Texto 3
New York, 6 de julho de 1946.
Clarice,
Não posso te mandar nenhuma palavra animadora: sei que você deve estar se desesperando com o seu livro, que não vai, que não vai, pois também me desespero com o meu, tenho trabalhado a sério e sofrido muito. E como esse desespero vem de não saber por quê; saber como a gente acaba sabendo, mas intimamente desconhece que a angústia e a expectativa deprimente vêm de não saber por quê. Se te mandam quebrar pedra ou fazer um móvel, a inteligência vai te angustiar na procura do meio mais certo, mais eficiente e mais perfeito de quebrar ou de fazer. Mas a insaciedade que te faz artista vai te atirar numa procura muito mais afetiva, digna e criadora: saber o que é uma cadeira, e que proveito os outros tirarão da pedra que você vai quebrar. Só assim você estará sendo artista. Sem saber isso você será escravo.
Digo apenas que não concordo com você quando você diz que faz arte porque “tem um temperamento infeliz e doidinho”. Tenho uma grande, uma grande esperança em você e já te disse que você avançou na frente de todos nós. Apenas desejo intensamente que você não avance demais para não cair do outro lado. Tem de ser equilibrista até o final.
Agora, espero mais intensamente ainda que você descubra o que é que esse livro vai ser.
Um abraço do amigo,
Fernando
SABINO, Fernando; LISPECTOR, Clarice. Cartas perto do coração. 3 ed.
Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 24-31. [adaptado]
Considere os trechos extraídos do texto 3.
1. Não posso te mandar nenhuma palavra animadora: sei que você deve estar se desesperando com o seu livro, que não vai, que não vai, pois também me desespero com o meu, tenho trabalhado a sério e sofrido muito.
2. Se te mandam quebrar pedra ou fazer um móvel, a inteligência vai te angustiar na procura do meio mais certo, mais eficiente e mais perfeito de quebrar ou de fazer.
3. Digo apenas que não concordo com você quando você diz que faz arte porque “tem um temperamento infeliz e doidinho”.
Assinale a alternativa correta.