SóProvas


ID
1627480
Banca
FUNDEP (Gestão de Concursos)
Órgão
CORECON - MG
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Obrigado por ligar. Sua ligação é muito importante para nós. Se desejar serviços de instalação, tecle 1. Para reagendamento de visita, tecle 2. Para verificação de dados cadastrais, tecle 3. Para informações sobre plano de pagamento, tecle 4. Para falar com um de nossos atendentes...

Não, você não conseguirá falar com um de nossos atendentes. Mas poderá ouvir, durante 25 minutos ou mais, sucessos como “Moonlight Serenade” e o tema de “Golpe de Mestre”.

Também, quem mandou você não ter em mãos o número de seu cartão eletrônico, de sua matrícula no SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente), de seu cadastro na Comunidade NetLig?

Muitas coisas mudam de forma e de nome, mas no fundo permanecem iguais. A peregrinação que temos de fazer de tecla em tecla é a mesma que, antigamente, nos levava a passar horas nas filas de uma repartição burocrática.

Cada tecla, afinal de contas, não passa de um guichê, e o cartão que devemos ter por perto ou a senha que se impõe saber de cor equivale ao papel, à guia, ao documento que nos exigem e que nunca está a contento do funcionário.

É a burocracia sem papel, a burocracia dos impulsos eletrônicos. Claro, há vantagens: não é preciso sair de casa e, enquanto você espera atendimento, com o telefone encaixado entre o ombro e a bochecha, sempre poderá fazer alguma outra coisa. Sugestões: pôr os papéis em ordem na gaveta (você poderá encontrar o cartão de crédito cujo desaparecimento tentava comunicar); teclar alguma outra senha de acesso no computador, se tiver internet banda larga (se não tem, disque para nós hoje mesmo); alongar os músculos do pescoço e da nuca; ou entregar-se a outras atividades corporais cujo nome não seria conveniente declinar aqui.

De todo modo, a burocracia eletrônica segue os princípios da antiga. Quanto mais a instituição ou a empresa economizam, mais o usuário perde tempo. No hospital público ou na assistência técnica da máquina de lavar, sempre vigora a lei da seleção natural: eliminam-se os fracos, para que só os mais fortes, ou os mais desesperados, cheguem até o fim do processo.

Claro que, quanto mais procurado o serviço, maior a fila. Se notamos tanta burocracia nas instituições públicas, é porque seu acesso é universal. Em inúmeras entidades privadas vemos a burocracia aumentar, justamente porque passaram a ser procuradas pelo grosso da população. Os planos de saúde particulares constituem o maior exemplo disso, mas bancos e cartões de crédito, cujo universo de clientes se ampliou muito, não ficam atrás.

Experimento reações contraditórias quando vou a um caixa eletrônico. Em comparação com a fila tradicional, sem dúvida ganho tempo. Mas sinto que estou também “trabalhando” para o banco. Passo a senha, digito, confirmo, conto o dinheiro: eis que sou um novo funcionário do caixa, trabalhando de graça, enquanto algum bancário foi despedido em troca.

Tudo bem. Gasto menos tempo no banco. Mas diminuiu também a minha impressão de perder tempo. Todo trabalho, por mais mecânico que seja, faz o tempo passar mais depressa do que a pura espera. Fala-se de democracia participativa, mas a “burocracia participativa” também deveria merecer os seus filósofos.

À medida que um serviço se generaliza, crescem as possibilidades de fraude. Quando uma empresa, pública ou privada, passa do âmbito de uma distinta clientela para o universo multitudinário e turvo da humanidade em seu conjunto, torna-se inevitável multiplicar as precauções contra os indivíduos de má-fé; isso significa mais burocracia.

O que é um antivírus, um firewall ou um anti-spam, a não ser a burocratização do nosso computador? Eu costumava usar um antivírus que tinha rigores de fiscal de alfândega, parecia usar carimbos de Polícia Federal em dia de operação-tartaruga toda vez que se punha a examinar a mensagem que entrava e a mensagem que saía do meu Outlook.

Acontece que o computador, como tudo o que tem telinha (um caça-níqueis, uma TV, um videogame, um caixa eletrônico) sempre oferece ao usuário algo de lúdico, de viciante, de hipnótico.

Já a burocracia telefônica (volto a ela) é muito pior. Seu maior pecado, a meu ver, está na confusão que estabelece entre as categorias de tempo e de espaço. Entre num desses sistemas de “tecle 5 se deseja isto, tecle 6 se deseja aquilo...” e tente corrigir uma decisão errada.

Os sistemas mais extensos e irritantes usam a famigerada tecla 9 -”para mais opções”-, abrindo-se em alternativas que, para serem conhecidas integralmente, exigiriam a vida inteira. Tudo ficaria mais fácil, se o sistema fosse visualizado no espaço, num esquema em árvore, num organograma, num menu de website -ou mesmo num mapa de repartição, com suas ramificações em corredores, departamentos e guichês. No máximo, ficaremos andando de um lado para outro.

O problema do “tecle isto, tecle aquilo” é que ele se desenvolve no tempo, não no espaço. Somos forçados a prosseguir em alternativas que será sempre mais custoso reverter; avançamos em decisões tomadas no escuro, como se navegássemos num fluxo betuminoso, por rios e córregos cada vez mais estreitos, cada vez mais espessos, carregados de todas as opções já feitas, de todo o tempo acumulado e perdido naquela ligação, sem muita esperança de que, na extrema ponta do percurso, uma voz humana venha afinal falar conosco.

É assim que o sistema de ramais automáticos guarda incômoda semelhança com nossa própria vida adulta; tem algo de anacrônico, de auditivo, de analógico. Já as telas da internet, organizadas espacialmente, com seus cliques de mouse, seus compartimentos de todas as cores, seus guichês planificados e seus pop-ups imprevistos e festivos, são um modelo bem alegre em que mirar. Desde que a conexão não caia de repente.

COELHO, Marcelo. Disponível em:< http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1703200416.htm>.Acesso em: 12 abr. 2015. (Adaptado)


As notações gráficas utilizadas no conjunto do texto como um todo possuem seu uso corretamente explicitado entre parênteses, EXCETO em

Alternativas
Comentários
  • Gabarito A). Essa eu errei. Fiquei na dúvida entre A e B, marquei B e me dei mal. Mas... Acredito que neste caso as ASPAS na palavra "Moonlight" não estão destacando estrangeirismo, (Vale lembrar que essa é uma das funções das aspas.) porém se repararmos que também há aspas em "Golpe de Mestre", e não é palavra estrangeira, perceberemos que a banca usou aspas, neste caso, para ironizar a espera de 25 minutos ouvindo os dois grandes sucessos. É isso. Suedilson. 

  • GAB. A Acredito que as aspas foram empregadas em "Moonlight Serenade" simplesmente porque o termo representa o nome de uma música. Assim, mesmo que se tratasse de uma das poesias de Mr. Catra elas deveriam ser utilizadas. 

  • Marquei a B pq trabalhando não esta sendo usado em sentido figurado...

  • quem não voltou no texto marcou a letra B kkk

    assim como eu...

  • sucessos como “Moonlight Serenade” e o tema de “Golpe de Mestre”, são referências de títulos de obras ou filmes. Não são estrangeirismos. 

    Estrangeirismo é o processo que introduz palavras vindas de outros idiomas na língua portuguesa.

    Gabarito A

  • nem precisava voltar no texto!

  • Gabarito: letra a.

    Estrangeirismo
    Ainda segundo Luiz A. Sacconi, é um vício o uso de estrangeirismos desnecessários, ou seja, palavras de origem estrangeira facilmente substituíveis por palavras correspondentes em nossa língua, seja por já existirem, seja por haver forma aportuguesada.
    – Ele tem “know-how”, por isso foi contratado. (= conhecimento, experiência)
    – Teve de entregar seu “curriculum” por e-mail; estava atrasado. (= currículo)
    – Preciso falar com o “quality manager” sobre minha proposta. (= gerente de
    qualidade)

    Obs.: Alguns gramáticos mais rígidos consideram que qualquer estrangeirismo,
    tenha ele equivalente vernácula ou não, é considerado barbarismo.
    Estudiosos mais modernos discordam do estrangeirismo como vício de
    linguagem, mas não é assim que vê a gramática tradicional.

    Fonte:  A Gramática para Concursos Públicos, de Fernando Pestana. 

  • Em relação a aternativa B , "trabalhando" não está sendo usado em sentido figurado, está com o sentido real do verbo trabalhar. 

    “Mas sinto que estou também “trabalhando” (...)" 

    Quer dizer que sente que está prestando um serviço para o banco, como um trabalhador e não um cliente.

     

    As aspas de “Moonlight Serenade” não são usadas para marcar estrangeirismo e sim referir-se ao nome de uma música (título de texto, nome de obra), tanto que logo após vem "Golpe de Mestre" (nome de um filme). 

    Para mim, as duas alternativas, A e B, estão incorretas, mas a alternativa B tem um erro muito mais gritante que a A. 

  • Olá , pessoal! Alguém de vocês sabem me explicar por que a letra "B" está errada?