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ID
5445436
Banca
VUNESP
Órgão
EsFCEx
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto para responder à questão.

Mesa farta
  A alimentação, além de necessidade biológica, é um complexo sistema simbólico de significados sociais. Em “A Divina Comédia”, Dante* definiu a fome como o pior desastre. Ele sabia do que falava, pois viu a Europa ser varrida pela Peste Negra no século 14. O desespero levava pessoas a comer de tudo, muitas morrendo com a boca cheia de capim. Outro crucial evento histórico, a Revolução Francesa, teria sido detonado pela falta de comida.
   Nos séculos 16 e 17, os livros trazem justificativas médicas para o consumo de certos alimentos. É o caso das frutas. Antes servidas como “entradas” para acalmar o estômago, quando misturadas ao açúcar passam a sobremesas. É o momento em que o açúcar, anteriormente consumido como remédio, invade a Europa por força das exportações portuguesas. De especiaria, ele passa a aditivo de três bebidas que vão estourar na Europa: o chocolate, o café e o chá.
   O café, por exemplo, era recomendado pelo médico de dom João V, rei de Portugal, por sua capacidade de “confortar a memória e alegrar o ânimo”. Os cafés se multiplicaram e se tornaram lugares onde se bebia numa verdadeira liturgia: em silêncio, entre pessoas cultas, jogando damas ou cartas. 
   A Europa dos séculos 16 ao 19 consumiu café, chá e chocolate acompanhados de bolos e outros doces, o que impulsionou o consumo de açúcar. Nascia, assim, a noção de gosto na culinária. Um saber sobre a cozinha se formalizava e livros especializados batiam os 300 mil exemplares.
   O comer tornou-se menos encher o estômago e mais escolher segundo o gosto. Certos alimentos passaram de um nível a outro: a batata, primeiramente servida aos porcos, depois de alimentar massas de camponeses, ganhou status de alimento fino, graças às receitas do chef francês Parmentier.
   Antigamente, o comer acontecia em momentos regrados e reunia pessoas em torno da mesa, com grande carga simbólica. Hoje, comemos abundante e individualmente. Nessa dinâmica, o lugar da televisão (ou celular) exerce fundamental importância. Em muitas casas e restaurantes, as pessoas comem na frente da TV, ou seja, ingerindo comida sem investimento simbólico, sem prazer de estar junto na descoberta da refeição.
   Em todas as esferas da vida, encontramos metáforas alimentares: em relação ao sexo, falamos na doçura do amor, em lua de mel e, em relação aos textos e aos livros, dizemos que podem ser saboreados, digeridos. Vale lembrar que saber e sabor são palavras derivadas do mesmo radical: sapere, ter gosto. 
(Mary Del Priore. Aventuras na História. Julho de 2014. Adaptado)
* Dante Alighieri, escritor italiano.

A respeito do terceiro parágrafo, é correto concluir que as aspas e os dois-pontos, respectivamente,

Alternativas
Comentários
  • A questão requer conhecimento acerca do emprego dos sinais de pontuação.

    Alternativa (A) incorreta - Não se trata de uma propaganda; não há ironia na observação da autora.

    Alternativa (B) incorreta - Apesar de ser uma observação do médico de dom João V, o trecho entre aspas não tem relação com estudos de medicina; retificação significa correção, o trecho após os dois-pontos não indica retificação do que fora dito antes.

    Alternativa (C) incorreta - Não se trata de um trecho incontestável sobre os efeitos do café, trata-se de uma constatação de um médico; não introduz uma suposição porque não se trata de uma alegação falsa tida como verdadeira.

    Alternativa (D) correta - destaca a afirmação que o médico de dom João V fez ao observar os efeitos do café, como essa afirmação é de outrem, o trecho deve vir entre aspas; descreve o modo como se bebia o café - em silêncio -, e os tipos das pessoas: cultas.

    Alternativa (E) incorreta - Não é uma descoberta, mas uma observação do médico de dom João V; não há oposição em relação ao que fora dito antes.

  • Essa é basicamente uma questão sobre o uso correto das aspas e dos dois pontos. Nesse sentido, cabe afirmar que as aspas servem, primeiramente, para marcar citações diretas nos textos ou ainda para dar realce a algum termo específico. Elas servem, ainda, para destacar termos escritos em língua estrangeira e para marcar nomes de obras.

    Já os dois pontos podem introduzir a reprodução da fala de alguém no discurso direto, assim como também pode ser utilizado para anunciar uma explicação, a descrição de algo ou mesmo uma enumeração de elementos em determinados contextos frasais.

    Voltando ao texto, temos o uso das aspas no contexto desse período que segue:

    O café, por exemplo, era recomendado pelo médico de dom João V, rei de Portugal, por sua capacidade de “confortar a memória e alegrar o ânimo".

    Nesse sentido, percebemos que as aspas marcam a justificativa do médico de dom João V para afirmar as boas virtudes do café, seus efeitos.

    Já os dois pontos surgem no período seguinte:

    Os cafés se multiplicaram e se tornaram lugares onde se bebia numa verdadeira liturgia: em silêncio, entre pessoas cultas, jogando damas ou cartas. 

    Aqui, eles servem basicamente para introduzir a descrição da tal “verdadeira liturgia" que caracterizava o contexto dos cafés enquanto locais de reunião.

     Sendo assim, percebe-se que a opção correta a ser marcada é a letra C.

    Gabarito do Professor: Letra C.