SóProvas


ID
5365909
Banca
CEV-URCA
Órgão
Prefeitura de Crato - CE
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O caso da borboleta


"Ninguém nasce borboleta", pensou Breno. Depois disse baixinho: "A borboleta é um presente do tempo". Lá fora, ela, a borboleta, não pensava nada disso. Ocupava-se em voar pela noite de árvore em árvore. Era azul e sem dúvida um dia havia sido lagarta. Breno tem nove anos e é uma criança, a lagarta é como se fosse uma borboleta criança, mas quando Breno for adulto vira homem e não borboleta, e homens não voam. Sonho de Breno é voar, seja como piloto de avião ou jogador de futebol. Como borboleta, Breno nunca chegou a pensar, tem nove anos, mas sabe que é menino e não lagarta. A avó de Breno sempre diz: "Lagarta queima o dedinho e come planta, mas vira borboleta. Ninguém nasce borboleta". Agora o menino pensa e olha a borboleta na janela. "De manhã vi um monte de buraquinhos nas folhas"; explicaram a ele: "É coisa de lagarta". Os buracos nas acerolas e goiabas eram coisa dos passarinhos. Isso ninguém precisou explicar, porque ele sempre viu os passarinhos indo bicar as frutas, menos o beija-flor, que só ia bicar a água no copo de flor pendurado na goiabeira. "O que será que borboleta come? Será que beija-flor só bebe água? "Pensou muito nisso e sentiu fome. Saiu em direção à cozinha.


A avó cochilava de frente para a novela das sete. Justamente aquela durante a qual ela mais gostava de cochilar. Breno sabia disso e não quis acordá-la pra pedir comida. Na cozinha a janela estava aberta. Era uma janela enorme e dava de frente pro quintal da casa. Algumas vezes Breno ouviu gente falando como era engraçado aquela janela na cozinha. A avó sempre explicava que, antes de cozinha, ali havia sido quarto, e por isso a tal janela. Breno achava normal. Desde que tem lembrança, ali é cozinha e tem janela e ele adora. Enquanto sua avó faz o almoço, ele olha para o mundo. O azar é daqueles que não têm janela na cozinha. Breno decidiu que a melhor coisa pra comer naquele momento era biscoito. "Tomara que tenha. Se não tiver, seria muito bom comer uns ovos."Sabe como fazer: é só acender o fogo apertando o botão, colocar a frigideira em cima do fogo, quebrar o ovo em cima da frigideira e ficar mexendo com o garfo. Agora que já tem nove anos nem precisa mais de cadeira pra mexer no fogão. Abre a geladeira e tem três ovos. Fecha a geladeira e vai procurar o biscoito. Entra uma borboleta na cozinha. É maior e mais bonita que a outra. Parece desesperada, bate nas paredes uma a uma até ficar presa pela porta encostada. Breno vai até a porta e a puxa para que saia, de lá voa direto pro outro lado da cozinha, onde ficam a janela e o fogão. Breno acompanha com o olhar e espera que consiga sair logo pela janela. Em cima do fogão tem uma panela destampada cheia de óleo (no almoço teve batata frita), a borboleta voa na direção do fogão e, assim que chega em cima da panela, cai no óleo como se tivesse sido atraída pra lá igual quando Breno atrai moedas com seu ímã.


Ele correu pra ver a borboleta, ela nadava pelo óleo lentamente. Quis tirá-la de lá, mas nunca colocou a mão no óleo antes. Só queima se estiver de fogo aceso, tinha quase certeza. Correu até o papel-toalha e tirou a borboleta de dentro da panela. Olhou-a com atenção: toda coberta de óleo. Todas as partes do seu corpo de inseto. As asas pingavam óleo pela cozinha. Agora tinha certeza: só queimava se tivesse ligado o fogo. A borboleta se mexia muito. Tratou de colocá-la em cima da janela. Pegou o biscoito e foi para o quarto. Começou a comer, era de chocolate e era bom.


Ainda assim, não conseguia esquecer a borboleta nadando no óleo. Seu corpo inteiro afundado no óleo. Logo começou a imaginar como seria se fosse ele, mergulhado no óleo numa panela gigante que cabe criança. Imaginou seu cabelo cheio de óleo, seus olhos, ouvidos, nariz, boca. Comia o biscoito e imaginava. Lambeu o dedo que havia colocado na panela pra imaginar melhor seu corpo no óleo. Não gostava de imaginar, mas não conseguia evitar. Era igual cheirar a mão quando está fedendo, ou alguma coisa assim. Lambeu, e o gosto era péssimo. Muito pior que o gosto do biscoito de chocolate. Lembrou de sua avó que dizia que o pozinho da borboleta, se batesse no olho, deixava cego. Ficou com medo de passar mal. O dedo que lambeu, além de óleo devia ter o tal pozinho. Correu até a cozinha para ver a borboleta. Estava dura, morta. Teve pena e quis enterrar. Decidiu que a borboleta seria seu bicho preferido, caso não passasse mal por conta daquela lambidinha no dedo. Precisava avisar a avó pra não fritar mais batata naquela panela. Enquanto não amanhecia, deixaria a borboleta na janela da cozinha. No caminho de volta pro quarto viu que a avó ainda cochilava. Deitou na cama, sua cabeça realizou os últimos mergulhos no óleo.


Começou a pensar apenas em não passar mal por conta do pozinho da borboleta. Ninguém nasce borboleta. Sentiu medo e uns trecos no estômago, se apavorou achando que era consequência do pozinho que cega quando cai no olho, e depois dormiu.


(FONTE: Geovani Martins. O sol na cabeça. São Paulo: Companhia das Letras, 2018)

A frase: "Ele correu pra ver a borboleta, ela nadava pelo óleo lentamente" pode ser classificada como:

Alternativas
Comentários
  • Ele correu pra ver a borboleta e ela nadava pelo óleo lentamente.

    Esse "e" em azul é o síndeto e faz a coordenação de duas orações de sentido completo. São elas: "Ele correu para ver a borboleta" e "a borboleta (ela) nadava pelo óleo lentamente".

    Mas na frase apontada pela questão não há esse tal síndeto. Pois é, por isso que é uma oração coordenada assindética, ou seja, sem o síndeto. No caso apresentado o síndeto foi substituido pela vírgula, que também tem esta capacidade coordenativa.

  • A questão é sobre orações coordenadas e quer que classifiquemos a oração destacada em "Ele correu pra ver a borboleta, ela nadava pelo óleo lentamente". Vejamos:

     .

    De acordo com a gramática do Cegalla, página 373, temos:

    Oração coordenada é a que está ligada a outra de mesma natureza sintática.

    No período composto por coordenação, as coordenadas são independentes (isto é, não funcionam como termos de outras) e se dizem:

    • a) sindéticas, quando se prendem às outras pelas conjunções coordenativas. As orações coordenadas sindéticas recebem o nome das conjunções coordenativas que as orações coordenadas sindéticas iniciam. Podem ser, portanto, aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas;
    • b) assindéticas, se estiverem apenas justapostas, sem conectivo, como as duas primeiras orações do período abaixo. As orações coordenadas assindéticas são separadas por pausas, que na escrita se marcam por vírgula, ponto e vírgula ou dois-pontos.

    "Inclinei-me, apanhei o embrulho e segui." (Machado de Assis)

    Inclinei-me: oração coordenada assindética;

    apanhei o embrulho: oração coordenada assindética;

    e segui: oração coordenada sindética aditiva.

     .

    A) Oração Coordenada Sindética Adversativa

    Errado.

    Oração coordenada sindética adversativa: tem valor semântico de oposição, contraste, adversidade, ressalva ... É ligada às outras por meio das seguintes conjunções: mas, porém, entretanto, todavia, contudo, no entanto, não obstante, inobstante, senão (= mas sim)...

    Ex.: Não estudou muito, mas passou nas provas.

     .

    B) Oração Coordenada Assindética

    Certo. A oração "ela nadava pelo óleo lentamente" é coordenada assindética.

    Oração coordenada assindética: ligada às outras sem conjunção. No lugar da conjunção aparece vírgula, ponto e vírgula ou dois pontos.

    Ex.: Ela almoçou tranquila, pegou o carro, foi fazer a prova.

     .

    C) Oração Assindética Explicativa

    Errado. Essa classificação não existe.

    Oração coordenada sindética explicativa: tem valor semântico de explicação, justificativa, motivo, razão. É ligada às outras por meio das seguintes conjunções: porque, pois (antes do verbo), que, porquanto...

    Ex.: Não espere meu apoio, pois seu pedido é absurdo.

     .

    D) Oração Coordenada Conclusiva

    Errado.

    Oração coordenada sindética conclusiva: tem o valor semânticos de conclusão, fechamento, finalização ... É ligada às outras por meio das seguintes conjunções: logo, portanto, por isso, por conseguinte, pois (posposto ao verbo), então, destarte, dessarte...

    Ex.: Estudamos muito, portanto passaremos no concurso.

     .

    E) Oração Coordenada Alternativa

    Errado.

    Oração coordenada sindética alternativa: tem valor semântico de alternância, escolha ou exclusão... É ligada às outras por meio das seguintes conjunções: ou...ou; ora... ora; já... já..., seja... seja...; quer... quer; não... nem...

    Ex.: Ou estudava, ou trabalhava.

     .

    Referência: CEGALLA, Domingos Pascoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, 48.ª edição, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

     .

    Gabarito: Letra B

  • Em relação à primeira oração, a segunda é coordenada assindética. B

  • Acrescentando:

    Não existe assindética explicativa......

    Assindética: Sem conjunções ou conectores...

    Sindética : Com conjunções ou conectores...

  • Oração coordenada assindética- é aquela que não é ligada por conjunção;

    Oração coordenada sindética é aquela que é ligada pela conjunção.

    Portanto, se a oração assindética não contém conjunção, não existe oração coordenada assindética explicativa.

  • As orações são independentes, portanto são COORDENADAS, e não possuem conjunções, então serão assindéticas.

  • Não há conectores, logo é assindética.

    Alternativa B.

  • GABA B

    Se liga, federal! Neste caso temos uma ORAÇÃO COORDENADA ASSIDÉTICA

     

    Expliquemos ponto a ponto:

     

    1º POR QUE ORAÇÃO?

     

    A oração é o CONJUNTO DE PALAVRAS que transmitem uma mensagem, tendo um VERBO COMO NÚCLEO.

     

    ’[...] NADAVA lentamente pelo óleo

     

    2º POR QUE COORDENADA?

     

    Para melhor entendimento, devemos entender também uma ORAÇÃO SUBORDINADA.

     

    Quando eu digo:

     

    O menino gosta” perceba que não fica completo o sentido do eu quero dizer. Eu preciso de um completo ou de uma outra frase que esteja subordinada a principal.

     

    Neste caso ficaria assim:

     

    “O menino gosta DE BORBOLETA” (neste caso temos

    uma ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA OBJETIVA INDIRETA.

     

    Agora vamos entender a COORDENADA

     

    Na SUBORDINA a oração exerce uma função sintática em relação a primeira oração, na coordenada elas são sintaticamente independentes. Ou seja, você entende o que eu quero dizer se eu não a terminar.

     

    "Ele correu pra ver a borboleta,/ ela nadava pelo óleo lentamente"

     

    O sentido de ambas as frases fica completos.

     

    3º PORQUE ASSINDÉTICA?

     

    Aqui fica mais fácil.

    Assindética significa que não possui SINDETO, ou melhor, CONECTIVOS.

     

    A letra “A” como prefixo normalmente traz ideia de negação: ateu, amoral, apático.

     

    Por isso quando traz o termo “assindético” quer dizer que não há síndeto.

     

    ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS

    - “O menino correu atrás da borboleta, MAS não a alcançou

     

    ORAÇÕES COORDENADAS ASSINDÉTICAS

    - “Ele correu pra ver a borboleta, ela nadava pelo óleo lentamente"

    senado federal - pertencelemos!

  • ASSINDETICA = VIRGULA

    SINDETICA = CONJUNCOES

    GABARITO -B