SóProvas


ID
5344219
Banca
IDIB
Órgão
Prefeitura de Verdejante - PE
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO I

Felicidade nas telas


    Uma amiga inventou um jeito de curtir a fossa. Depois de um dia de trabalho, de volta para casa, ela se enfia na cama, abre o laptop e entra no Facebook. Não procura amigos e conhecidos para aliviar o clima solitário e deprê do fim do dia. Essa talvez tenha sido a intenção nas primeiras vezes, mas, hoje, experiência feita, ela entra no facebook, à noite, como disse, para curtir sua fossa. De que forma?

    Visitando as páginas de amigos e conhecidos, ela descobre que todos estão muito bem: namorando (finalmente), prestes a casar, renovando o apartamento que sempre desejaram remodelar, comprando a casa de praia que tanto queriam, conseguindo a bolsa para passar dois anos no exterior, sendo promovidos no emprego ou encontrando um novo job fantasticamente interessante. E todos vivem essas bem-aventuranças circundados de amigos maravilhosos, afetuosos, alegres, festeiros e sempre presentes, como aparece nas fotografias postadas.

    Minha amiga, em suma, sente-se excluída da felicidade geral da nação facebookiana: só ela não foi promovida, não encontrou um namorado fabuloso, não mudou de casa, não ganhou nesta rodada da loto. É mesmo um bom jeito de aprofundar e curtir a fossa: a sensação de um privilégio negativo, pelo qual nós seríamos os únicos a sofrer enquanto o resto do mundo se diverte.

    Numa dessas noites de fossa e curtição, ao voltar para a sua própria página no Facebook, minha amiga deu-se conta de que a página dela não era diferente das outras. Ou seja, quem a visitasse acharia que ela estava numa época de grandes realizações e contentamentos. Ela comentou: “As fotos das minhas férias, por exemplo, esbanjam alegria; não passaram por nenhum Photoshop, acontece que são três ou quatro fotos ‘felizes’ entre as mais de quinhentas que eu tirei”.

    Nesses dias, acabei de ler Perché Siamo Infelici [Porque somos infelizes], organizado por P. Crepet (Einaudi). São textos de seis psiquiatras e psicanalistas (e um geneticista) tentando nos explicar “por que somos infelizes” e, em muitos casos, porque não deveríamos nos queixar disso. Por exemplo, a infelicidade é uma das motivações essenciais; sem ela nos empurrando, provavelmente ficaríamos parados no tempo, no espaço e na vida. Ou ainda: a infelicidade é indissociável da razão e da memória, pois a razão nos repete que a significação de nossa existência só pode ser ilusória e a memória não para de fazer comparações desvantajosas entre o que alcançamos e o que desejávamos inicialmente.

    Não faltam no livro trivialidades moralistas sobre o caráter insaciável de nosso desejo nem evocações saudosistas do sossego de algum passado rural. Em matéria de infelicidade, é sempre fácil (e um pouco tolo) culpar a sociedade de consumo e sua propaganda, que viveriam à custa de nossa insatisfação. Anotei na margem: mas quem disse que a infelicidade é a mesma coisa que a insatisfação? E se a infelicidade fosse, ao contrário, o efeito de uma saciedade muito grande, capaz de estancar nosso desejo, mais parecida com o tédio de viver do que com a falta de gratificação? Você é infeliz porque ainda não conseguiu tudo o que queria ou porque parou de querer e isso torna a vida muito chata? Seja como for, lendo o livro e me lembrando da fossa de minha amiga no Facebook, ocorreu-me que talvez uma das fontes da infelicidade seja a necessidade de parecermos felizes. Por que precisaríamos mostrar ao mundo uma cara (ou uma careta) de felicidade?

    1. A felicidade dá status, assim como a riqueza. Por isso, os sinais aparentes de felicidade podem ser mais relevantes do que a íntima sensação de bem-estar;

    2. além disso, somos cronicamente dependentes do olhar dos outros. Consequência: para ter certeza de que sou feliz, preciso constatar que os outros enxergam a minha felicidade. Nada grave, mas isso leva a algo mais chato: a prova da minha felicidade é a inveja dos outros.

    O resultado dessa necessidade de parecermos felizes é que a felicidade é este paradoxo: uma grande impostura da qual receamos não fazer parte e que, por isso mesmo, não conseguimos denunciar.


CALLIGARIS, Contardo. Todos os reis estão nus. São Paulo: Três Estrelas, 2014

Assinale “C” ou “E”, conforme estejam, respectivamente, certas ou erradas, as seguintes afirmativas.


( ) Em “E todos vivem essas bem-aventuranças circundados de amigos maravilhosos, afetuosos, alegres, festeiros e sempre presentes, como aparece nas fotografias postadas.”, os vocábulos destacados possuem, respectivamente, a seguinte divisão silábica: a – fe – tu – o – sos e fes – tei – ros.

( ) No trecho “Numa dessas noites de fossa e curtição...”, o vocábulo destacado possui o mesmo número de letras e fonemas.

( ) Na oração “...pois a razão nos repete que a significação de nossa existência...”, o termo destacado possui um encontro consonantal (-gn) que é inseparável em uma divisão silábica.

( ) No trecho “...porque não deveríamos nos queixar disso...”, o encontro vocálico (-ei) é classificado como um ditongo crescente.


Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta obtida no sentido de cima para baixo.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito na alternativa B

    Solicita-se julgamento das assertivas abaixo transcritas:

    (C) Em “E todos vivem essas bem-aventuranças circundados de amigos maravilhosos, afetuosos, alegres, festeiros e sempre presentes, como aparece nas fotografias postadas.”, os vocábulos destacados possuem, respectivamente, a seguinte divisão silábica: a – fe – tu – o – sos e fes – tei – ros.

    A separação silábica dos termos está corretamente indicada na assertiva.

    (E) No trecho “Numa dessas noites de fossa e curtição...”, o vocábulo destacado possui o mesmo número de letras e fonemas.

    O termo indicado possui 5 letras e apenas 4 fonemas. Há no termo o dígrafo consonantal "ss".

    (E) Na oração “...pois a razão nos repete que a significação de nossa existência...”, o termo destacado possui um encontro consonantal (-gn) que é inseparável em uma divisão silábica.

    O encontro consonantal indicado é imperfeito, sendo separado na divisão silábica: sig-ni-fi-ca-ção.

    (E) No trecho “...porque não deveríamos nos queixar disso...”, o encontro vocálico (-ei) é classificado como um ditongo crescente.

    O encontro vocálico é formado de vogal + semivogal, caracterizando ditongo decrescente.

  • Gab. B

    ( C ) Em “E todos vivem essas bem-aventuranças circundados de amigos maravilhosos, afetuosos, alegres, festeiros e sempre presentes, como aparece nas fotografias postadas.”, os vocábulos destacados possuem, respectivamente, a seguinte divisão silábica: a – fe – tu – o – sos e fes – tei – ros.

    _________________________________________________________________________________________________

    ( E ) No trecho “Numa dessas noites de fossa e curtição...”, o vocábulo destacado possui o mesmo número de letras e fonemas.

    • Letras: 5 (fossa)
    • Fonemas: 4 (foça)

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    ( E ) Na oração “...pois a razão nos repete que a significação de nossa existência...”, o termo destacado possui um encontro consonantal (-gn) que é inseparável em uma divisão silábica.

    • Separação de sílaba: sig - ni - fi - ca - ção

    _________________________________________________________________________________________________

    ( E ) No trecho “...porque não deveríamos nos queixar disso...”, o encontro vocálico (-ei) é classificado como um ditongo crescente.

    • ditongo decrescente: (e) vogal + (i) semivogal

  • Afetuosos = A - fe-tu - o - sos

    Festeiro = Fes - tei - ro

    Fossa

    Letras - F - o - s - s - a = 5 letras

    Fonemas - F - o - ç - a = 4

    Significação = Sig-ni-fi-ca-ção

    Queixar = (E) é uma semivogal e (I) é uma Vogal

    Letra B

  • QUEIXAR:

    Para saber se é crescente ou não, busque ler em voz alta (mas não na prova kkk)

    Repare, que ao lermos quEixar, enfatizando o E, há um decrescimento na tonalidade da fala. quEiiii...

    Agora , se enfatizarmos o I: queIxar... percebemos que não é dessa forma que a ouvimos recorrentemente.Meio que soa estranho!

    Foi assim que conseguir resolver kkkkkk

  • A questão requer conhecimento acerca de fonética (encontros vocálicos: ditongo, tritongo e hiato, encontro consonantal e dígrafo).


    Ditongo - encontro de duas vogais na mesma sílaba. Exemplo: água (á-gua).


    Tritongo - encontro de três vogais na mesma sílaba. Exemplo: saguão (sa-guão).

    Hiato - encontro de duas vogais em sílabas diferentes. Exemplo: sde (sa-ú-de).

    Encontro consonantal - encontro de duas consoantes na mesma sílaba ou em sílabas diferentes. Exemplos: floco; bravo; martela (mar-te-lo).

    Dígrafo - duas letras que representam um só fonema (som). Exemplos: guerra, coelho, campo.

    ( C ) Em “E todos vivem essas bem-aventuranças circundados de amigos maravilhosos, afetuosos, alegres, festeiros e sempre presentes, como aparece nas fotografias postadas.", os vocábulos destacados possuem, respectivamente, a seguinte divisão silábica: a – fe – tu – o – sos e fes – tei – ros. Certa. Há hiato em “afetuosos" e ditongo em “festeiros".



    ( E ) No trecho “Numa dessas noites de fossa e curtição...", o vocábulo destacado possui o mesmo número de letras e fonemas. Errada. Possui 5 letras e 4 fonemas, pois há o dígrafo “ss".



    ( E ) Na oração “...pois a razão nos repete que a significação de nossa existência...", o termo destacado possui um encontro consonantal (-gn) que é inseparável em uma divisão silábica. (sig-ni-fi-ca-ção) Errada. Há o encontro consonantal “gn", no entanto em sílabas diferentes. A isso é chamado encontro consonantal atípico: quando as consoantes se separam.



    ( E ) No trecho “...porque não deveríamos nos queixar disso...", o encontro vocálico (-ei) é classificado como um ditongo crescente. Errada. É um ditongo decrescente formado por vogal + semivogal.



    Sendo assim, a sequência correta obtida no sentido de cima para baixo é C, E, E, E.



    Gabarito da professora: Letra B.