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ID
1365910
Banca
FGV
Órgão
AL-MA
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto I

Cobrar responsabilidade

No início do mês, um assaltante matou um jovem em São Paulo com um tiro na cabeça, mesmo depois de a vítima ter lhe passado o celular. Identificado por câmeras do sistema de segurança do prédio do rapaz, o criminoso foi localizado pela polícia, mas - apesar de todos os registros que não deixam dúvidas sobre a autoria do assassinato - não ficará um dia preso. Menor de idade, foi "apreendido" e levado a um centro de recolhimento. O máximo de punição a que está sujeito é submeter-se, por três anos, à aplicação de medidas "socioeducativas".

Não é um caso isolado na crônica de crimes cometidos por menores de idade no país. Mas houve, nesse episódio de São Paulo, uma circunstância que o transformou em mais um exemplo emblemático do equivocado abrigo legal que o Estatuto da Criança e do Adolescente confere a criminosos que estão longe de poderem justificar suas ações com o argumento da imaturidade: ao disparar friamente contra o estudante paulista, a assaltante estava a três dias de completar 18 anos. Pela selvageria do assassinato, o caso remete à barbárie de que foi vítima, no Rio, o menino João Hélio, em 2007. Também nesse episódio, um dos bandidos que participaram do martírio do garoto estava a pouco tempo de atingir a maioridade.

Nos dois casos, convencionou-se, ao anteparo do ECA, que a diferença de alguns dias - ou, ainda que o fosse, de alguns meses -teria modificado os padrões de discernimento dos assassinos. Eles não saberiam o que estavam fazendo. É um tipo de interpretação que anaboliza espertezas da criminalidade, como o emprego de menores em ações - inclusive armadas - de quadrilhas organizadas, ou serve de salvo-conduto a jovens criminosos para afrontar a lei.

O raciocínio, nesses casos, é tão cristalino quanto perverso: colocam-se jovens, muitos dos quais mal entraram na adolescência, na linha de frente de ações criminosas porque, protegidos pelo ECA, e diante da generalizada ruína administrativa dos órgãos encarregados de aplicar as medidas socioeducativas, na prática eles são inimputáveis. Tornam-se, assim, personagens de vestibulares para a entrada em definitivo, sem chances de recuperação, numa vida de crimes.

É dever do Estado (em atendimento a um direito inalienável) prover crianças e adolescentes com cuidados, segurança, oportunidades, inclusive de recuperação diante de deslizes sociais. Neste sentido, o ECA mantém dispositivos importantes, que asseguram proteção a uma parcela da população em geral incapaz de discernir entre o certo e o errado à luz das regras sociais. Mas, se estes são aspectos consideráveis, por outro lado é condenável o viés paternalista de uma lei orgânica que mais contempla direitos do que cobra obrigações daqueles a quem pretende proteger.

O país precisa rever o ECA, principalmente no que tange ao limite de idade para efeitos de responsabilidade criminal. É uma atitude que implica coragem (de enfrentar tabus que não se sustentam no confronto com a realidade) e o abandono da hipocrisia (que tem cercado esse imprescindível debate).

(O Globo, 22/04/2013)

Assinale a alternativa em que um dos termos foi formado a partir de uma classe de palavra diferente da dos demais.

Alternativas
Comentários
  • Todas as alternativas possuem um substantivo que deriva de um verbo, exceto na alternativa E, conforme veremos:

    a) Recolhimento (recolher) - Discernimento (discenir)

    b) Segurança (assegurar - segurar) - Punição (punir)

    c) Interpretação (interpretar) - Obrigação (obrigar)

    d) Confronto (confrontar) - Abandono (abandonar)

    e) Recuperação (recuperar) - População (é substantivo)

  • YASMIN,


    Eu respondi a letra B, pensando que "segurança" viesse do adjetivo "seguro", e não verbo "segurar".

    Na letra E, pensei da mesma forma: Achei que "população" viesse do adjetivo "popular", algo que seja popular, conhecido.

    A verdade é que é muito complicado saber a origem da palavra....muito punk

    valewwwww
  • Yasmin, mas pq não poderia ser,  população=popular???

  • Popular não se conjuga, é adjetivo. Se fosse popularizar ai sim.

  • Letra E.

     

    Comentário:

     

    Os substantivos das alternativas (A), (B), (C), (D) e o substantivo “recuperação”, da alternativa (E), são formados a partir

    de verbos. Veja:
    Recolher gerou recolhimento, discernir gerou discernimento, segurar gerou segurança, punir gerou punição, interpretar

    gerou interpretação, obrigar gerou obrigação, confrontar gerou confronto, abandonar gerou abandono, recuperar gerou

    recuperação.

    Porém, o substantivo “população” não foi gerado de verbo. Ele foi gerado do adjetivo “popular”, o qual foi gerado do

    substantivo “povo”.

    Assim, a alternativa (E) é a diferente das demais.

     

     

     

     

    Gabarito: E

     

     

    Prof. Décio Terror

  • Não existe o verbo "popular". Este "verbo" é forçado em alguns jargões como, por exemplo, na tecnologia que o utiliza para importar dados a um banco de dados com o sentido de inserir. Contudo, em outros âmbitos, tal verbo não é aceito sendo, portanto, adjetivo e substantivo masculino.

     

    Gabarito: Alternativa E).

  • Os substantivos das alternativas (A), (B), (C), (D) e o substantivo “recuperação”, da alternativa (E), são formados a partir

    de verbos. Veja:
    - Recolher ==> gerou recolhimento

    - discernir ==> gerou discernimento

    - segurar ==> gerou segurança

    - punir ==> gerou punição

    - interpretar ==> gerou interpretação

    - obrigar ==> gerou obrigação

    - confrontar ==> gerou confronto

    - abandonar ==> gerou abandono

    - recuperar ==> gerou recuperação.

    Porém, o substantivo “população” não foi gerado de verbo. Ele foi gerado do adjetivo “popular”, o qual foi gerado do substantivo “povo”.

    Assim, a alternativa (E) é a diferente das demais.

     

    Gabarito: E

    Prof. Décio Terror