SóProvas


ID
1768369
Banca
FUNCAB
Órgão
ANS
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                Arquimedes, o bom repórter

      Faz parte do meu ofício inventar. Mentir, sem qualquer consideração teológica. Preencher as páginas em branco, esforçando-me por criar heróis mesquinhos e sublimes. Um ofício que se funde com as adversidades do cotidiano e que, pautado por uma estética insubordinada, comporta todas as escalas morais, afugenta os ideários uniformizadores.

      A literatura brota de todos os homens, de todas as épocas. Sua ambígua natureza determina que os escritores integrem uma raça fadada a exceder-se. Seus membros, como uma seita, vivem na franja e no âmago da realidade, que constrange e ilumina ao mesmo tempo. E sem a qual a criação fenece. A arte dos escritores arregimenta a sucata e o sublime, o que se oxida em meio aos horrores, o que se regenera sob o impulso dos suspiros de amor. Apalpa a matéria secreta que sangra e aloja-se nos porões da alma.

      Há muito sei que a escrita não poupa o escritor. E que, ao ser um martírio diário, coloca-o a serviço do real. E enquanto este mero exercício de acumular palavras, de dar-lhes sentido, for um ato de fé no humano, a literatura seguirá sendo protagonista do enigma que envolve vida e morte. Uma arte que geme, emite sinais, desenha signos, e que constitui uma salvaguarda civilizadora perante a barbárie. Em cujas páginas batalha-se pelo provável entendimento entre seres e situações intoleráveis. Como se por meio de certos recursos estéticos fosse possível conciliar antagonismos, praticar a tolerância, ativar sentimentos, testar os limites da linguagem e da ambiguidade da solidão humana. Salvar, enfim, os seres trágicos que somos.

    Não sei ser outra coisa que escritora. Já pelas manhãs, enquanto crio, apalpo emoções benfazejas, sentimentos instáveis, a substância sob o abrigo do sinistro e da esperança. Tudo o que a realidade abusiva refuta. É mister, contudo, combater os expurgos estéticos para narrara história jamais contada.

      A criação literária, porém, que se faz à sombra da comunidade humana, aproximou-me sempre daqueles cujas experiências pessoais eram vizinhas no ato de escrever. Por isso, desde a infância, senti-me irmanada aos jornalistas no uso das palavras e na maneira de captar o mundo. E a tal ponto vinculada aos jornais que nos vinham a casa, já pelas manhãs, que disputava com o pai o privilégio de lê-los antes dele. De aproximar-me destas páginas vivazes que, arrancando-me da sonolência, proclamavam que a vida despertara antes de mim. O drama humano não tinha instante para começar, precedera-me há horas, há milênios.

PINON, Nélida. Aprendiz de Homero. Rio de Janeiro: Editora Record,2008,p.81-82,fragmento.

“E a tal ponto vinculada aos jornais que nos vinham a casa, já pelas manhãs, que disputava com o pai o privilégio de lê-los antes dele."

No período transcrito, a correlação discursiva entre a expressão “a tal ponto” com o conectivo “que” foi usada para exprimir o sentido de:

Alternativas
Comentários
  • E  tal ponto vinculada aos jornais que, em consequência disso, nos vinham a casa...

  • Tal...Que ---> Consequência

  • Ótimos comentários, só pra complementar, se houvesse a inversão das orações, com os devidos ajustes, então seria O. S. A. causal.

  • Toda causa aceita um porque

     Toda consequência aceita um por isso
  • Construções tal . . . que, tanto . . . que, tão . . . que e tamanho . . . que indicam sempre consequência. 

  • Máxima atenção ao comentário da Dayane.

  • Depois do tesão (T ão; T anto; T amanho; Tal) "que" vem a CONSEQUÊNCIA. fonte: Fernando Pestana
  • Valeu Eliana Carvalho. Gostei de seus comentários

  • Consecutivas: exprimem resultado, efeito, consequência.

    tão... que                                     tanto assim... que

    tanto... que                                 de sorte que*

    tamanho... que                          de modo que

    tal... que                                       de maneira que

    de tal modo/maneira... que     de forma que

    a tal ponto... que

    * As locuções de sorte que, de modo que, de maneira que, de forma que são sinônimas.

     

    Meu filho é tão inteligente que passou em 1o lugar no ITA.

    Estudei tanto o famigerado Português que acabei tendo uma estafa.

    Tamanha foi a sua coragem que pulou no mar em ressaca.

    Tal foi sua postura antes da prova que conseguiu um bom resultado.

    Sua apresentação aconteceu de tal modo que todos não paravam de rir.

    Ambos ligaram-se a tal ponto ao longo da amizade que pareciam o mesmo ser.

    Eles não se prepararam para a competição, tanto assim que ficaram em último lugar.

    Não gostava de estudar, mas queria se estabilizar na vida, de sorte que começou a investir.

    Fonte: A Gramática para Concursos Públicos, Fernando Pestana

  • O primeiro "que" é um pronome relativo, não? "(...) vinculada aos jornais OS QUAIS nos vinham a casa (...)"

    Pra mim, não faz sentido ser uma conjunção consecutiva porque os jornais não eram entregues na casa dela porque ela era vinculada à leitura. Faz mais sentido, no contexto, ela ser vinculada aos jornais porque lia sempre, quando eram entregues.

    Eu levei em consideração o segundo "que", em que a consequência dela ser vinculada aos jornais era disputar a leitura com o pai.

    Alguém me corrija se eu estiver errada, por favor.