SóProvas


ID
5617960
Banca
AOCP
Órgão
Prefeitura de Novo Hamburgo - RS
Ano
2022
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

ENTRE O DESESPERO E A ESPERANÇA: COMO REENCANTAR O TRABALHO?

Christophe Dejours

   Nos dias de hoje, quando se fala do trabalho, é de bom-tom considerá-lo a priori como uma fatalidade. Uma fatalidade socialmente gerada. E, de fato, é preciso reconhecer que a evolução do mundo do trabalho é bastante preocupante para os médicos, para os trabalhadores, para as pessoas comuns apreensivas com as condições que serão deixadas a seus filhos em um mundo de trabalho desencantado.
   E, no entanto, no mesmo momento em que devemos denunciar os desgastes psíquicos causados pelo trabalho contemporâneo, devemos dizer que ele também pode ser usado como instrumento terapêutico essencial para pessoas que sofrem de problemas psicopatológicos crônicos. No que concerne à visão negativa, é preciso distinguir o sofrimento que o trabalho impõe àqueles que têm um emprego do sofrimento daqueles homens e mulheres que foram demitidos ou que se encontram privados de qualquer possibilidade de um dia ter um emprego.
   Há, portanto, situações de contraste. Surge inevitavelmente a questão de saber se é possível compreender as diversas contradições que se observam na psicodinâmica e na psicopatologia do trabalho. Isso só é possível se defendermos a tese da “centralidade do trabalho”. Essa tese se desdobra em quatro domínios:
• no domínio individual, o trabalho é central para a formação da identidade e para a saúde mental,
• no domínio das relações entre homens e mulheres, o trabalho permite superar a desigualdade nas relações de “gênero”. Esclareço que aqui não se deve entender trabalho apenas como trabalho assalariado, mas também como trabalho doméstico, o que repercute na economia do amor, inclusive na economia erótica,
• no domínio político, é possível mostrar que o trabalho desempenha um papel central no que concerne à totalidade da evolução política de uma sociedade,
• no domínio da teoria do conhecimento, o trabalho, afinal, possibilita a produção de novos conhecimentos. Isso não é óbvio. O estatuto do conhecimento, supostamente elevado acima das contingências do mundo dos mortais, deve ser revisto profundamente quando se considera o processo de produção do conhecimento e não apenas o conhecimento. É o que se chama de “centralidade epistemológica” do trabalho. [...] 

Disponível em:
https://revistacult.uol.com.br/home/christophe-dejours-reencantar-o-trabalho/.
Acesso em: 14.dez.2021

Sobre os excertos “Esclareço que aqui não se deve entender trabalho apenas como trabalho assalariado [...]” e “O estatuto do conhecimento [...] deve ser revisto [...]”, assinale a alternativa correta. 

Alternativas
Comentários
  • Essa alternativa "C" não entendi, haja vista que o termo omitido em minha humilde concepção mudaria o sentido!!

    Alguém me ajuda !! Pliss.

  • Esclareço que, poderia ser retirado do texto sem nenhum prejuízo sintático como bem afirma a questão.

  • a) É possível substituir, em ambos os excertos, o termo “deve” por “pode”, sem que isso modifique semanticamente as frases.

    Errado. Semântica é a área da linguística que estuda o significado e a sua relação com o significante. O significado está associado ao sentido e, portanto, ao conteúdo e ao contexto; o significante está associado à forma.

    Dever, no texto, tem sentido de obrigatoriedade.

    Poder, no caso, tem sentido de escolha, faculdade, discricionariedade.

    Então, se eles tem sentidos diferentes, um não pode substituir o outro sem que isso modifique semanticamente as frases.

    b) O termo “revisto” apresenta significado equivalente ao verbo “rever” em “Voltei para rever os amigos”.

    Errado. Eu interpretei o termo "revisto" no texto com sentido de "repensado". "O estatuto... deve ser repensado...". Se estiver correto, tem sentido contrário de "rever os amigos", pois neste último caso tem sentido de "voltar a ver".

    C) Gabarito

    d) O termo “aqui” indica um espaço físico próximo ao autor do texto, diferentemente de “ali” e “lá”.

    Errado. O autor, ao discorrer sobre a tese da “centralidade do trabalho”, informa que ela se desdobra em quatro domínios. Quando ele usa o termo "aqui", quer se referir ao terceiro domínio sobre o qual está discorrendo e não a um lugar físico.

    e) Ambos os excertos estão na voz ativa.

    Errado. Os trechos não apresentam a estrutura da voz passiva que é ser/estar+verbo VTD e não tem OD, visto que esse último " se transforma" no agente da passiva.

    Fonte: https://www.portugues.com.br/gramatica/semantica.html

  • Para marcar a correta é preciso voltar ao texto.

    Na alternativa C, o examinador fala de uma Não alteração Sintática com a omissão do termo, o que é Correto. Se prestar atenção o termo (AQUI) do texto já traz o parelhíssimo sintático com o que foi dito anteriormente.

    O termo (Esclareço aqui) foi empregado como um recurso para dar ênfase a opinião do autor.

    Foi esse o meu raciocínio para responder.

    Se tiver algo errado, por favor, avise.

  • texto complexo com orações muitos grandes....

  • No meu ponto de vista, prejudicaria sintaticamente a frase, porque temos uma oração subordinada substantiva em função de objeto direto oracional. Vale ressaltar que as orações subordinadas são sintaticamente dependentes. A dependência é em nível sintática, porque uma oração serve de função sintática da outra. Ao passo que a banca diz que a expressão "Esclareço que" poderia ser omitida sem que isso prejudicasse sintaticamente a frase, perceba que não teríamos mais a oração subordinada substantiva objetiva direta oracional. A omissão não alterou o sentido da frase, agora, em nível sintático, houve sim um prejuízo, houve sim uma alteração comparando as duas frases.

    “Esclareço que aqui não se deve entender trabalho apenas como trabalho assalariado [...]”

    "aqui não se deve entender trabalho apenas como trabalho assalariado [...]"

  • Colegas, a BANCA AOCP não aceita recursos nas questões de português. Chove recurso e ela não está nem aí.

  • O estatuto do conhecimento DEVE SER revistado

    O "deve ser" é uma locução verbal, o verbo DEVER está conjugado no presente do indicativo, então conseguimos reescrever a frase conjugando o verbo principal, SER, no presente do indicativo.

    O estatuto do conhecimento FOI revistado

    Assim, temos a estrutura clássica da voz passiva analítica do verbo SER + PARTICÍPIO

  • a) - É possível substituir, em ambos os excertos, o termo “deve” por “pode”, sem que isso modifique semanticamente as frases.

    ERRADO: "Deve" está com sentido de ser obrigado a alguma coisa, a saber.

    "Pode" está indicando possibilidade.

    b) - O termo “revisto” apresenta significado equivalente ao verbo “rever” em “Voltei para rever os amigos”.

    ERRADO: O revisto no texto está no sentido de correção, reexaminado.

    c) - A expressão “Esclareço que” poderia ser omitida, sem que isso prejudicasse sintaticamente a frase.

    CERTO: Vejo o "Esclareço que" como termo expletivo ou seja para dar ênfase ao que será dito.

    d) - O termo “aqui” indica um espaço físico próximo ao autor do texto, diferentemente de “ali” e “lá”.

    ERRADO: Aqui está se referindo a todo o período anterior, ou seja se refere ao segundo domínio.

    e) - Ambos os excertos estão na voz ativa.

    ERRADO: A estrutura "O estatuto do conhecimento [...] deve ser revisto (Particípio)" está na voz passiva analítica, presença do SER + PARTICIPIO.