SóProvas


ID
5489980
Banca
IUDS
Órgão
IF-RJ
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Olhos d’água (Fragmento)
Sendo a primeira de sete filhas, desde cedo, busquei dar conta de minhas próprias dificuldades, cresci rápido, passando por uma breve adolescência. Sempre ao lado de minha mãe aprendi conhecê-la. Decifrava o seu silêncio nas horas de dificuldades, como também sabia reconhecer em seus gestos, prenúncios de possíveis alegrias. Naquele momento, entretanto, me descobria cheia de culpa, por não recordar de que cor seriam os seus olhos. Eu achava tudo muito estranho, pois me lembrava nitidamente de vários detalhes do corpo dela. Da unha encravada do dedo mindinho do pé esquerdo... Da verruga que se perdia no meio da cabeleira crespa e bela... Um dia, brincando de pentear boneca, alegria que a mãe nos dava quando, deixando por uns momentos o lava-lava, o passa-passa das roupagens alheias, se tornava uma grande boneca negra para as filhas, descobrimos uma bolinha escondida bem no couro cabeludo ela. Pensamos que fosse carrapato. A mãe cochilava e uma de minhas irmãs aflita, querendo livrar a boneca-mãe daquele padecer, puxou rápido o bichinho. A mãe e nós rimos e rimos e rimos de nosso engano. A mãe riu tanto das lágrimas escorrerem. Mas, de que cor eram os olhos dela?
Eu me lembrava também de algumas histórias da infância de minha mãe. Ela havia nascido em um lugar perdido no interior de Minas. Ali, as crianças andavam nuas até bem grandinhas. As meninas, assim que os seios começavam a brotar, ganhavam roupas antes dos meninos. Às vezes, as histórias da infância de minha mãe confundiam-se com as de minha própria infância. Lembro-me de que muitas vezes, quando a mãe cozinhava, da panela subia cheiro algum. Era como se cozinhasse ali, apenas o nosso desesperado desejo de alimento. As labaredas, sob a água solitária que fervia na panela cheia de fome, pareciam debochar do vazio do nosso estômago, ignorando nossas bocas infantis em que as línguas brincavam a salivar sonho de comida. E era justamente nos dias de parco ou nenhum alimento que ela mais brincava com as filhas. Nessas ocasiões a brincadeira preferida era aquela em que a mãe era a Senhora, a Rainha. Ela se assentava em seu trono, um pequeno banquinho de madeira. Felizes colhíamos flores cultivadas em um pequeno pedaço de terra que circundava o nosso barraco. Aquelas flores eram depois solenemente distribuídas por seus cabelos, braços e colo. E diante dela fazíamos reverências à Senhora. Postávamos deitadas no chão e batíamos cabeça para a Rainha. Nós, princesas, em volta dela, cantávamos, dançávamos, sorríamos. A mãe só ria, de uma maneira triste e com um sorriso molhado... Mas de que cor eram os olhos de minha mãe? Eu sabia, desde aquela época, que a mãe inventava esse e outros jogos para distrair a nossa fome. E a nossa fome se distraía.
Conceição Evaristo (Olhos d’água, p. 15-19)

Em: "Eu sabia, desde aquela época, que a mãe inventava esse e outros jogos para distrair a nossa fome." Os termos destacados exercem função de:

Alternativas
Comentários
  • desde aquela época = adjunto adverbial de tempo

    para distrair a nossa fome = oração subordinada adverbial final (a fim de que, para que, que, porque, etc)

  • A questão é de sintaxe e quer saber a função dos termos destacados em "Eu sabia, desde aquela época, que a mãe inventava esse e outros jogos para distrair a nossa fome". Vejamos:

     .

    Orações Subordinadas Adverbiais: funcionam como adjuntos adverbiais da oração principal. Aparecem introduzidas por conjunções adverbiais. Sua classificação é feita conforme o sentido da circunstância adverbial que expressam. Podem ser: temporais, proporcionais, finais, causais, consecutivas, conformativas, condicionais, comparativas e concessivas.

     .

    A) Adjunto adverbial de tempo, oração subordinada adverbial final.

    Certo. "Desde aquela época" é um adjunto adverbial de tempo. "Para distrair a nossa fome" é uma oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo.

    Adjunto adverbial: é sempre um advérbio ou uma locução adverbial. Caracteriza melhor a ação expressa pelo verbo, acrescentando ou especificando uma circunstância qualquer (modo, lugar, tempo...).

    Ex.: Nós estudamos muito bem ontem no curso. (“muito” é adjunto adverbial de intensidade. “bem” é adjunto adverbial de modo. “ontem” adjunto adverbial de tempo. “no curso” adjunto adverbial de lugar.)

    Advérbios de tempo: (dão ideia de tempo e período) agora, hoje, amanhã, depois, ontem, anteontem, já, sempre, amiúde, nunca, jamais, ainda, logo, antes, cedo, tarde, ora, afinal, outrora, então, breve, aqui (= neste momento), nisto, aí (= então, nesse momento), entrementes, brevemente, imediatamente, raramente, finalmente, comumente, presentemente, diariamente, concomitantemente, simultaneamente, etc.

     .

    Oração subordinada adverbial final: exprime ideia de finalidade, intenção em relação ao fato expresso na oração principal. É introduzida pelas conjunções a fim de que, para que, que e porque (= para que)

    Ex.: Fazemos tudo, para que você passe nas provas.

     .

    B) Adjunto adverbial de lugar, oração subordinada adverbial modal. 

    Errado. Não existe "oração subordinada adverbial MODAL".

    Advérbios de lugar (caracterizam o lugar): abaixo, acima, acolá, cá, lá, aqui, ali, aí, além, aquém, algures(= em algum lugar), alhures (= em outro lugar), nenhures (= em nenhum lugar), atrás, fora, afora, dentro, perto, longe, adiante, diante, onde, avante, através, defronte, aonde, donde, detrás.

     .

    C) Adjunto adverbial de tempo, oração subordinada adverbial modal.

    Errado. Não existe "oração subordinada adverbial MODAL".

     .

    D) Adjunto adverbial de tempo, oração subordinada adverbial consecutiva.

    Errado.

    Oração subordinada adverbial consecutiva: exprime consequência do fato expresso na oração principal. É introduzida pelas conjunções que (precedido de tão, tal, tanto, tamanho), sem que, de sorte que, de modo que, de forma que, de maneira que...

    Ex.: Estudou tanto que passou na prova.

     .

    Gabarito: Letra A 

  • Direto ao ponto! Sem textões...

    desde aquela época = Adj. Adverbial de tempo, como é de pequena extensão (até 3 palavras), as vírgulas são, também, opcionais, caso perguntassem.

    para distrair a nossa fome = Oração Sub. Adverbial FINAL reduzida de Infinitivo.

    GABARITO: A)

    Estou corrigindo redações para concurso, para mais informações envie email para fuvio10@outlook.com ou chame aqui! Experiência comprovada, por meio de provas corrigidas por bancas.

  • Gabarito: A

    Colegas, cuidado, a banca não pediu respectivamente. (por mais que não altere o gabarito)

    Um degrau de cada vez e chagaremos ao topo!

  • GABARITO- A

    I) desde aquela época - adjunto adverbial de tempo.

    II) para distrair a nossa fome. - Oração adverbial final.

    -------------

    OBS:

    A vírgula é opcional depois de adjunto adverbial deslocado que tenha até três palavras. Use a vírgula para destacar a informação do adjunto adverbial:

    Hoje, todos os envolvidos na criação e os que nele trabalharam e trabalham têm motivo de sobra para comemorar — disse o senador.

  • GABARITO: A.

    Analisando a questão por cores:

    "Eu sabia, desde aquela época, que a mãe inventava esse e outros jogos para distrair a nossa fome."

    • Desde quando eu sabia?  Desde aquela época (Adjunto adverbial de tempo - deslocado)

    • Para qual finalidade a mãe inventava esse e outro jogo? Para distrair a nossa fome."

    Oração subordinada adverbial final.

    – Introduzem a finalidade da oração principal.

    CONECTORES: para que, a fim de que, para + infinitivo, a fim de + infinitivo.

  •  para = FINALIDADE.......

  • Para que a mãe inventava aqueles jogos? É claro, com a finalidade de destrair a fome

    GAB A

    "TÁ MUITO FÁCIL CONTA OUTRA"

    Chavez

  • troca o para---> por: A FIM DE