SóProvas


ID
5651320
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
DPE-DF
Ano
2022
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Em O processo, a antevisão do inferno em que se transformaria a burocracia moderna, das culpas imputadas, da tortura anônima e da morte que caracterizam os regimes totalitários do século vinte já é um lugar-comum. O trucidamento (literal) de que K. tornou-se um ícone do homicídio político. “A colônia penal” de Kafka transformou-se em realidade pouco depois de sua morte, quando também os temas da aniquilação e dos “vermes”, de sua Metamorfose, adquiriram macabra realidade. A realização concreta de suas premonições, com pormenores de clarividência, está indissociavelmente relacionada às suas fantasias aparentemente desvairadas. Haveria algum sentido em pensar que, de alguma forma, as previsões claramente formuladas na ficção de Kafka, em O processo principalmente, teriam contribuído para que de fato ocorressem? Seria possível que uma profecia articulada de maneira tão impiedosa tivesse outro destino que não a sua realização? As três irmãs de K. e sua Milena morreram em campos de concentração. O judeu da Europa Central que Kafka ironizou e celebrou foi extinto de maneira abominável. Em termos espirituais, existe a possibilidade de Franz Kafka ter sentido seus dons proféticos como uma visitação de culpa, de que a capacidade de antever o tivesse exposto demais às suas emoções. K. torna-se o cúmplice, perplexo, porém quase impaciente, do crime perpetrado contra ele. Coexistem, em todos os suicídios, a apologia e a aquiescência. Como diz o sacerdote, em triste zombaria (seria mesmo zombaria?): “A justiça nada quer de ti. Acolhe-te quando vens e te deixa ir quando partes”. Essa formulação está muito próxima de ser uma definição da vida humana, da liberdade de ser culpado, que é a liberdade concedida ao homem expulso do Paraíso. Quem, senão Kafka, teria sido capaz de dizer isso em tão poucas palavras? Ou se saber condenado por ter sido capaz de fazê-lo?


George Steiner. Um comentário sobre O processo de Kafka. In: Nenhuma paixão desperdiçada. Tradução de Maria Alice Máximo. Rio de Janeiro: Record, 2001 (com adaptações). 

Acerca dos sentidos, das ideias e dos aspectos linguísticos do texto apresentado, julgue o item a seguir.


No trecho “Como diz o sacerdote, em triste zombaria (seria mesmo zombaria?)”, os parênteses, que poderiam ser substituídos por travessões, foram empregados para isolar uma digressão feita pelo autor do texto.

Alternativas
Comentários
  • ERRADO

    Conceito trazido por um colega (não me lembro o nome) em uma questão anterior:

    Digressão: Pode ser caracterizada como uma porção textual que não se acha diretamente relacionada com o segmento precedente nem com o que lhe segue; entretanto, não é acidental e tampouco cria uma ruptura da coerência, na medida em que é fruto de relações de relevância tópica. Utilizado, por exemplo, na obra "Dom Casmurro" de Machado de Assis.

    • No texto:

    em triste zombaria (seria mesmo zombaria?).

    Veja que o vem em parênteses guarda relação com o que foi mencionado anteriormente. Portanto, não se trata de uma digressão, antes uma indagação.

  • GAB ERRADO

    Dicionário: DIGRESSÃO - FIGURADO (SENTIDO)•FIGURADAMENTE

    afastamento, desvio momentâneo do assunto sobre o qual se fala ou escreve.

  • CUIDADO!

    Os comentários presentes nessa questão não a explanam corretamente.

    A estrutura entre os parêntesis exemplifica uma oração justaposta a que se chama de interferente ou intercalada. Em palavras simplórias, esse tipo de estrutura não desempenha função sintática e vem sempre separada por vírgulas, travessões ou parêntesis. A rigor, traz subjetividade traduzida em comentário, observação de quem escreve o texto. Em boa hora, pode expressar citação, advertência, opinião, desejo, escusa, permissão ou ressalva. Nesse trecho trazido, o sentido é ressalva. Nada tem que ver com digressão.

    Errado.

  • Em Literatura, digressão é um recurso utilizado pelo narrador para afastar a atenção sobre alguma ação da história principal. Desta forma, o narrador pode iniciar um tema secundário pouco importante para a trama, ou refletir sobre um assunto que foge da narrativa principal.d

    O escritor brasileiro Machado de Assis recorre frequentemente a esse artifício. Nas obras “Dom Casmurro” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, é evidente a utilização desse recurso, quando as narrações das personagens são interrompidas pelo autor para que este se dirija ao leitor com algum comentário marginal à história. Fonte: https://www.significados.com.br/digressao/

    No que se refere à questão, nota-se que o termo entre parêntese está relacionado a oração precedente, logo não há digressão.

  •  Na digressão, a narração da história é interrompida e o contador faz comentários e observações que se distanciam temporariamente dos eventos que estavam sendo relatados.

    EXEMPLO DE DIGRESSÃO:

    No Cap. II de Dom Casmurro, 1º parágrafo, ele diz: "Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão."

    Antes de contar ao leitor a história, ele dá-se ao trabalho de explicar por que resolveu contá-la e até mesmo por que deu ao livro o nome de Dom Casmurro.

  • O significado de Digressão é o mesmo que divagação, isto é, é um desvio de assunto ou de rumo, tendo o mesmo significado que subterfúgio.

    Digressão é o ato de se distanciar provisoriamente de onde se estava, é o efeito de romper a continuidade de um discurso com uma mudança de assunto intencionada.

    Além disso, digressão é uma palavra que pode ser utilizada para situações em que passeios ou jornadas duram algum tempo, sendo geralmente aquelas que possuem finalidade recreativa ou cultural. Em Portugal, digressão é o mesmo que “turnê” para a língua brasileira, dando a ideia de viagem que possui um itinerário pré-elaborado.

    Na Literatura, digressão é considerada um recurso que o autor utiliza para afastar-se do assunto principal ou de uma determinada ação da história. Nesses casos, a autor pode divagar sobre outras temáticas ou alegações, podendo fugir da narrativa principal ou que não tem qualquer importância para a trama.

    Ou seja, a digressão seria o afastamento do tema ou do cerne de uma conversa. É um devaneio.

    Um exemplo de uso de digressão na literatura brasileira é do autor Machado de Assis. O escrito recorria com frequência a digressão, com a intenção de fazer algum comentário ao leitor. Pode-se notar este recurso em “Dom Casmurro” e também em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.

    fonte: https://www.significadosbr.com.br/digressao

  • Os Parênteses, serve para (ISOLAR) e os Travessões, para - ENFATIZAR -

  • Não sei se foi uma percepção só minha ou se mais gente achou isso, mas pra mim a parte de português dessa prova tava difícil pra caramba. Texto complicadíssimo de entender e as questões num nível bem pesado também. Jesus...

  • ERRADO. Temos que tomar cuidado com os significados das palavras! A questão se torna errada pelo fato do examinador da prova dizer que o autor do texto fez uma DIGRESSÃO e o autor não fez uma digressão que significa se desviar do assunto com o qual se fala ou escreve , pelo contrário, ele reafirmou perguntando sobre o assunto : (seria mesmo zombaria?) por isso a questão se torna errada.

    Mas em questão de que os parênteses poderiam ser substituídos por travessões ou vírgulas para empregar isolamento ,fazendo assim uma oração intercalada separando da oração principal ,para intercalar trechos em que se pretende dar ênfase, para marcar a fala de alguém no texto sim isto esta certo.

  • Digressão é quando você sai do assunto proposto. Ou seja, nada tem a ver com digressão e sim com uma inferência, pois o autor dá a sua opinião dentro do texto.

    Avante!!!! Serei Policial Federal!

  • Questao errada.

    Os parênteses são utilizados para indicar que a ideia intercalada é acessória, ou seja, algo a mais para a construção do texto, sem o qual ainda se conseguiria atingir o objetivo comunicativo. O travessão, por sua vez, tem finalidade oposta: serve para dar ênfase, para destacar o elemento por ele intercalado.

  • ERRADO

    “Como diz o sacerdote, em triste zombaria (seria mesmo zombaria?)

    Um dos usos de parêntesis é para isolar orações inferentes ou intercaladas.

  • Uso de travessões:

    • mudança de interlocutor;
    • início de fala de personagem;
    • explicação.
  • O erro está só na parte que afirma que é uma digressão?Ou seria errado colocar travessão tb?

  • O professor do Gran Cursos afirma que é uma digressão sim. Ele exclica a questão nesse vídeo no tempo 57min40s: https://www.youtube.com/watch?v=D6yhFOXd_hc

  • Pessoal, dica rápida pra quem busca carreiras policiais e quer rapidez e qualidade nos estudos, meu esposo foi aprovado na PRF estudando também por:

    Mapas Mentais para concurso da polícia: https://ev.braip.com/ref?pv=prorvx3x&af=afixvqpz9

    Guia do POLICIAL APROVADO: https://ev.braip.com/ref?pv=propgmn4&af=afi5x1jg9

    DICA: ESTUDAR 10 MAPAS MENTAIS + 30 Questões do QConcurso POR DIA!!

    ESPERO TER AJUDADO!!!

    Seja constante essa é a única formula do sucesso.

  • Gab e!! o erro da questão está em dizer que é digressão! Na questão, ocorreu um oração intercalada sobre o próprio tema (pode ser travessão, vírgula, parênteses).

    Digressão: Em Literatura, digressão é um recurso utilizado pelo narrador para afastar a atenção sobre alguma ação da história principal. Desta forma, o narrador pode iniciar um tema secundário pouco importante para a trama, ou refletir sobre um assunto que foge da narrativa principal.