SóProvas


ID
1371223
Banca
FUNCAB
Órgão
SEFAZ-BA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário - evidentemente o condizente com a nossa condição provecta tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).

O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas , preferivelmente . Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, e das quais até hoje sei o comecinho.

Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos não se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.
- Traduza aí “quousque tandem, Catilina, [abutere] patientia nostra” - dizia ele ao entanguido vestibulando.

- Catilina,quanta paciência tens?" - retrucava o infeliz.

Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a platéia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.

-Ai, minha barriga! - exclamava ele. - Deus, ó Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária, Senhor meu Pai!

Pode-se imaginar o resto do exame. [...] Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.

O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo “dar um show” . Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
- Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!

- " As margens plácidas'' - respondi

instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.

- Por que não é indeterminado “ouviram,etc''?

- Porque o “as” de “as margens plácidas” não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no Hino. “Nem teme quem te adora a própria morte” : sujeito: “quem te adora” . Se pusermos na ordem direta...

- Chega! - berrou ele. - Dez! Vá para a glória!
A Bahia será sempre a Bahia!

RIBEIRO, João Ubaldo. Jornal Grande Bahia-, 12 jun. 2013

De acordo com as normas do português padrão, a mudança de posição do pronome átono proposta só é admissível em:

Alternativas
Comentários
  • A - NÃO É ADMISSÍVEL: não se inicia uma frase a partir de pronome oblíquo átono

    B - NÃO É ADMISSÍVEL: "que" = partícula atrativa >>> próclise obrigatória

    C - NÃO É ADMISSÍVEL: a oração contém uma conjunção subordinativa (se, caso, embora, etc) >>> próclise obrigatória

    D - É ADMISSÍVEL: não há um critério de próclise obrigatória >>> ênclise facultativa

    E - NÃO É ADMISSÍVEL: "não" = partícula atrativa >>> próclise obrigatória

  • Gabarito letra D. Ênclise em inicio de sentença, é obrigatória! Terminada uma palavra ou adverbio com virgula, já é final de sentença, e consequentemente virá a ênclise, se não vier, questão errada.

    Se o adverbio vier sem virgula, este, pedi-la-á próclise obrigatória.

  • A assertiva C também está errada por que não é permitida ênclise em verbo conjugado no futuro. Vejam:

    ... se o senhor me disser qual é o sujeito...”

    O verbo dizer está no modo futuro. Não podemos usar ênclise em verbos no futuro nem particípio.

  • No meu entender o fundamento que foi usado para essa questão foi os casos facultativos no qual se admite o uso do pronome antes ou depois do verbo, nesse caso eu resolvi essa questão usando o conceito de que, quando estamos diante dessa situação que tem como sujeito explicito com núcleo um substantivo ou numeral antes do verbo sem palavra atrativa é facultativo o uso do pronome antes ou depois do verbo.

    espero ter ajudado. 

    bons estudos.  

  • a) ERRADA:  É proibida a próclise no início de frases;

    b) ERRADA: O pronome "que" atrai o "se";

    c) ERRADA: A conjunção subordinativa condicional "se" atrai o Pronome, mesmo que tenha uma palavra entre os dois termos;

    d) CERTA

    e) ERRADA: Termo de sentido negativo atrai a Próclise.

  • GABARITO : D

    Quando antecedido por sujeito é facultativa a próclise.

    Bons Estudos!

  • Bom, a galera tá comentando bastante a opção C. Acho que o problema com ela é que ela é uma oração exclamativa, sendo caso de próclise obrigatória.

  • Bom dia realmente a a opçao da letra c abre margem para recurso está explicito no contexto que é uma frase exclamativa

  • Acho que o erro da C é: verbo no infinitivo sem preposição

  • Em suma, conforme explicação do Prof. Alexandre Soares, o erro da letra "c" consiste em não ser possível a colocação enclítica uma vez que, no período, temos uma ambiência de subordinação, esta introduzida pela conjunção subordinativa concessiva "SE", o que é fator atrativo do pronome oblíquo átono.