SóProvas


ID
1241473
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Para responder a questão considere o texto abaixo.


         Ler um livro é desinteressar-se a gente deste mundo co-
mum e objetivo para viver noutro mundo. A janela iluminada noi-
te adentro isola o leitor da realidade da rua, que é o sumidouro
da vida subjetiva. Árvores ramalham. De vez em quando pas-
sam passos. Lá no alto estrelas teimosas namoram inutilmente
a janela iluminada. O homem, prisioneiro do círculo claro da
lâmpada, apenas ligado a este mundo pela fatalidade vegetativa
do seu corpo, está suspenso no ponto ideal de uma outra di-
mensão, além do tempo e do espaço. No tapete voador só há
lugar para dois passageiros: Leitor e autor.
        O leitor ingênuo é simplesmente ator. Quero dizer que,
num folhetim ou num romance policial, procura o reflexo dos
seus sentimentos imediatos, identificando-se logo com o pro-
tagonista ou herói do romance. Isto, aliás, se dá mais ou menos
com qualquer leitor, diante de qualquer livro; de modo geral, nós
nos lemos através dos livros.
        Mas no leitor ingênuo, essa lei dos reflexos toma a forma
de um desinteresse pelo livro como obra de arte. Pouco importa
a impressão literária, o sabor do estilo, a voz do autor. Quer di-
vertir-se, esquecer as pequenas misérias da vida, vivendo ou-
tras vidas desencadeadas pelo bovarismo da leitura. E tem ra-
zão. Há dentro dele uma floração de virtualidades recalcadas
que, não encontrando desimpedido o caminho estreito da ação,
tentam fugir pela estrada larga do sonho.
        Assim éramos nós então, por não sabermos ler nas en-
trelinhas. E daquela primeira fase de educação sentimental, que
parecia inevitável como as espinhas, passava quase sempre o
jovem monstro para uma crise de hipercrítica. Devido à neces-
sidade de um restabelecimento de equilíbrio, o excesso engen-
drava o excesso contrário. A pouco e pouco os românticos per-
diam terreno em proveito dos naturalistas. Dava-se uma verda-
deira subversão de valores na escala da sensibilidade e a fanta-
sia comprazia-se em derrubar os antigos ídolos. Formava-se
muitas vezes, coincidindo com manifestações mórbidas que são
do domínio da psicanálise, um pedantismo da clarividência, tão
nocivo como a intemperança imaginosa ou sentimental, e talvez
mais ingênuo, pois refletia um ressentimento de namorado ain-
da ferido nas suas primeiras ilusões. 


(Adaptado de: MEYER, Augusto. “Do Leitor”, In: À sombra da
estante
, Rio de Janeiro, José Olympio, 1947, p. 11-19)

Atente para as seguintes afirmações.

I. Em Há dentro dele uma floração de virtualidades recalcadas que, não encontrando desimpedido o caminho estreito da ação... (3º parágrafo), as formas verbais “Há” e “encontrando” têm o mesmo sujeito.
II. Na frase Pouco importa a impressão literária, o sabor do estilo, a voz do autor (3º parágrafo), o verbo pode, indiferentemente, ser flexionado no singular ou no plural.
III. Em Formava-se muitas vezes, coincidindo com manifestações mórbidas... (4º parágrafo) pode-se acrescentar uma vírgula imediatamente após “Formava-se”, sem prejuízo para a correção e o sentido.

Está correto o que consta APENAS em

Alternativas
Comentários
  • ASSERTIVA I - ERRADA. No trecho “Há dentro dele uma floração de virtualidades recalcadas que, não encontrando desimpedido o caminho estreito da ação, o verbo “haver”, na forma destacada na transcrição, está empregado como impessoal, não tendo sujeito, sendo seu objeto “uma floração de virtualidades recalcadas”. Já o verbo “encontrar”, na forma destacada na transcrição, tem como sujeito “o caminho estreito da ação”.
    ASSERTIVA II - CORRETA. Na construção “Pouco importa a impressão literária, o sabor do estilo, a voz do autor”, a forma verbal destacada na transcrição está anteposta a sujeito composto, formado por três expressões: “a impressão literária, o sabor do estilo, a voz do autor”. Verbo anteposto a sujeito composto poderá concordar com o mais próximo ou com todos os núcleos do sujeito. Portanto a frase poderia ser escrita corretamente da seguinte forma: “Pouco importam a impressão literária, o sabor do estilo, a voz do autor”.  
    ASSERTIVA III - CORRETA. Em “Formava-se muitas vezes, coincidindo com manifestações mórbidas...”, a expressão “muitas vezes”, que funciona como adjunto adverbial e está deslocada, pode ficar isolada por vírgulas, sem prejuízo para a correção e o sentido do texto. Observe-se a redação com o acréscimo da vírgula: “Formava-se, muitas vezes, coincidindo com manifestações mórbidas...”. 


    Esperto ter ajudado. Bons estudos!
  • Luana Nunes, seus comentários são consistentes, por isso quero parabenizá-la. Lembrando Gonzaguinha nós somos as lições diárias de tantas outras pessoas, acredito que todos podem acrescentar algo e não ficar guardando conhecimento temendo a concorrência. Nosso maior concorrente somos nós mesmos, a vontade de ultrapassar obstáculos diminui a concorrência (que é a nossa). Valeu....

  • Eu acredito que, na assertiva I, o sujeito de encontrando seja "uma floração de virtualidades recalcadas", e que o caminho estreito da ação seja o objeto direto de encontrando. Posso estar errada. Mas o meu raciocínio foi o seguinte: Há dentro do leitor ingênuo uma floração de virtualidades recalcadas. Essas virtualidades recalcadas tentam fugir pela estrada larga do sonho, caso não encontrem o caminho estreito da ação desimpedido.

  • Pessoal,... se alguém concorda comigo, me avise! Eu errei porque na alternativa III voltei ao texto e verifiquei que havia um sujeito passivo para este verbo "um pedantismo  de clarividência", pois está na voz passiva. Então neste caso a vírgula estaria separando sujeito e verbo. 

    Ou estou errada ou a FCC ora quer que voltemos ao texto ora não! Aff...........................!!!!! 

  • O verbo haver, no sentido de existir, é impessoal. Portanto não possui sujeito...

  • Dayse, na alternativa III, a vírgula após o verbo só separa o advérbio "muitas vezes", dando mais clareza ao texto. Não podemos separar o sujeito do verbo quando ele está junto ao verbo (anteposto ou posposto), SEM nenhum termo acessório (como advérbios) entre eles."Formava-se, muitas vezes, coincidindo com manifestações mórbidas que são 
    do domínio da psicanálise
    , um pedantismo da clarividência, ..."


    Na verdade, temos dois advérbios que separam o verbo do sujeito, conforme segue: Verbo: "formava-se"Advérbio de frequência: "muitas vezes" Advérbio + oração ajetiva restritiva: "coincidindo com manifestações mórbidas que são do domínio da psicanálise" (neste caso poderíamos acrescentar uma vírgula após "mórbidas", que não acarretaria erro estrutural, MAS modificaria o sentido: de restritiva para explicativa). Sujeito passivo: "um pedantismo da clarividência"


  • II-Sujeito depois do verbo > pode concordar com o termo mais próximo ou com todos os termos.

  • Verbo haver no sentido de existir é impessoal e não possui sujeito.

  • Eu li essa III milhões de vezes e continuo sentindo que a vírgula pode ser colocada, mas muda ligeiramente o sentido da frase... Acho que é loucura minha

  • Discordo do gabarito. A inserção de vírgula na III traz alteração no sentido.