SóProvas


ID
739867
Banca
CEPERJ
Órgão
PROCON-RJ
Ano
2012
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO 1:

                                      O LENDÁRIO PAÍS DO RECALL

                                                                                                         Moacyr Scliar

     “MINHA QUERIDA DONA: quem lhe escreve sou eu, a sua fiel e querida boneca, que você não vê há três meses. Sei que você sente muitas saudades, porque eu também sinto saudades de você. Lembro de você me pegando no colo, me chamando de filhinha, me dando papinha... Você era, e é, minha mãezinha querida, e é por isso que estou lhe mandando esta carta, por meio do cara que assina esta coluna e que, sendo escritor, acredita nas coisas da imaginação.

      Posso lhe dizer, querida, que vivi uma tremenda aventura, uma aventura que em vários momentos me deixou apavorada. Porque tive de viajar para o distante país do recall.

      Aposto que você nem sabia da existência desse lugar; eu, pelo menos, não sabia. Para lá fui enviada. Não só eu: bonecas defeituosas, ursinhos idem, eletrodomésticos que não funcionavam e peças de automóvel quebradas. Nós todos ali, na traseira de um gigantesco caminhão que andava, andava sem parar.

      Finalmente chegamos, e ali estávamos, no misterioso e, para mim, assustador país do recall. Um homem nos recebeu e anunciou, muito secamente, que o nosso destino em breve seria traçado: as bonecas (e os ursinhos, e outros brinquedos, e objetos vários) que tivessem conserto seriam consertados e mandados de volta para os donos; quanto tempo isso levaria era imprevisível, mas três meses era o mínimo. Uma boneca que estava do meu lado, a Liloca, perguntou, com os olhos arregalados, o que aconteceria a quem não tivesse conserto. O homem não disse nada, mas seu sorriso sinistro falava por si.

      Passamos a noite num enorme pavilhão destinado especialmente às bonecas. Éramos centenas ali, algumas com probleminhas pequenos (um braço fora do lugar, por exemplo), outras já num estado lamentável. Estava muito claro que para várias de nós não haveria volta.

      Naquela noite conversei muito com minha amiga Liloca -sim, querida dona, àquela altura já éramos amigas. O infortúnio tinha nos unido. Outras bonecas juntaram-se a nós e logo formamos um grande grupo. Estávamos preocupadas com o que poderia nos suceder.

      De repente a Liloca gritou: “Mas, gente, nós não somos obrigados a aceitar isso! Vamos fazer alguma coisa!”. Nós a olhamos, espantadas: fazer alguma coisa? Mas fazer o quê?

      Liloca tinha uma resposta: vamos tomar o poder. Vamos nos apossar do país do recall.

      No começo, aquilo nos pareceu absurdo. Mas Liloca sabia do que estava falando. A mãe da dona dela tinha sido uma militante revolucionária e sempre falava nisso, na necessidade de mudar o mundo, de dar o poder aos mais fracos.

      Ora, dizia Liloca, ninguém mais fraco do que nós, pobres, desamparados e defeituosos brinquedos. Não deveríamos aguardar resignadamente que decidissem o que fazer com a gente.

      De modo, querida dona, que estamos aqui preparando a revolução. Breve estaremos governando o país do recall. Mas não se preocupe, eu a convidarei para uma visita. Você poderá vir a qualquer hora. E não precisará de recall para isso.”

                                                                                                              Folha de S. Paulo (SP) 25/2/2008



Os verbos considerados impessoais devem se manter invariáveis, no singular, segundo as normas de concordância verbal.

Há um caso de verbo impessoal no seguinte exemplo do texto:

Alternativas
Comentários
  • O verbo haver empregado no  sentido de existir, ocorrer ou na indicação de tempo decorrido:
                     
                        Há seres vivos em outros planetas?
                   Houve muitas greves no último ano.
                   Há dias não chove.


    Graça e Paz
  • Com base nessa questão, o cadidato não precisaria saber as particularidade do verbo haver para acertá-la,porque bastava ele reconstruí-la com sujeitos no plural e fazer a devida concordância.

    Detalhe: nunca presenciei uma banca tão bondosa , uma vez que o enunciado já ,praticamente, dava a dica à resposta:

    "Os verbos considerados impessoais devem se manter invariáveis, no singular, segundo as normas de concordância verbal"

    Abaixo, as questões gramaticais quanto a ele:

    "

    CONCORDÂNCIA DO VERBO HAVER

    “Haja paciência!” Todos já ouvimos essa expressão. Esse “haja” é o verbo haver no presente do subjuntivo.
    Esse verbo talvez seja o mais desconhecido quanto às suas flexões. Muitas vezes é usado sem que o usuário tenha
    consciência de que o está usando.

    “Estive aqui há dez anos”. O “há” presente na oração é o verbo haver e pode ser trocado por outro verbo: “Estive aqui
    faz dez  anos”. 

    Existem deslizes típicos de quem não conhece as características do verbo haver. Quando se diz “Há muitas pessoas na
    sala”, conjuga-se o verbo haver na terceira pessoa do singular do presente do indicativo. 

    Note que não foi feita a concordância do verbo haver com a palavra pessoas. Não se poderia dizer “Hão pessoas”.
    O verbo haver, quando usado com o sentido de existir, fica no singular. Se fosse usado o verbo existir, este sim iria para
    o plural: “Existem muitas pessoas na sala” 

    A confusão tende a aumentar quando o verbo haver é usado no passado ou no futuro. Em certo trecho, a versão feita
    pelo conjunto “Os incríveis” da canção “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones”, diz:
    “… Não era belo mas, mesmo assim, havia mil garotas a fim….” 

    Nesta canção o verbo haver foi empregado com o sentido de existir. Logo, está correta a versão, o verbo no passado e
    no singular.
    No Brasil, fala-se “cabe dez”, “sobrou 30”, “falta 30”. Geralmente não se faz concordância. Mas, quando não é
    necessário fazer, erra-se. “Houveram muitos acidentes naquela rodovia”. Errado. 

    O correto é “Houve muitos acidentes naquela rodovia”. Haverá acidentes, houve acidentes, há pessoas, havia pessoas,
    houve pessoas. 

    Vale repetir: “O verbo haver quando empregado com o sentido de existir, ocorrer, acontecer, fica no singular,
    independentemente do tempo verbal."

    fonte:http://www.colegioweb.com.br/portugues/concordancia-dos-verbos-fazer-haver-e-ser.html



  • Confesso que cai. Considerei apenas o verbo "ver", desconsiderando o "há", de haver. 

    Já que o verbo "ver" é variável, nem me dei ao trabalho de analisar mais friamente o restante da questão. 

    Mais atenção, Rono!
  • Será que existe banca mais fácil que a CEPERJ???
    Elá já diz no enunciado o que o concursando deve fazer/procurar.
    Ela quase dá uma aula sobre verbo impessoal. rsrsrs =)
  • CARA COLEGA Karoline discordo de vc nesse ponto, sempre quando estamos fazendo uma prova estamos com pressa o que é um erro que corrigimos com o tempo apanhando o comum é não prestar atenção no enunciado e cair na besteira de marcar o que não se pede nesta questão por exemplo não existem ou se preferir não "HÁ" alternativa incorreta e sim uma regra especifica, só acertei a questão por que li novamente as bancas se utilizam desse artifício no intuito de dar corda pra vc se inforcar a propósito não é uma "CRÍTICA" e sim um "ALERTA".
  • VERBOS IMPESSOAIS:

    - Verbo haver: sentido de existir. Ex: Houve problemas.

    - Verbo haver: sentido de tempo decorrido. Ex: Há anos não nos vemos.

    - Verbo fazer: sentido de tempo decorrido. Ex: Faz anos que não nos vemos.

    - Verbos que indicam fenômenos da natureza. Ex: Choveu muito.

  • O verbo “haver”, indicando tempo passado é impessoal, ou seja, só pode ser conjugado na terceira pessoa do singular. GABARITO: A.