SóProvas


ID
637654
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Congonhas - MG
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

É tempo de pós-amor

   Cansei de amor! Quantos filmes, entrevistas, artigos, livros sobre amor cruzaram seu caminho ultimamente? Em uma semana, assisti a um vídeo, vi um filme, li meio livro e participei de um debate na televisão. Tudo sobre amor. E ouvi as pessoas – provavelmente também eu própria – dizerem coisas pertinentes e bem ditas que, de tão pertinentes e repetidas, já se tornaram chavões comportamentais, e parecem fichas de computador dissecadas de qualquer verdade emocional. E de repente está me dando uma urticária na alma, um desconforto interno que em tudo se assemelha à indigestão.

    Estamos fazendo com o amor o que já fizemos com o sexo. Na década passada parecia que tínhamos reinventado o sexo. Não se pensava, não se falava, não se praticava outro assunto. Toda a nossa energia pensante, todo o nosso esforço vital pareciam concentrados na imensa cama que erguíamos como única justificativa da existência humana. Transformamos o sexo em verdade. Adoramos um novo bezerro de ouro.

    Mas o ouro dos bezerros modernos é de liga baixa, que logo se consome na voracidade da mass media. O sexo não nos deu tudo o que dele esperávamos, porque dele esperávamos tudo. E logo a sociedade começou a olhar em volta, à procura de um outro objeto de adoração. Destronado o sexo, partiu-se para a grande festa de coroação do amor.

  Agora, aqui estamos nós, falando pelos cotovelos, analisando, procurando, destrinchando. E desgastando. Antes, quando eu pensava numa conversa séria, direita, com a pessoa que se ama, sabia a que me referia. Mas agora, quando ouço dizer que “o diálogo é fundamental para a manutenção dos espaços”, não sei o que isso quer dizer, ou melhor, sei que isso não quer dizer mais nada. Antes, quando eu pensava ou dizia que amor é fundamental, tinha a exata noção da diferença entre o fundamental e o absoluto. Mas agora, quando eu ouço repetido de norte a sul, como num gigantesco eco, que “a vida sem amor não tem sentido”, fico com a impressão de estar ouvindo um slogan publicitário e me retraio porque sei que estão querendo me impor um produto.

    A vida sem amor pode fazer sentido, e muito. É bom que a gente recomece a dizer isso. Mesmo porque há milhões de pessoas sem amor, que viveriam bem mais felizes se de repente a voz geral não lhes buzinasse nos ouvidos que isso é impossível. O mundo só andou geometricamente aos pares na Arca de Noé. Fora disso, anda emparelhado quem pode, quando pode. E o resto espera uma chance, sem nem por isso viver na escuridão.

   Antes que se frustrem as expectativas, como aconteceu com o sexo, seria prudente descarregar o amor, tirar-lhe dos ombros a responsabilidade. Ele não pode nos dar tudo. Nada pode nos dar tudo. Porque o tudo não existe. O que existe são parcelas, que, eternamente somadas e subtraídas, multiplicadas e divididas, nos aproximam e afastam do tudo. E a matemática dessas parcelas pode ser surpreendente: quando, como está acontecendo agora, tentamos agrupá-las todas em cima de uma única parcela – o amor −, elas não se somam, pelo contrário, se fracionam, causando o esfacelamento da parcela-suporte.

     Amor criativo é ótimo, dizem todos. E é verdade. Mas melhor ainda é pegar uma parte da criatividade que está concentrada no amor, e jogá-la na vida. Solta, ela terá possibilidades de contaminar o cotidiano, permear a vida toda e voltar a abastecer o amor, sem deixar-se absorver e esgotar por ele. Dedicar-se à relação é importante, dizem todos. E é verdade. Mas qualquer um de nós tem inúmeras relações, de amizade, vizinhança, sociais, e anda me parecendo que concentrar toda a dedicação na relação amorosa pode custar o empobrecimento das outras.

   Sim, o amor é ótimo. Porém acho que vai ficar muito melhor quando sair do foco dos refletores e passar a ser vivido com mais naturalidade. Quando readquirirmos a noção de que não é mais vital do que comer e banhar o corpo em água fria nem mais tranquilizador do que ter amigos e estar de bem com a própria cara. Quando aceitarmos que não é o sal da terra, simplesmente porque a terra é seu próprio sal, e é ela que dá sabor ao amor.

(Colasanti, Marina, 1937 – Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Rocco, 1996) 

Quanto à classe gramatical das palavras sublinhadas, tem-se a correspondência correta em:

Alternativas
Comentários
  • (a, os, as) são pronomes demonstrativos quando se referem à aquele (s),aquela (s), aquilo, isso.

    Recuso o que eles falam. (aquilo)
  • RESPOSTA CORRETA: LETRA   "A"   

    O artigo "o" é pronome demonstrativo por poder ser substiuído por "aquilo",  pronome demonstrativo.
  • Não entendi pq é a letra "a"
  • O(s), A(s) também podem ser pronome demonstrativo!

    quando:

    antecederem o QUE e puderem ser substituídos por AQUELE(S), AQUELA(S), AQUILO.

    Ex.: Não ouvi o que disseste
           Não ouvi aquilo que disseste

  • trocando:  a) “ que” = o qual ;  “o” = aquilo ( temos pronomes),

    Sendo  o “que” (pronome relativo)  e  “o” (pronome demonstrativo).

    Nas demais temos: b) “que” = isso – (Conjunção integrante) ;

    c) que =retirado da frase não altera o sentido – sem função- (partícula expletiva ou realce);

    d) para a= não podemos usar duas preposições –(artigo);  

    e)o verbo voltar no sentido de mudar para a posição anterior, fazer mudar de opinião e transitivo indireto “a” (preposição)
    Não podendo ser craseado por estar diante de verbo .

    • a) “Estamos fazendo com o amor que já fizeram com o sexo.” (2º§) – pronome demonstrativo  RESPOSTA CORRETA- "o" se referindo a aquilo
    • b) “Na década passada parecia que tínhamos reinventado o sexo.” (2º§) – pronome relativo - Conjunção integrante, "que" introduzindo Or.Subord. Substantiva Subjetiva (função de sujeito)
    • c) “... que logo se consome...” (3º§) – conjunção - Pronome Relativo
    • d) “... o diálogo é fundamental para manutenção dos espaços...” (4º§) – preposição- artigo, é variável: as manutenções, a manutenção
    • e) “... e voltar a abastecer o amor...” (7º§) – artigo- Preposição. Quem volta, volta a algo.
    •  

     

  • Se em uma frase for possível substituir o 'QUE' pelo pronome 'QUAL',  a função do 'QUE' será de pronome relativo. Caso contrário, será conjunção integrante.

      “Na década passada parecia que tínhamos reinventado o sexo.” (2º§) – pronome relativo

    No exemplo da questão, se substituírmos o
    'que' por 'o qual', fica sem sentido: ' Na década passada parecia O QUAL tínhamos..' No caso, o'que' tem função de conjunção integrante.


    ;)
  • Na verdade, acredito que na "b", o que inicia or. subord. substantiva SUBJETIVA. Isso parecia (na década passada) (isso = sujeito)
  • Quanto aos pronomes demonstrativos (o, os, as) podem ser facilmente substituídos por AQUELE, AQUELA OU AQUILO

    Quanto aos pronomes relativos "que" pode ser facilmente substituído por A QUAL, O QUAL

  • Rafael,a explicação da  Adriana é muito clara,pois quando antes do QUE vier os artigosdefinidos:a, as, o,os,é porque eles são pronomes demonstrativos.

     

  • a) “Estamos fazendo com o amor o que já fizeram com o sexo.” (2º§) – pronome demonstrativo  - VALOR de AQUILO.

  • Estamos fazendo com o amor o que já fizemos com o sexo./// Estamos fazendo com o amor aquilo que já fizemos com o sexo. Basta trocar o  "o" por " aquilo" . Pronome demostrativo

     

  • a) “Estamos fazendo com o amor o que já fizeram com o sexo.” (2º§) – pronome demonstrativo

    O QUE: CASO D.R. = Demonstrativo + RELATIVO

     

    b) “Na década passada parecia que tínhamos reinventado o sexo.” (2º§) – pronome relativo

    Parecia ISSO : Conjunção Integrante

     

    c) “... que logo se consome...” (3º§) – conjunção  

    Se = pronome

     

     

    d) “... o diálogo é fundamental para  a   manutenção dos espaços...” (4º§) – preposição

    a = artigo

     

     

    e) “... e voltar a abastecer o amor...” (7º§) – artigo

     

    Quem volta, volta A= PREPOSIÇÃO

  • Putaria, mania besta de achar que é uma questão e chutar na outra! Sabia a certa e chutei na ERRADA!

     

  • "O trocado por AQUILO

    tem que ser demonstrativo,

    se por QUE vier seguido

    esse QUE é relativo."

     

    Autora: professora Flávia Rita

    Melodia: Ciranda Cirandinha

    : )

     

     

  • Alguém pode me explicar o que é o "se" na letra C?