SóProvas


ID
1090855
Banca
FGV
Órgão
CONDER
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Tecnologia


     Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele responde. Repreende.
Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz "Errado". Não diz "Burro", mas está implícito. É pior, muito pior. Às vezes, quando a gente erra, ele faz "bip". Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: "Bip!" "Olha aqui, pessoal: ele errou." "O burro errou!"

     Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver programando. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria "bip" em público.

     Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando à carroça. Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de relacionamento, mais formal e exigente.
Mas é fascinante. Agora compreendo o entusiasmo de gente como Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida profissional em antes dele e depois dele. Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais rápido, jamais nos sujará os dedos, mas acho que estou sucumbindo. Sei que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar a ser meu amigo, mas retiro tudo o que pensei sobre ele. Claro que você pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo, precavidamente, mas juro que é sincero.

Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.

(VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Globo)

A norma culta é respeitada nas frases a seguir, à exceção de uma.
Assinale-a.

Alternativas
Comentários
  • Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em (à) casa e bati na (à) minha máquina.

  • Cheguei à casa

  • Quem chega, chega “a” algum lugar

  • Colegas, sobre o verbo BATER, cuidado, vejam:

    bater - transitivodireto quando significa dar pancada em alguma coisa, ou vencer alguém:“bater pregos” ; “ela bateu o irmão no jogo”; transitivoindireto quando significa dar pancadas em alguém: “o pai bateu no filho”.

    Note-se a diferença entre:

    “bater à porta” - alguém batepara se anunciar e

    “bater na porta”-  alguém dá pancadas na porta, não paraanuncia-se, mas por outra razão qualquer. 

    Desta forma entendo que a parte ...", cheguei em casa e bati na minha máquina. " está de acordo com a norma culta!

  • Depois de muito refletir sobre a questão, cheguei a seguinte conclusão: o erro está na falta de vírgula separando a oração intercalada. Vejam:


    Quando saí da redação do jornal (1), depois de (eu) usar o computador pela primeira vez (2), cheguei em casa e bati na minha máquina. 


    Em 1, tem-se oração subordinada adverbial temporal iniciando o período; ela deve vir separada por vírgula da principal. 


    Em 2, há uma oração intercalada entre a subordinada e a principal. A intercalada deve estar entre vírgulas. 


    Em 3, é a oração principal. 

  • Não há problema em ele chegar em casa e espancar a máquinha dele, heheh, o problema está em "em casa". 

    1- Chegar/ ir – deve ser introduzido pela preposição “a” e não pela preposição “em”.

  • Tenho que discordar do colega Alisson.

    O erro da frase está justamente na preposição "em" de "cheguei em casa". 

    A vírgula não caberia entre "jornal" e "depois", pois a oração "...depois de usar o computador..." está explicando em qual das muitas vezes que o autor saiu da redação e foi para casar bater na máquina. Se tivesse a vírgula, o sentido mudaria, pois significaria que o autor só saiu uma vez da redação do jornal, a vez que usou o computador pela primeira vez.


    Para completar, como outros colegas já esclareceram:

    Ir a, chegar a, voltar a..  - verbos que indicam movimentação exigem a preposição a.

  • cheguei a casa...

    http://escreverbem.com.br/cheguei-em-ou-a/
  • Ir a, chegar a, voltar a..  - verbos que indicam movimentação exigem a preposição "a"

  • Na c) a forma comparativa "mais inteligente" não exige o complemento ''do que''?

  • Mais um detalhe: chegar em/de - indica o meio de transporte que utilizou pra chegar

  • Letra A.

     

    Comentário:

     

    O problema de regência se encontra na alternativa (A), pois o verbo “chegar” rege a preposição “a”, e não “em”. Assim,

    a construção correta é:
    “Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei a casa e bati na minha máquina”.

    Você verá adiante que a palavra “casa”, sem nenhuma caracterização, não admite crase. Além disso, a expressão “bati na

    maquina” transmite a ideia de dar pancadas, golpes em alguma coisa ou alguém. Essa interpretação tem coerência na frase.

    As demais frases não apresentam dificuldades na regência e estão corretas.

     

     

    Gabarito: A

     

    Prof. Décio Terror

  •  

    Gabarito letra A.

     

     

    "Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina".

     

    Quem vai, vai a...   Quem chega, chega a...

     

    Lembrando que o "a" recebe o acento grave nos casos em que o substantivo "casa" for especificado, delimitado. Exemplo:

    Fui a casa.

    Fui à casa de João.

     

    ---------------------------------------------------------------------------------------------------

     

    "Outra coisa: ele é mais inteligente que você".

     

    Quando há o estabelecimento de uma comparação, como no enunciado acima, o uso do "mais que" ou "mais do que" é facultativo. De maneira que ambas as construções são "agasalhadas", como diria o professor Arenildo, pela gramática.

  • Concordo com Alisson Abreu, o erro considerado pela FGV foi o emprego incorreto da vírgula, o que, aliás, a banca adora.

    Mas eu discordo do gabarito, porque a letra B não respeita a norma culta ao iniciar a frase com gerúndio.

    Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha”.

  • "Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe".

    Não tem nenhum = não é um redundância?

    O correto não seria: "Sabe muito mais coisa e não tem pudor em dizer que sabe"? ou "Sabe muito mais coisa e nenhum pudor em dizer que sabe?"

  • Coisa, na letra d, não era pra está no plural?