SóProvas


ID
1314826
Banca
IESES
Órgão
TRT - 14ª Região (RO e AC)
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

     A PERSISTIR O PEDANTISMO, O LINGUISTA DEVERÁ SER CONSULTADO


Por Aldo Bizzocchi Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-abizzocchi/a-persistir-o-pedantismo-o-linguista-devera-ser-consultado-313578-1.asp Acesso em 24 ago 2014.

   Onde há excesso de leis,em geral há falta de educação. Por exemplo, a lei que reserva um dos assentos do transporte público a idosos e deficientes só existe porque o brasileiro, via de regra, não cede espontaneamente seu lugar a uma pessoa necessitada. Em países com maior espírito de civilidade, esse tipo de regulamentação é desnecessário.
   É por termos o mau hábito da automedicação que o governo instituiu a obrigatoriedade de os anúncios de medicamentos trazerem o alerta “A persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”. O problema é que essa lei, nascida da cabeça de algum parlamentar com formação bacharelesca (como grande parte de nossos políticos) e nenhuma sintonia com o povo (como a quase totalidade deles) obriga a propaganda a trazer uma mensagem que, embora destinada sobretudo às pessoas mais humildes (justamente as que, pela precariedade do serviço público de saúde, mais se automedicam), utiliza um linguajar incompreensível pelo vulgo.
   “A persistirem” é construção infinitiva pessoal equivalente ao gerúndio “persistindo”, forma esta um pouco mais corrente nos dias de hoje. Mesmo assim, “persistindo os sintomas, o médico deverá ser consultado” ainda é bastante rebuscado, já que o gerúndio, no caso, oculta uma oração condicional: “se os sintomas persistirem...” (é a chamada oração subordinada reduzida de gerúndio). Alguns comerciais até empregam, provavelmente à revelia da lei, “se persistirem os sintomas”, formulação que, embora mais transparente, ainda peca pela inversão entre sujeito e predicado.
   E quanto à oração principal? Em lugar da voz passiva de “o médico deverá ser consultado”, iria muito melhor aí a voz ativa (“deve-se consultar o médico”) ou - a mais feliz das soluções em se tratando de comunicação com o público – o uso do imperativo: “consulte o médico”.
   Em resumo, não fosse o pedantismo com que os nossos legisladores empregam a língua, como se erudição fosse índice de competência ou honestidade, eríamos um aviso muito mais simples, direto e acessível à massa: “Se os sintomas persistirem, (ou “continuarem”, ou “não passarem”), consulte o médico”.
   O mesmo vício se encontra naquele famoso aviso presente em todos os elevadores: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”. Se era para ser pedante, por que não redigiram logo algo como “Antes de adentrar o elevador, certifique-se de que o mesmo encontra-se parado no presente andar”?
   Tivesse esse aviso sido escrito por um publicitário ou marqueteiro, certamente teríamos algo simples e sucinto como “Antes de entrar no elevador, verifique se ele está parado neste andar”. E também teríamos nos livrado da péssima colocação pronominal “encontra-se” no lugar de “se encontra” (em orações subordinadas, só se usa próclise). Isto é, além de pedante, esse aviso peca pela hipercorreção.

   Também nos elevadores, há o aviso de que é proibida a discriminação de pessoas por raça, cor, credo, condição social, doença não contagiosa, etc. Só que o aviso, uma mera transcrição do texto legal, não diz “é proibido”, diz “é vedado”. Ora, a maioria das pessoas sujeitas a sofrer os tipos de discriminação elencados nessa lei certamente não sabe o que significa “vedado” (talvez os pintores de paredes pensem na vedação contra umidade). Tampouco saberiam o que é “porte e presença de doença não contagiosa por convívio social”. E assim vamos levando a vida neste país em que falta educação, civilidade e urbanidade, mas abundam leis e sobram (ou melhor, sobejam) políticos bem-falantes e mal-intencionados.

Aldo Bizzocchi
é doutor em Linguística pela USP, com pós-doutorado pela UERJ, pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa da USP e autor de Léxico e Ideologia na Europa Ocidental (Annablume) e Anatomia da Cultura (Palas Athena). www.aldobizzocchi.com.br

Analise as assertivas a seguir e assinale a única alternativa correta quanto à análise das mesmas.

I. No último parágrafo, há uma incorreção de concordância em: “[...], há o aviso de que é proibida a discriminação de pessoas [...].”, pois a expressão “é proibido” é sempre invariável.
II. Na primeira frase do texto, a expressão destacada é um adjunto adverbial e imprime a ideia de algo com realização provável.
III. A palavra “vulgo”, destacada no texto, significa, no contexto, povo.
IV. No penúltimo parágrafo foi empregada corretamente a relação dos tempos e modos verbais: pretérito perfeito do subjuntivo e futuro do pretérito, pois o autor faz referência a ações hipotéticas.

A sequência correta é:

Alternativas
Comentários
  • "em geral" da ideia de "realizacao provavel"?

  • Locuções Adverbiais

    São duas ou mais palavras, geralmente introduzidas por uma preposição, que correspondem a um advérbio.

    Modo: à pressa, à toa, à vontade, às avessas, às claras, às direitas, às escuras, ao acaso, a sós, a custo, a torto e a direito, ao contrário, de bom grado, de cor, de má vontade, em geral, em silêncio, em vão.

    Penso que a alternativa II esteja confusa! Caso alguém consiga achar alguma resposta plausível e queria compartilhar, agradeço!


  • Não entendi direito a II? Alguém poderia explicar melhor?

  • Também não consegui compreender a alternativa II. Alguém poderia explicar ?

  • A expressão "em geral" destacada no texto possui  o mesmo sentido da expressão "via de regra". Então se tal fato ocorre "por via de regra", ou seja, na maioria dos casos que envolve tal situação acontece QUASE unanimemente tal resultado é bem PROVÁVEL que ele  ocorra mais vezes.

  • Gostaria que me dissessem onde está o erro na IV? Por favor.



  • Puts, cara! Vacilei legal.
    Muito obrigado, Filipe, que Deus o abençoe sempre!

  • Valeu Filipe!

  • Filipe, discordo um pouco de você: acho que existe sim o pretérito perfeito do subjuntivo. Realmente não é o caso no texto, mas ele existe.


    Seguem os Tempos do Subjuntivo:

    Presente - Que ele seja...

    Pretérito Perfeito (composto) - Que ele tenha sido...

    Pretérito Imperfeito - Se ele fosse...

    Pretérito Mais-Que-Perfeito (composto) - Se ele tivesse sido...

    Futuro (simples) - Quando ele for...

    Futuro (composto) - Quando ele tiver sido...

    Fontes: 
    http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf62.php
    http://www.conjugacao-de-verbos.com/verbo/ser.php

    No caso do exercício, cheguei a conclusão de que o item IV emprega o tempo Pretérito Mais-Que-Perfeito do Subjuntivo. 
    "Tivesse esse aviso sido escrito por um publicitário ou marqueteiro, ..."

    Se eu estiver errada, por favor me corrijam! Bons estudos!

  • No caso do texto o adjunto adverbial "em geral" pode ser facilmente substituído por "provavelmente". 
  • excelente colocação Taís, o Filipe cometeu um erro crasso ao afirmar que o pretérito perfeito do subjuntivo não existe e mais ainda as pessoas que julgaram tal comentário como útil, com todo o respeito à colocação do colega. 

    O pretérito perfeito do subjuntivo existe sim e é um termo composto (quando no subjuntivo) + o verbo principal no particípio. 

    Ex: verbo cantar

    que eu tinha cantado

    que tu tinhas cantado

    TER nesse caso é o verbo auxiliar e o cantar é o verbo principal.

    O modo subjuntivo no tempo pretérito mais que perfeito também é uma forma composta:

    Ex: Verbo Vender

    Se eu tivesse vendido

    Se tu tivesses vendido

    Conforme salientado acima os dois casos acima são conjugados através de termos compostos.

    Abraços e Deus na frente sempre!

  • É proibido / é permitido / é necessário / é bom...

    --> Com determinante: variável

    A entrada é proibida

    --> Sem determinante: invariável - sempre masculino / singular

    Entrada é proibido.



  • http://www.laits.utexas.edu/clicabrasil/sites/laits.utexas.edu.clicabrasil/files/PRETERITO%20PERFEITO%20%28SUBJUNTIVO%29.pdf ei Marcos Garcia, obrigada!Dá uma olhada!


    avante!!

  • IV. No penúltimo parágrafo foi empregada corretamente a relação dos tempos e modos verbais: pretérito perfeito do subjuntivo e futuro do pretérito, pois o autor faz referência a ações hipotéticas.

    CORRETO: PRETÉRITO IMPERFEITO DO SUBJUNTIVO, POIS O PRETÉRITO PERFEITO DO SUBJUNTIVO É FORMADO É UM TEMPO COMPOSTO FORMADO PELO VERBO AUX (TER OU HAVER) + PRESENTE DO SUBJUNTIVO.

  • Onde há excesso de leis,em geral há falta de educação.

    II. Na primeira frase do texto, a expressão destacada é um adjunto adverbial e imprime a ideia de algo com realização provável. 


    Onde há excesso de lei GERALMENTE(em geral) há falta de educação .  - Nesse sentido imprime ,de fato, ideia de algo com realização provável,por isso se usa o GERALMENTE (em geral) .

  • Gabarito: Letra E

    I. No último parágrafo, há uma incorreção de concordância em: “[...], há o aviso de que é proibida a discriminação de pessoas [...].”, pois a expressão “é proibido” é sempre invariável. 

    ERRADO. É invariável quando o sujeito não é determinado por artigo ou por certos pronomes. Ex.: É proibidA A entrada. / É proibidO entrada.

    II. Na primeira frase do texto, a expressão destacada é um adjunto adverbial e imprime a ideia de algo com realização provável. 

    CORRETO. "Onde há excesso de leis,em geral há falta de educação."

    Em geral: normalmente, geralmente, via de regra, de modo geral.

    III. A palavra “vulgo”, destacada no texto, significa, no contexto, povo. 

    CORRETO. "O problema é que essa lei [...] utiliza um linguajar incompreensível pelo vulgo. "

    Vulgo significa uma classe popular,  povo, plebe. Vulgo também é utilizado para falar de alguém que é popularmente conhecido por outro nome, mas não é esse o sentido empregado aqui.

    IV. No penúltimo parágrafo foi empregada corretamente a relação dos tempos e modos verbais: pretérito perfeito do subjuntivo e futuro do pretérito, pois o autor faz referência a ações hipotéticas. 

    ERRADO. "TIVESSE esse aviso SIDO escrito por um publicitário ou marqueteiro, certamente TERÍAMOS algo simples e sucinto... "

    Trata-se do pretérito MAIS-QUE-PERFEITO do subjuntivo composto. Essa flexão é a formação de locução verbal com o auxiliar ter ou haver no pretérito imperfeito do subjuntivo e o principal no particípio, tendo o mesmo valor que o pretérito imperfeito do subjuntivo simples. Ex.: "Eu teria caminhado todos os dias desse ano, se não tivesse trabalhado tanto."

    Na assertiva temos o auxiliar TER no pretérito imperfeito do subjuntivo + o verbo SER no particípio: se eu tivesse sido, se tu tivesses sido, se ele tivesse sido, se nós tivéssemos sido... 

    Futuro do pretérito: eu teria, tu teria, ele teria, NÓS TERÍAMOS.

  • Há erro na questão, pois na assertiva IV diz pretérito perfeito; quando no parágrafo há o mais que perfeito composto de subjuntivo( corretamente relacionado com o futuro do pretérito).

  • IV) FALSO, pois:

    Tivesse esse aviso sido escrito por um publicitário ou marqueteiro, certamente teríamos algo simples...

    Voz ativa = Se um publicitário tivesse escrito esse aviso,... (Pretérito Mais Que Perfeito Composto do Subjuntivo)


  • o "em geral" modifica o verbo. Há como? sempre? não, em geral, no todo, maioria.