SóProvas


ID
952738
Banca
FCC
Órgão
DPE-RS
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: As questões de números 1 a 8 referem-se ao texto seguinte.  


Vista cansada


      Acho que foi Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Essa ideia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que Hemingway tenha acabado como acabou. Fugiu enquanto pôde do desespero que o roía − e daquele tiro brutal que acabou dando em si mesmo.
      Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
      Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou trinta e dois anos a fio pelo mesmo hall do prédio de seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer. Como era ele? Sua cara? Sua voz? Não fazia a mínima ideia. Em trinta e dois anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer.
      O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos. Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz dever pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia a dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.


(Otto Lara Resende, Bom dia para nascer)



Há uma relação de causa e efeito entre as seguintes afirmações:

Alternativas
Comentários
  • correta D

    O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem e Não, não vemos

    os habitos sujam os olhos certo... essa é a causa de não ver e o efeto é não ver... porque?  oras... porque os olhos estão sujos pelos hábitos
  • O professor Arenildo Santos trata, de forma enfática, deste tema no seu curso de interpretação textual.
    Confesso que subestimava pela facilidade, mas essa questão me obrigou a dedicar atenção.


    a) de tanto ver, a gente banaliza o olhar  /   e Parece fácil, mas não é
      Observem que, perversamente, há uma relação de causa e efeito. Ela ocorre na primeira afirmação, no entanto. O comando da questão pedia "entre as afirmações".

    c) Lá estava sempre, pontualíssimo  /   e Para ser notado, o porteiro teve que morrer
    Nessa, outra truculência, mas diferente. Novamente ocorreu apenas numa das afirmações, desta vez, contudo, foi uma relação de efeito e causa.
     
    d)
    O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem  /  e Não, não vemos
    Gabarito da questão
    Por que não vemos? Porque os olhos estão sujos e com baixa voltagem. Veja que também há uma relação de causa e efeito na primeira afirmação.


     
  • Não entendi pq a letra A esta errada.
  • Concordo com  Alessandro Santos . Só não concordo que ,realmente, a FCC tenha levado isso em consideração, dado a inteligência do caso.
  • Sheyla Maciel, boa tarde.

    Irei tentar ajudá-la.

    A banca é muito maliciosa, por isso, logo de cara, pôs na primeira afirmação, das duas que constam na letra "a", uma com causa (de tanto ver) e consequência (a gente banaliza o olhar). No entanto, o que pede a cabeça da questão é o seguinte: relação de causa e efeito entre as duas afirmações. Estas são a) de tanto ver, a gente banaliza o olhar e b) parece fácil, mas não é.

    A letra "b" não é consequência da "a", percebe?

    Já na letra "d", gabarito da questão, a primeira afirmação diz que o habito suja os olhos e baixa a voltagem ... você consegue perceber que uma consequência, um efeito que a sujeira nos olhos vai causar é o de não enxergarmos?

    Um forte abraço.

  • Êta questão lasqueira, e eu na dúvida entra A e C kkkk

  • Alguém pode me explicar a diferença entre relação de causa e efeito e relacao de causa e consequência?

  • Na letra c) não há relação de causa e efeito, mas sim de condicionalidade: precisa morrer (condição), para ser notado.

    Na verdade, o pega-ratão é simplesmente que as frases a serem relacionadas estão separadas pelo "e". Logo, na letra a), o examinador queria saber se há relação de causalidade entre "de tanto ver, a gente banaliza o olhar" (1a. frase) e "Parece fácil, mas não é" (2a. frase)Ou seja, mais uma vez, a atenção do candidato se mostra determinante.

  • Ruciane Lima, efeito é mesma coisa que consequência...
     
    "O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos."


    O hábito suja os olhos quer dizer que o hábito impede as pessoas de enxergarem certas coisas...
    Para descobrir a relação de causa e consequência (ou efeito):
    O HÁBITO SUJA OS OLHOS PORQUE NÃO VEMOS (não faz sentido)
    NÃO VEMOS PORQUE O HÁBITO SUJA OS OLHOS (faz sentido) - a oração que vem após o "porque" é a CAUSA, a outra é a consequência. Ou seja, "o hábito suja os olhos" é a causa, "não vemos" é a consequência (ou efeito)

  • Já respondi umas 15 questões só dessa forma que a FCC gosta de cauxa x efeito e não peguei a manha ainda. São questões muito bem elaboradas e que temos que responder cada uma como se fosse a primeira. Somente a prática vai fazer nossos olhos ficarem aguçados a esse tipo de interpretação. Então, mãos à obra, galera. Vamos praticar. Aqui podemos errar à vontade! 

  • Estou com a mesma sensação Messias, fiz quase todas do site e mesmo assim não tenho segurança na hora de marcar.

  • Aiinda não me convenci do erro da letra A, que barbaridade.

  • Há uma relação de causa e efeito entre as seguintes afirmações:      ( NÃO PEDIU ORDEM/ NA SEQUÊNCIA...) 

     

    A  "A" Para eu está certa, MAS FCC NÉ...

     

     FEZ COM QUE...   O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem  /

     

    O FATO DE...     e Não, não vemos

  • Melhorei um pouco, dessa vez consegui pensar com um pouco mais de facilidade.

    O fato do  hábito sujar os olhos faz com que a gente não veja.

  • porque a a está errada?

  • de tanto ver, a gente banaliza o olhar e Parece fácil, mas não é (2o parágrafo)

    A alternativa A) está errada pq ele pede para encontrarmos relação de causa e consequência entre as duas afirmações, e embora a primeira afirmação realmente tenha uma sentido de Causa e Consequência nela mesma, ela não tem esse mesmo sentido em relação à segunda frase.

    De tanto ver (causa), a gente banaliza o olhar (consequência).

    Quando comparamos a primeira afirmação em relação à segunda não encontramos esse mesmo sentido.

    O fato De tanto ver, a gente banaliza o olhar, faz com que Pareça fácil, mas não é.

    Se não existisse o complemento da primeira frase, até daria pra entender como causa e consequência:

    O fato De tanto ver, faz com que Pareça fácil, mas não é.

    Foi esse o jeito que eu entendi.

  • O meu raciocínio para eliminar a A:

    Sempre que houver advérbio de intensidade em uma das orações, será uma oração subordinada consecutiva.