SóProvas


ID
1157584
Banca
FGV
Órgão
FUNARTE
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                    Brasileiro, Homem do Amanhã

(Paulo Mendes Campos)


          Há em nosso povo duas constantes que nos induzem a sustentar que o Brasil é o único país brasileiro de todo o mundo. Brasileiro até demais. Colunas da brasilidade, as duas colunas são: a capacidade de dar um jeito; a capacidade de adiar.
          A primeira é ainda escassamente conhecida, e nada compreendida, no Exterior; a segunda, no entanto, já anda bastante divulgada lá fora, sem que, direta ou sistematicamente, o corpo diplomático contribua para isso.
          Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam apenas por humorismo (nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã), não é no Brasil uma deliberada norma de conduta, uma diretriz fundamental. Não, é mais, é bem mais forte do que qualquer princípio da vontade: é um instinto inelutável, uma força espontânea da estranha e surpreendente raça brasileira.
          Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada).
          Adiamos em virtude dum verdadeiro e inevitável estímulo inibitório, do mesmo modo que protegemos os olhos com a mão ao surgir na nossa frente um foco luminoso intenso. A coisa deu em reflexo condicionado: proposto qualquer problema a um brasileiro, ele reage de pronto com as palavras: logo à tarde, só à noite; amanhã; segunda-feira; depois do Carnaval; no ano que vem.
          Adiamos tudo: o bem e o mal, o bom e o mau, que não se confundem, mas tantas vezes se desemparelham. Adiamos o trabalho, o encontro, o almoço, o telefonema, o dentista, o dentista nos adia, a conversa séria, o pagamento do imposto de renda, as férias, a reforma agrária, o seguro de vida, o exame médico, a visita de pêsames, o conserto do automóvel, o concerto de Beethoven, o túnel para Niterói, a festa de aniversário da criança, as relações com a China, tudo. Até o amor. Só a morte e a promissória são mais ou menos pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral da reforma, uma instituição sacrossanta no Brasil.
          Quanto à morte não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na Canção do Exílio, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele famoso poema cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã!”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis.
          Sim, adiamos por força dum incoercível destino nacional, do mesmo modo que, por obra do fado, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no Times, o português adora bacalhau, o alemão trabalha com um furor disciplinado, o espanhol se excita com a morte, o japonês esconde o pensamento, o americano escolhe sempre a gravata mais colorida.
          O brasileiro adia, logo existe.
          A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico. A verdade é que já está nos manuais. Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei no fim do volume algumas informações essenciais sobre nós e sobre a nossa terra. Entre poucos endereços de embaixadas e consulados, estatísticas, indicações culinárias, o autor intercalou o seguinte tópico:

                    Palavras

          Hier: ontem
          Aujourd’hui: hoje
          Demain: amanhã
          A única palavra importante é “amanhã”.
          Ora, este francês astuto agarrou-nos pela perna. O resto eu adio para a semana que vem.


Nos dois termos “conserto do automóvel” e “concerto de Beethoven” há a mesma relação sintática que, respectivamente, em:

Alternativas
Comentários
  • A questão aborda conhecimentos acerca da diferenciação de adjunto adnominal e complemento nominal, que segundo a própria Banca FGV, é estabelecer a diferença entre agente (adjunto) e paciente (complemento).

    Conserto de automóvel (paciente) / concerto de Beethoven (agente). A única alternativa que corresponde a esta sequência é a letra b. Invasão de cidade (paciente - complemento nominal) / invasão dos bárbaros (agente -adjunto adnominal).


  • conserto de algo  #  concerto de alguém

    invasão de algo   #   invasão de alguém

  • fgv adora diferir adj e complemento!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  • FGV = banca lixo


  • Complento nominal x adjunto adnominal preposicionado

    Se a expressão estiver ligada a substantivo abstrato com a preposição "de", será:

    adjunto adnominal se der ideia de "ação"

    complemento nominal se der ideia de "sofrer a ação"

    Vamos ao exercício:

    Enunciado: "Conserto de automóvel" => O automóvel é consertado, logo sofre a ação. É complemento nominal

    "Concerto de Beethoven" => O Beethoven que dá o show, logo pratica a ação. É Adjunto adnominal.

    Ou seja, teremos que achar a alternativa que tenha a 1ª CN e a 2ª Adj. adnominal.

    Alternativas:

    a) criação de galinhas / criação de uma nova estrada

    As galinhas são criadas. Sofrem a ação= CN/ A estrada é criada. Sofre a ação=CN

    1ªCN, 2ª CN = ERRRADA

    b)invasão da cidade / invasão dos bárbaros;

    A cidade é invadida. Sofre a ação=CN/ Os Bárbaros invadem a cidade. Praticam a ação=Adj. adnominal

    1CN, 2ª ADJ. ADN = CERTA

     

    ****Atenção: Essa é uma regra bem específica. Se a expressão ligada ao substantivo abstrato estivesse precedida de qualquer outra preposição que não fosse "de", seria de cara complemento nominal..sem fazer esse jogo de fazer/sofrer ação.

    Bons estudos.

  • Cara Nadyne, eu não sei o que admirar mais: sua explicação (show de bola!) ou sua foto (show de bola do mesmo jeito!).

    Valeu! 

  • Concerto com "c" e Conserto com "s".. 

  • Nos dois termos

    “conserto do automóvel”  - PACIENTE- CN (O automóvel não conserta nada, ele é consertado)

     “concerto de Beethoven” AGENTE- ADJ. ADN. (Beethovem que faz o concerto) 

     

    a) criação de galinhas (paciente) / criação de uma nova estrada;(paciente) 
    b) invasão da cidade (paciente) / invasão dos bárbaros (agente) - É A RESPOSTA 
    c) invenção da lâmpada(paciente) / invenção de novo aplicativo;(paciente)
    d) cópia de um documento(paciente) / cópia de uma assinatura(paciente);
    e) visão de uma ponte(paciente) / visão da paisagem.(paciente)

     

  • @Nadyne Almeida, sua explicação está excelente! Muito bo mesmo!

  • Letra B.

    • “do automóvel” é um complemento nominal.

    • “de Beethoven” é adjunto adnominal.

    a. Complemento nominal / complemento nominal.

    b. Complemento nominal / adjunto adnominal.

    c. Complemento nominal / complemento nominal.

    d. Complemento nominal / complemento nominal.

    e. Complemento nominal / complemento nominal. 

    Questão comentada pelo Prof. Elias Santana