SóProvas


ID
5440798
Banca
Instituto Consulplan
Órgão
Prefeitura de Formiga - MG
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

    Em maio, encerrei uma palestra sobre a Amazônia e a criação de futuro, na universidade de Harvard, nos Estados Unidos, afirmando que a esperança, assim como o desespero, é um luxo que não temos. Com um planeta superaquecendo, não há tempo para lamentações e para melancolias. Precisamos nos mover, mesmo sem esperança. Assim que terminei, um grande empresário brasileiro fez uma manifestação em defesa da esperança e foi aplaudido entusiasticamente por parte da plateia. A esperança, e não a destruição acelerada da Amazônia ou a emergência climática global, foi o assunto do debate que veio a seguir. Alguns entenderam que eu era uma espécie de inimiga da esperança e, portanto, uma inimiga do futuro (deles). A reação é reveladora de um momento em que a novíssima geração, a das crianças e adolescentes, tem enfiado o dedo na cara dos adultos e mandado eles crescerem.
    A esperança tem uma longa história, e espero que algum dia alguém a escreva. Das religiões à filosofia, do marketing político ao mundo das mercadorias do capitalismo. Num planeta com chão cada vez mais movediço, em que os estados- -nação se desmontam, a esperança tem progressivamente ocupado o lugar da felicidade como um ativo de mercado. Lembram que até bem pouco tempo atrás todo mundo era obrigado a ser feliz? E quem afirmava não ser tinha uma deformação de alma ou estava doente de depressão?
    A “felicidade” como mercadoria já foi bem dissecada por diferentes áreas do conhecimento e pela experiência cotidiana de cada um. Convertida em produto do capitalismo, no qual era objeto de consumo que supostamente se garantia por mais consumo, hoje perdeu valor de mercado, ainda que continue eventualmente a abarrotar as prateleiras de livros de autoajuda. A esperança vai ocupando o seu lugar num momento em que o futuro se desenha sombriamente como um futuro num planeta pior.
    O que levei para a parte final da minha palestra foi o que me parece o mais fascinante desta época: aquela que talvez seja a primeira geração sem esperança. Ao mesmo tempo, é também a geração que rompeu o torpor desse momento histórico marcado por adultos infantilizados, que alternam paralisia e automatismo, também no ato de consumir. Ao romper o torpor, essa geração deu esperança à geração de seus pais. O impasse em torno da esperança é revelador do impasse entre a geração que levou ao paroxismo o consumo do planeta, a dos pais, e a geração que vai viver no planeta esgotado por seus pais.
    A geração sem esperança tem a imagem de Greta Thunberg, a garota sueca que, em agosto do ano passado, com apenas 15 anos, iniciou uma greve escolar solitária em frente ao parlamento em Estocolmo. E, de lá para cá, já inspirou duas greves globais de estudantes pelo clima, levando para as ruas do mundo centenas de milhares de crianças e adolescentes em cada uma delas. Greta, que se tornou uma das pessoas mais influentes do planeta em menos de um ano, comparando-se com as virtudes geralmente atestadas por autoridades internacionais, é reconhecida por declarações tão brilhantes quanto afiadas. Em uma delas, responde aos adultos que olham extasiados para seu rosto de boneca de souvenir e confessam de olhos úmidos que ela e sua geração os enche de esperança. A adolescente, hoje com 16 anos, diz: “Nossa casa está em chamas. Eu não quero a sua esperança, não quero que vocês sejam esperançosos. Eu quero que vocês entrem em pânico, quero que vocês sintam o medo que eu sinto todos os dias. Eu quero que vocês ajam, que ajam como se a casa estivesse em chamas, porque ela está”.
    Em vez de recusar o que ela diz, os adultos deveriam escutá-la com toda a atenção. O que testemunhamos é talvez a primeira geração a perceber que não tem tempo para esperar os pais resolverem o problema que até hoje só agravaram – e muito. Penso que, diante do impossível, precisamos criar um ser novo, fazer algo que nunca fizemos, nos arriscar a ser o que não sabemos. O futuro precisa também se desinventar como conceito de futuro para voltar a ser imaginado. Ou o futuro precisa se descolar dos conceitos hegemônicos de futuro para se abrir a outras possibilidades de ser pensado como futuro. Talvez não tenha nem mesmo o nome de futuro, mas outros. Esse futuro desinventado de futuro está sendo tecido por experiências de minorias vindas de outros territórios cosmopolíticos. Entre tantas más notícias, há uma ótima: por caminhos surpreendentes, a nova geração de suecas está vindo como índio.
(Texto especialmente adaptado para esta prova. Disponível em: https:// brasil.elpais.com/brasil/2019/06/05/politica/1559743351_956676.html. Acesso em: 12/12/2019.)

Considere as seguintes afirmativas relacionadas ao uso do acento indicativo de crase existente no excerto “(...) essa geração deu esperança à geração de seus pais.” (4º§)

I. O verbo “dar” é transitivo direto, não requisitando o uso de preposição.
II. Caso a palavra “geração” aparecesse flexionada no plural, não haveria uso do acento indicativo de crase se o termo “à”, que o antecede, permanecesse no singular.
III. Se o trecho “essa geração deu esperança” fosse flexionado no plural, ou seja, “essas gerações deram esperança”, o acento indicativo de crase deveria ser abolido na sequência da oração.

É correto o que se afirma em

Alternativas
Comentários
  • Gab C.

    • O verbo Dar é um verbo Bitransitivo, exigindo assim tanto o complemento direto como o indireto.
    • diante de plural não aceita crase.
    • errado, não caracteriza erro devido a regência do verbo dar e a aceitação da palavra feminina "geração".

  • Gab.C

    No item I, o verbo DAR é Bitransitivo, ou seja, Transitivo Direto e Indireto, pois possui dois complementos: um direto e outro indireto.

    "essa geração deu esperança à geração de seus pais.” 

    Dar alguma coisa (esperança = objeto direto) A alguém (à geração de seus pais = objeto indireto).

    Em III, a crase deve ser mantida, considerando a regência bitransitiva do verbo DAR.

    A luta continua !

  • Leia-se o excerto textual:

    “(...) essa geração deu esperança à geração de seus pais.” (4º§)

    Inspecionemos item a item:

    I. O verbo “dar” é transitivo direto, não requisitando o uso de preposição. 

    Incorreto. O verbo "dar" é transitivo direto e indireto, ou seja, tem dois complementos verbais: um direto (objeto direto) e outro indireto (objeto indireto), respectivamente "esperança" e "à geração de seus pais";

    II. Caso a palavra “geração” aparecesse flexionada no plural, não haveria uso do acento indicativo de crase se o termo “à”, que o antecede, permanecesse no singular. 

    Correto. Só se marcará o fenômeno crásico diante do substantivo "gerações", ou seja, no plural, se houver um artigo definido o determinando: deu esperança a + as gerações = deu esperança às gerações. Caso contrário, o acento é suprimido: deu esperança a + gerações = deu esperança a gerações;

    III. Se o trecho “essa geração deu esperança” fosse flexionado no plural, ou seja, “essas gerações deram esperança”, o acento indicativo de crase deveria ser abolido na sequência da oração.

    Incorreto. O acento grave é conservado, visto que o substantivo "geração" seguiria determinado: essas gerações deram esperança a + a geração de seus pais = essas gerações deram esperança à geração de seus pais.

    Letra C

  • Lembrando os casos PROIBIDOS do uso de crase:

    • Antes de palavra masculina
    • Antes de artigo indefinido
    • Entre expressões com palavras repetidas (olho a olho)
    • Antes de verbos
    • Preposição + palavra no plural
    • Antes de Preposição (ex.: ante, até, para)
    • Em sujeito
    • Antes de 'que'
    • Antes de pronome

  • I. O verbo “dar” é transitivo direto, não requisitando o uso de preposição. -> Na realidade, trata-se de um verbo BITRANSITIVO, ou seja, que é transitivo direto e indireto, por isso, quando estiver na condição de indireto, pedirá preposição.

    II. Caso a palavra “geração” aparecesse flexionada no plural, não haveria uso do acento indicativo de crase se o termo “à”, que o antecede, permanecesse no singular. -> Primeiramente, vamos ver como ficaria a frase?

    “(...) essas gerações deram esperança _ gerações de seus pais.” 

    Qual termo preenche a lacuna? a ou à? Precisamos lembrar que não há crase em palavras no plural com artigo definido "a". Só haveria crase se o artigo fosse "as". Por isso, não haveria uso de crase.

    III. Se o trecho “essa geração deu esperança” fosse flexionado no plural, ou seja, “essas gerações deram esperança”, o acento indicativo de crase deveria ser abolido na sequência da oração. - Não, porque o que definiu a presença da crase é a transitividade do verbo dar, que segue exigindo preposição, como explicado no item I.

  • Analisemos as afirmações uma a uma:

    I. Esta está errada porque o verbo dar neste contexto é bitransitivo (ou transitivo direto e indireto). Assim, ele exige tanto o Objeto Direto (regido sem preposição) quanto o Objeto Indireto (regido com preposição). No caso, o Objeto Direto corresponde a esperança. Já com relação ao Objeto Indireto, recordemo-nos de que quem dá algo, dá a alguém (ou àlguém). Assim. esta preposição contrai-se com o artigo definido a de a geração de seus pais, formando a crase.

    II. Correta. Como regra geral, não se usa crase antes de palavras no plural (Exemplo: Tal fato leva a situações favoráveis ao réu). Para que ocorra a crase, seria necessário, como é afirmado no enunciado, que a preposição a fosse aglutinada ao artigo definido as. (Exemplo: Tal fato leva às situações favoráveis ao réu).

    III. Errada. Não há qualquer dependência da crase em relação ao sujeito da oração, mas sim com a regência do verbo ou do nome e com a presença do artigo a ou as no complemento verbal ou nominal.

    Resposta: Como somente a afirmação II está correta, assinala-se a alternativa c).