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Mais denso, menos trânsito
Henrique Meirelles
As grandes cidades brasileiras estão congestionadas e em
processo de deterioração agudizado pelo crescimento econômico
da última década. Existem deficiências evidentes em infraestrutura,
mas é importante também considerar e estudar em profundidade
o planejamento urbano.
Muitas grandes cidades adotaram uma abordagem de desconcentração,
incentivando a criação de diversos centros urbanos,
na visão de que isso levaria a uma maior facilidade de deslocamento.
Mas o efeito tem sido o inverso. A criação de diversos centros
e o aumento das distâncias multiplicam o número de viagens,
dificultando o escasso investimento em transporte coletivo
e aumentando a necessidade do transporte individual.
Se olharmos Los Angeles como a região que levou a desconcentração
ao extremo, ficam claras as consequências. Numa
região rica como a Califórnia, com enorme investimento viário,
temos engarrafamentos gigantescos que viraram característica
da cidade.
Os modelos urbanos bem-sucedidos são aqueles com elevado
adensamento e predominância do transporte coletivo, como
mostram Manhattan, Tóquio e algumas novas áreas urbanas chinesas.
Apesar da desconcentração e do aumento da extensão urbana
verificados no Brasil, é importante desenvolver e adensar
ainda mais os diversos centros já existentes com investimentos
no transporte coletivo.
O centro histórico de São Paulo é demonstração inequívoca
do que não deve ser feito. É a região da cidade mais bem servida
de transporte coletivo, com infraestrutura de telecomunicação,
água, eletricidade etc. Conta ainda com equipamentos de importância
cultural e histórica que dão identidade aos aglomerados
urbanos. Seria natural que, como em outras grandes cidades, o
centro de São Paulo fosse a região mais adensada da metrópole.
Mas não é o caso. Temos, hoje, um esvaziamento gradual do
centro, com deslocamento das atividades para diversas regiões
da cidade.
É fundamental que essa visão de adensamento com uso
abundante de transporte coletivo seja recuperada para que possamos
reverter esse processo de uso cada vez mais intenso do
transporte individual devorando espaços viários que não têm a
capacidade de absorver a crescente frota de automóveis, fruto
não só do novo acesso da população ao automóvel mas também
da necessidade de maior número de viagens em função da distância
cada vez maior entre os destinos da população.
(Folha de S.Paulo, 13.01.2013. Adaptado)
Na opinião do autor do texto,