SóProvas


ID
5509045
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Jaguariúna - SP
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto, para responder à questão.

   A psicanalista Maria Homem diz que o ressentimento é a palavra-chave para ousar compreender o mundo hoje. Luiz Filipe Pondé acredita que o ressentimento faz de nós incapazes de ver algo simples: o universo é indiferente aos nossos desejos; além de destruir em nós a capacidade de pensar e compreender a realidade.
   Ressentir-se significa atribuir ao outro a responsabilidade pelo que nos faz sofrer. Como se a culpa do que não somos ou não podemos ser fosse sempre do outro, esse bode expiatório que escolhemos quando não podemos nos haver com nossos próprios limites. Ressentir-se é uma impossibilidade de esquecer ou superar um agravo. Seria uma impossibilidade ou uma recusa?
   O ressentido não é alguém incapaz de perdoar ou esquecer, é alguém que não quer esquecer, não quer perdoar, nem superar o mal que o vitimou. O filósofo Max Scheler classifica como “auto envenenamento psicológico” o estado emocional do ressentido, um ser introspectivo ocupado com ruminações acusadoras e fantasias vingativas.
   O ressentido é um escravo de sua impossibilidade de esquecer, vivendo em função de sua vingança adiada, de maneira que em sua vida não é possível abrir lugar para o novo; trata-se de um vingativo passivo, e suas queixas contínuas mobilizam, no outro, confusos sentimentos de culpa. Na verdade, ele acusa, mas não está seriamente interessado em ser ressarcido do agravo que sofreu. No ressentido, permanece uma dívida impagável, a compensação reivindicada é da ordem de uma vingança projetada no futuro. O ressentido é um covarde, pois não concede a si mesmo os prazeres da vingança pelo exercício da ação. Esse desejo de vingança recusado é o núcleo doentio do ressentimento nietzschiano. Uma vez que não se permite reagir, só resta ao fraco ressentir.
   Por não esquecer, o ressentido não consegue entregar-se ao fluxo da vida presente. A memória é como uma doença, o tempo não pode ser detido, a vontade não pode “querer pra trás”, ou seja, corrigir o curso de suas escolhas passadas.
   A solução para o ressentimento não é negá-lo, mas nomeá-lo, informar-se sobre ele, perceber que é impossível não o ter em nós em alguma medida. “Conhece-te a ti mesmo”, foi o conselho dado pelo sábio filósofo Sócrates, no século V a.C. Quem sabe tenhamos a coragem e as ferramentas para compreender essa emoção, e, com isso, podermos nos colocar além do ressentimento. Talvez possamos um dia transformar esse sentimento e, assim, criar um novo modo de estar com o outro.
(Luciana Ribeiro Soubhia, Ressentimento.
Revista Bem-estar, 04-07-2021. Adaptado)

Assinale a alternativa que identifica, correta e respectivamente, o sentido que as expressões destacadas na passagem a seguir imprimem aos contextos em que se encontram.
O ressentido é um covarde, pois não concede a si mesmo os prazeres da vingança pelo exercício da ação. Esse desejo de vingança recusado é o núcleo doentio do ressentimento nietzschiano. Uma vez que não se permite reagir, só resta ao fraco ressentir.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: B

    Macete para as provas da VUNESP:

    • PAVÊ → Pois Antes do Verbo é Explicativo;
    • PDVC → Pois Depois do Verbo é Conclusivo.

     

    "O ressentido é um covarde, pois não concede a si mesmo os prazeres da vingança pelo exercício da ação." → Aqui o pois é explicativo. Veja que temos o PAVÊ (pois antes do verbo conceder é explicativo).

    • Exemplo com um "pois" conclusivo: "Ele está triste; está, pois, chorando" → PDVC: Pois Depois do Verbo (está) é Conclusivo. Observe que, se você tiver dúvida, pode substituir por outra conclusiva: "Ele está triste; está, portanto, chorando".

     

    "Uma vez que não se permite reagir, só resta ao fraco ressentir." → Nesta temos uma conjunção causal. Podemos substituir por outra para verificarmos a noção de causa: "visto que não se permite reagir, só resta ao fraco ressentir". Ou, se preferirmos, podemos utilizar o macete: "O fato de... (causa), fez com que... (consequência).

    • "O fato de não se permitir reagir (causa), faz com que só reste ao fraco ressentir (consequência)".

     

    Espero ter ajudado.

    Bons estudos! :)

  • Também interpreto como incorreta a estrutura a que o colega Ivan fez menção.

    Com meu comentário, tentarei ajudá-los a diferenciar uma oração subordinada adverbial causal de uma coordenada sindética explicativa quando se constata a existência da conjunção "pois", "que" ou "porque", que atendem a ambas as circunstâncias. Em face a esse motivo, essas duas orações frequentemente se confundem e há enorme debate gravitando em torno dessa polêmica, ainda sem solução final. Evanildo Bechara, em Lições de Português Pela Análise Sintática, até mesmo sai em defesa da abolição dessa discrepância existente, haja vista que estruturalmente em nada mudam essas orações: o que se percebe de mudança restringe-se apenas ao campo semântico.

    Leia-se o fragmento:

    "O ressentido é um covarde, pois não concede a si mesmo os prazeres da vingança pelo exercício da ação."

    A seguir, reproduzirei, sem nenhuma modificação, as palavras do também professor Fernando Pestana, autor de já célebre gramática para concursos:

    Por ser uma situação difícil e polêmica [a diferenciação entre as duas orações mencionadas], explicarei com mais fluidez ainda. Existem três casos importantes a considerar. Veja:

    1º caso: Se o verbo que antecede a conjunção vier no imperativo, ou indicar desejo, é certo que a oração será coordenada explicativa.

    – Estude, que seu futuro estará garantido!

    – Deus o abençoe, meu filho, porque sua generosidade não tem limite.

    2º caso: Se o porque (ou que, pois, porquanto) iniciar uma consequência, a oração será explicativa; se iniciar uma causa, a oração será causal.

    – A avenida não tinha limite de velocidade, porque o carro passou a 300 km/h. (explicativa)

    – O carro passou a 300 km/h porque a avenida não tinha limite de velocidade. (causal) 

    3º caso: Se a afirmação anterior à conjunção for uma suposição ou uma constatação por dedução, gerada por uma apuração ou comprovação, a conjunção será explicativa (este é o caso de “Choveu, porque a rua está molhada.”; ou seja, você deduz que choveu por causa de uma apuração – a rua molhada).

    – Ele passou por aqui, porque ainda há pouco o vi. (explicativa)

    – Não precisa mentir. O Leandro faltou às aulas, pois me contaram. (explicativa) 

    Por seu turno, Antônio Suaréz de Abreu, em Gramática Integral da Língua Portuguesa, p. 483 e 484, recomenda-nos dois aspectos a serem considerados a fim de tentarmos diferenciar essas duas orações:

    1) iconicidade temporal

    Isso significa que as orações coordenadas não podem ser invertidas. Ex.: César veio, viu e venceu → venceu, viu e César veio. Essa reescritura não apresenta o menor sentido, o contrário do que ocorreria se houvesse uma oração subordinada adverbial causal. Ex.: não saiu de casa, porque estava frio → porque estava frio, não saiu de casa.

    2) impossibilidade de redução

    Orações coordenadas não podem ser reduzidas sem que mudem o sentido ou se tornem agramaticais; não obstante, isso não ocorre com as subordinadas. Exs.:

    a) Saia logo, porque o avião vai explodir.

    Tente reduzi-la: saia logo, por o avião vai explodir. Não faz sentido. Logo, essa oração é coordenada explicativa.

    b) Saiu à rua, porque estava quente dentro de casa.

    Tente reduzi-la: saiu à rua por estar quente dentro de casa. Faz sentido. Logo, essa oração é subordinada adverbial causal.

    Se inspecionada a frase do enunciado em que se constata a conjunção "pois", ver-se-á que ela não pode ser invertida ou reduzida:

    "Por não conceder a si mesmo os prazeres da vingança pelo exercício da ação, o ressentido é um covarde."

    À vista disso, pode-se asseverar com segurança que a oração encabeçada pela conjunção "pois" é subordinada adverbial causal. A banca incorre em erro quando a trata por coordenada sindética explicativa.

  • Gente, ignorem o comentário do Lucas. Está MUITO errado!! O Ivan e o Shelking estão corretos. Aliás, aproveitando que um de nossos colegas citou o Pestana: eu mesma questionei ele (o Pestana) em seu grupo do facebook. Ele próprio me respondeu: essa oração introduzir pelo "pois" é SUBORDINADA ADVERBIAL CAUSAL.

    Resumindo tudo: as duas orações são CAUSAIS. Não tem gabarito! Quem fez a prova deveria ter entrado com recurso!

  • Gente, para quem ainda não conhece o Orlando Guimarães, ele é conhecido dos usuários do site por bloquear outros alunos, principalmente professores, para postar bobagens e poder ofendê-los sem ser retrucado ou denunciado.

    O Shelking e o Ivan, chamados de "mentecaptos" e gratuitamente ofendidos por ele, são professores e sofrem constantes ataques deste aluno que em nada contribui, muito pelo contrário.

    Denunciem este tipo de conduta, não deixem o site ser tomado por este tipo de pessoa.

  • Sr Shelking, você disse:

    "Se inspecionada a frase do enunciado em que se constata a conjunção "pois", ver-se-á que ela não pode ser invertida ou reduzida:

    Por não conceder a si mesmo os prazeres da vingança pelo exercício da ação, o ressentido é um covarde."

    Eu achei ok essa inversão. Alguém mais achou?

    Que questão estranha! Não vejo sentido em cobrarem algo que é tão controverso.