SóProvas


ID
1090861
Banca
FGV
Órgão
CONDER
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Tecnologia


     Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele responde. Repreende.
Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz "Errado". Não diz "Burro", mas está implícito. É pior, muito pior. Às vezes, quando a gente erra, ele faz "bip". Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: "Bip!" "Olha aqui, pessoal: ele errou." "O burro errou!"

     Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver programando. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria "bip" em público.

     Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando à carroça. Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de relacionamento, mais formal e exigente.
Mas é fascinante. Agora compreendo o entusiasmo de gente como Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida profissional em antes dele e depois dele. Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais rápido, jamais nos sujará os dedos, mas acho que estou sucumbindo. Sei que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar a ser meu amigo, mas retiro tudo o que pensei sobre ele. Claro que você pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo, precavidamente, mas juro que é sincero.

Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.

(VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Globo)

Assinale a alternativa em que os dois termos sublinhados possuem o mesmo valor semântico e gramatical.

Alternativas
Comentários
  • Letra a) O primeiro mais é intensidade, o segundo mais é quantidade.

  • B) Está subentendido, nas suas relações com o computador, que (Conjunção integrante) você jamais aproveitará metade das coisas que (Pronome relativo)ele tem para oferecer".

    C) "A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo (ratificar)ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo (concessão) nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria 'bip' em público".

     e) "Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta a (preposição) inserir entre uma linha e outra a (artigo) palavra que faltou na hora, e que nele fo i substituída por um botão...".

  • Alguém poderia me dizer qual a classificação gramatical dos "mesmo" na alternativa "C"?

  • Felipe, o "primeiro mesmo" é Substantivo, pois está precedido de artigo. Já o "segundo mesmo" é uma conjunção subordinativa concessiva. 

    Espero tê-lo ajudado!!!

  • a) adjetivo / advérbio; b) conjunção / pronome; c) adjetivo / conjunção; d) conjunção / conjunção (correta)e) pronome / artigo
  • Conjunção? Não seria preposição? 

    "teremos" no caso seria VTDI, quem tem, tem algo com alguém: Teremos a mesma confortável cumplicidade COM ele.

    "tínhamos" tb seria VTDI: Tínhamos a mesma cumplicidade COM a velha máquina.

    Alguém pode corrigir?

  • Qual o erro da letra A? 

  • a) Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe".

     

    Outra coisa: ele é mais inteligente que você.

    O "mais" é advérbio porque está intensificando o adjetivo "inteligente";

     

    Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe".

    O "mais" é pronome indefinido porque ele se refere à COISA, que é substantivo.

     

    #DICA:

    Quando "mais" se refere ao substantivo é pronome indefinido. E o "mais" quando se refere a advérbio, adjetivo e verbo é advérbio.

     

    B) "Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer".
                                                                                                  Pronome relativo                                           Pronome relativo

    Ambos são pronomes relativos, porém os valores semânticos são diferentes. O primeiro se refere ao computador e o segundo se refere à metade das coisas.

     

    C) "A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria 'bip' em público".
    O primeiro "mesmo" é um um adjetivo e possui valor de igual: "... o idêntico ar". O segundo "mesmo" é uma conjunção concessiva, exprime valor contrário da oração principal.

     

    D) "Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina".
    Ambos são preposição e possuem o valor de companhia. Basta substituir "está certo, jamais teremos na companhia dele a mesma companhia confortável cumplicidade que tínhamos com a companhia da velha máquina".

     

    E) "Sinto falta do papel e da f iel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele fo i substituída por um botão...".
    Primeiro "a" é preposição, porque vem antes do verbo "inserir". Já o segundo "a" é um artigo porque acompanha o substantivo "palavra".

     

     

    Espero ter ajudado, bons estudos.

     

    OBS.: Pessoal, cuidado em comentar questões de maneira errada, porque isso prejudica ao invés de ajudar as pessoas.

     

    Fonte: Professora Elis Junqueira.

     

     

  • Eu vejo o mais da letra A se referindo a muito tbm. ''muito mais''

    Adverbio modifica advérbio tbm,então nao entendi pq está errada.

    Letra C : o artigo na frente de mesmo o substantivaria ,então vejo o mesmo como substantivo

  • "Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe".

    MAIS QUE - CONJUNÇÃO COMPARATIVA.

    MAIS COISA - PRONOME INDEFINIDO.