos de coesão (referencial e sequencial).


    Coesão – responde pela perfeita articulação das ideias, o que se consegue através do encadeamento semântico (relativo ao significado, ao sentido) e do encadeamento sintático (mecanismos que unem uma oração à outra: coesão é, portanto, a conexão entre as partes do texto).

    Coesão sequencial – é obtida por meio de conectores (preposições, pronomes relativos, conjunções) que organizam as ideias de um texto.

    Coesão referencial – é o processo pelo qual se retoma ou antecipa um termo no texto. Pode se manifestar através de dois mecanismos.

    a) catáfora – quando o item de referência se refere a algo ainda não expresso no texto. Esse termo de referência é chamado catafórico.

    b) anáfora – retoma um termo ou ato já expresso no texto; já foi citado. Esse termo de referência é chamado anafórico.

    Alternativa (A) incorreta - Dizemos que há um tom emotivo porque o parágrafo todo se centra no emissor, ou seja, há um predomínio dum “eu enunciador". A mensagem coloca em evidência o emissor da mensagem e visa a uma expressão direta da atitude do falante em relação àquilo de se está falando, mostrando suas impressões pessoais, e a pontuação nos faz perceber que cada período carrega um sentimento desse emissor no que tange ao encontro consigo mesmo. Porém, apenas o quinto período apresenta um elemento coesivo - o pronome relativo “onde" referindo-se ao substantivo locativo “Natal" - os demais não apresentam elementos coesivos que deem sequência entre eles.

    Alternativa (B) incorreta - De acordo com a explicação acima, o parágrafo não apresenta um tom neutro.

    Alternativa (C) incorreta - De acordo com a explicação acima, o parágrafo não apresenta um tom neutro.

    Alternativa (D) correta - Dizemos que há um tom emotivo porque o parágrafo todo se centra no emissor, ou seja, há um predomínio dum “eu enunciador". A mensagem coloca em evidência o emissor da mensagem e visa a uma expressão direta da atitude do falante em relação àquilo de se está falando, mostrando suas impressões pessoais, e a pontuação nos faz perceber que cada período carrega um sentimento desse emissor no que tange ao encontro consigo mesmo.


    Somente no quinto período que há um elemento coesivo - pronome relativo “onde" -, os demais são reforçados pela ausência de elementos coesivos, mas isso não impediu que cada um tivesse um sentido completo.


    Gabarito da Professora: Letra D.