SóProvas


ID
1333381
Banca
FCC
Órgão
TRT - 13ª Região (PB)
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Hoje, aos 88 anos, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman é considerado um dos pensadores mais eminentes do declínio da civilização. Bauman é autor do conceito de “modernidade líquida”. Com a ideia de “liquidez”, ele tenta explicar a Luís A. Giron as mudanças profundas que a civilização vem sofrendo com a globalização e o impacto da tecnologia da informação. 

L.A.G. − De acordo com sua análise, as pessoas vivem um senso de desorientação. Perdemos a fé em nós mesmos? 

Zygmunt Bauman − Ainda que a proclamação do “fim da história” de Francis Fukuyama não faça sentido, podemos falar legitimamente do “fim do futuro”. Durante toda a era moderna, nossos ancestrais avaliaram a virtude de suas realizações pela crescente (genuína ou suposta) proximidade de uma linha final, o modelo da sociedade que queriam estabelecer. A visão do futuro guiava o presente. Nossos contemporâneos vivem sem esse futuro, de modo que estamos mais descuidados, ignorantes e negligentes quanto ao que virá. Fomos repelidos pelos atalhos do dia de hoje. 

L.A.G. − As redes sociais aumentaram sua força na internet como ferramentas eficazes de mobilização. Como o senhor analisa o surgimento de uma sociedade em rede?

Bauman − As redes sociais eram atividades de difícil implementação entre as comunidades do passado. De algum modo, elas continuam assim dentro do mundo off-line. No mundo interligado, porém, as interações sociais ganharam a aparência de brinquedo de crianças rápidas. Não parece haver esforço na parcela on-line, virtual, de nossa experiência de vida. Hoje, assistimos à tendência de adaptar nossas interações na vida real (off-line), como se imitássemos o padrão de conforto que experimentamos quando estamos no mundo on-line da internet. 

L.A.G. − Como o senhor vê a nova onda de protestos no Oriente Médio, nos Estados Unidos e na América Latina, que aumentou nos últimos anos? 

Bauman − Se Marx e Engels escrevessem o Manifesto Comunista hoje, teriam de substituir a célebre frase inicial – “Um espectro ronda a Europa − o espectro do comunismo” − pela seguinte: “Um espectro ronda o planeta − o espectro da indignação”. Esse novo espectro comprova a novidade de nossa situação em relação ao ano de 1848, quando Marx e Engels publicaram o Manifesto. Faltam-nos precedentes históricos para aprender com os protestos de massa e seguir adiante. Ainda estamos tateando no escuro.

L.A.G. − O senhor afirma que as elites adotaram uma atitude de máximo de tolerância com o mínimo de seletividade. Qual a razão dessa atitude? 

Bauman − Em relação ao domínio das escolhas culturais, a resposta é que não há mais autoconfiança quanto ao valor intrínseco das ofertas culturais disponíveis. Ao mesmo tempo, as elites renunciaram às ambições passadas de empreender uma missão iluminadora da cultura. Hoje, as elites medem sua superioridade cultural pela capacidade de devorar tudo. 

L.A.G. − Como diz o crítico George Steiner, os produtos culturais hoje visam ao máximo impacto e à obsolescência instantânea. Há uma saída para salvar a arte como uma experiência humana importante? 

Bauman − Esses produtos se comportam como o resto do mercado. Voltam-se para as vendas na sociedade dos consumidores. Uma vez que a busca pelo lucro continua a ser o motor mais importante da economia, há pouca oportunidade para que os objetos de arte cessem de obedecer à sentença de Steiner. 

L.A.G. − Seus livros parecem pessimistas, talvez porque abram demais os olhos dos leitores. O senhor é pessimista? 

Bauman − A meu ver, os otimistas acreditam que este mundo é o melhor possível, ao passo que os pessimistas suspeitam que os otimistas podem estar certos... Mas acredito que essa classificação binária de atitudes não é exaustiva. Existe uma terceira categoria: pessoas com esperança. Eu me coloco nessa terceira categoria.

(Adaptado da entrevista de: GIRON, Luís Antônio, publicada na revista Época. 19/02/2014. Disponível em http://epoca.globo.com




Considerando-se o contexto, é correto afirmar:

Alternativas
Comentários
  • Gab: a) No segmento “Um espectro ronda a Europa - o espectro do comunismo”, o travessão pode ser substituído por dois-pontos.

     

  • a) No segmento “Um espectro ronda a Europa - o espectro do comunismo”, o travessão pode ser substituído por dois-pontos.
    Correto. O travessão poderá ser substituído por dois-pontos porque tem valor explicativo, explicando o tipo de espectro que ronda a Europa: o espectro do comunismo.

    b) O elemento sublinhado no segmento No mundo interligado, porém, as interações sociais... introduz uma oração cujo conteúdo ratifica o que foi dito na oração anterior.
    Errada. Porém tem valor de conjunção Adversativa. (Mas, Porém, Contudo, Todavia, Entretanto...)

    c) No segmento Existe uma terceira categoria: pessoas com esperança, os dois-pontos introduzem uma ressalva ao que se afirmou antes.
    Errada. Ressalva significa excessão, condição, restrição... O texto diz exatamente o contrário, que a terceira categoria são aquelas com esperança.

    d) Há noção de finalidade no segmento Voltam-se para as vendas na sociedade dos consumidores.
    Errada. Não achei lógica nessa alternativa, se alguém puder contribuir, agradeço!

    e) O elemento grifado em ele tenta explicar as mudanças profundas que a civilização vem sofrendo refere-se a “civilização”.
    Errada. o que nessa oração é pronome relativo.

    Yes, we can!

  • Thiago Freitas, na alternativa "d", acredito que há sentido EXPLICATIVO  no segmento "Voltam-se para as vendas na sociedade dos consumidores". 

  • Obrigado pela explicação Graziela e Lennilson.

  • Substitui-se o travessão por dois pontos na letra A, pois o autor faz um acréscimo no texto, ele define qual é o espectro que ronda a Europa.

  • MUITO BOM

  • Na letra D nem teria como ter noção de finalidade, pois o vocábulo PARA é preposição.

    Além disso só há uma oração, para que o "PARA" fosse conjunção com noção de finalidade, teríamos que ter duas orações.
  • LETRA A

     

    DOIS PONTOS :

     

    Os dois pontos assinalam uma pausa suspensiva da voz, indicando que a frase não esta concluída.

    a) indicar uma citação alheia ou própria:
     Já dizia Rui Barbosa: " O homem criando, através do trabalho, assemelha-se a Deus".

    b) antes de uma enumeração:

    "Nós éramos quatro: uma prima, dois neguinhos, e eu.(Mário Quintana).
    " O restante, a saber: capital, esfera e coroa, fez-se em pedaços."


    c) antes de uma explicação ou sequência: (não é resumo!)

    "Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava (...)" (Clarice Lispector)

    "Procurei o mostrador: do ponto em que me achava não se percebia número". (Graciliano Ramos)


     

    Referência: Nílson Teixeira de Almeida - Gramática Completa para concursos e vestibulares.

  • quando não vejo alguém conseguindo explicar todas as letras e usando "acho" ou "não achei lógica" (referente à letra "d"), é porque é uma típica questão que eu iria perder na hora da prova. Ajude a solicitar explicação do professor clicando em "Indicar para comentário".

     

    sorte a todos!

  • antes de apostos ou orações apositivas, enumerações ou sequência de palavras que explicam, resumem ideias anteriores