SóProvas


ID
2067556
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Alumínio - SP
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                 Em busca do tempo perdido

   Houve um tempo, já um pouco distante, em que fui perseguido tenazmente por uma mesma pergunta. Nas dezenas de entrevistas a que fui submetido, tive de responder que rodava mil e quinhentos quilômetros por semana. Isso não pareceria nada estranho aos repórteres se eu fosse um motorista profissional, mas era professor.

  O significado que a pergunta começou a formular em minha consciência, contudo, eclodiu passado algum tempo, quando uma repórter, com ar meio incrédulo, acrescentou: “Mas então quantas horas o senhor passa dentro do carro a cada semana?” Pronto, estava estabelecido o conflito íntimo. A partir de então comecei a fazer cálculos, a estabelecer porcentagens, comecei a me torturar. Quanto tempo da minha vida estava jogando fora por semana, por mês, por ano?

  Torturei-me durante algumas semanas com essa ideia. Pensei até em mudar de profissão. Jogar fora nas estradas meu precioso tempo pareceu-me de uma irresponsabilidade sem perdão.

  Dias depois me lembrei de um poema de Mario Quintana, lido há muitos anos e nunca mais encontrado. Era sobre a passagem do trem por uma estaçãozinha. Havia os que chegavam e havia os que partiam. Além deles havia os que não chegavam nem partiam, apenas ficavam olhando as pessoas nas janelas do trem e sonhando com o mundo além, o mundo possível se houvesse a coragem de partir. E ele arrematava com uns poucos versos em que dizia não importar a estação de partida nem a de chegada. O que vale mesmo, dizia o mago do Caderno H, é a viagem.

 O poema de Mario Quintana devolveu-me a paz. Sem me sentir culpado por estar jogando fora a vida pela janela do carro, voltei a usar o tempo das travessias, em que o corpo estava preso e condicionado a uns poucos movimentos mecânicos, para soltar a imaginação. Assim foi que, no azul do céu, quase sempre muito azul, debaixo do qual costumava viajar, começaram a surgir revoadas de palavras que aos poucos e aos bandos se combinavam, pintavam cores e formas, botavam algumas ideias respirando e de pé.


(Menalton Braff. www.cartacapital.com.br/sociedade/ em-busca-do-tempo-perdido-8754.html, 03.05.2014. Adaptado)

Assinale a alternativa que apresenta o substituto correto para a construção destacada.

Alternativas
Comentários
  • Alguém sabe explicar letra por letra?

  • Não compreendi, alguem poderia explicar por favor?

  • Ana Beatriz, concordo com parte de sua argumentação. Realmente, as palavras incluídas nas alternativas têm a intenção de confundir semanticamente. Porém, não estão gramaticalmente corretas.

    A) O verbo conceder é bitransitivo (conceder algo a alguém), neste caso, conceder a entrevista. As quais não deveria receber crase.

    C) Aqui a banca quis confundir os significados, visto que no contexto da frase não cabe o verbo reportar (voltar atrás, fazer recuar).

    D) Mais um erro de crase. Apesar de pessoas ser substantivo feminino, o verbo examinar não exige complemento preposicionado, ele é transitivo direto, portanto, não cabe "examinar às pessoas".

    E) A VUNESP finalizou a questão com mais um crase equivocada. A paz é substantivo feminino, mas o verbo dar também não exige o complemento preposicionado, portanto, "deu-me à paz" está errado também.

    Por isso discordo do argumento que as frases estão gramaticalmente corretas e semanticamente incorretas. A questão, ao meu ver, foi quase que inteiramente montada sobre desvios de crase. Espero ter contribuído. Bons estudos a todos.

  • a) Nas dezenas de entrevistas a que fui submetido... (1º parágrafo) – às quais concedi   [ERRADA]

    Quem é submetido, é submetido A alguma coisa, então o trecho está correto. Mas a substituição proposta está errada, porque quem concede, concede algo A alguém. Nesse caso, o que estão sendo concedidas são as entrevistas, logo o acento indicativo de crase foi empregado de modo incorreto. Complementando para entender o sentido da bitransitividade verbal da frase: "Nas dezenas de entrevistas as quais concedi à emissora".

    b) Torturei-me durante algumas semanas... (3º parágrafo) – Sujeitei-me à tortura [CORRETA]  

    Quem se sujeita, se sujeita A alguma coisa e "tortura" é palavra feminina. Sinal indicativo de crase empregado corretamente. Ratificando: Sujeite-me ao martírio.

    c) Dias depois me lembrei de um poema de Mario Quintana... (4º parágrafo) – reportei-me [ERRADA]

    Aqui a alternativa não mexeu com questões gramaticais, mas sim semânticas. Percebam que "se lembrar"(vir a memória) é diferente de "se reportar"(se referir, aludir). 

    d) ... apenas ficavam olhando as pessoas nas janelas do trem... (4º parágrafo) – examinando às [ERRADA]

    Tanto o verbo "olhar" quanto o verbo examinar são transitivos diretos, ou seja, não exigem preposição. Então, na substituição, o sinal indicativo de crase foi empregado incorretamente.

    e) O poema de Mario Quintana devolveu-me a paz. (5º parágrafo) – deu-me à paz de volta [ERRADA]

    Os dois verbos possuem a mesma transitividade.Quem devolve, devolve algo a alguém. Quem dá, dá algo a alguém." A paz" é objeto direto, logo o sinal indicativo de crase foi empregado incorretamente.

    PARA FINALIZAR...

    Percebam que no comando da questão, a banca não diz quais critérios de correção devem ser levados em consideração. Por isso mesmo, devem ser analisadas tanto questões gramaticais, quanto sintáticas e semânticas.

    Espero ter ajudado :)

  • Complementando o comentário de Juh Góz:

     

    Reportar é verbo transitivo indireto

    - necessitando, assim, de proposição

    Fonte: dicionário prático de regência - LUFT, Celso

  •  a) Nas dezenas de entrevistas a que fui submetido... (1º parágrafo) – às quais concedi

        Nas dezenas de entrevistas as quais concedi...

     

     b) Torturei-me durante algumas semanas... (3º parágrafo) – Sujeitei-me à tortura

        Sujeitei-me à tortura durante algumas semanas... CORRETA!

     

     c) Dias depois me lembrei de um poema de Mario Quintana... (4º parágrafo) – reportei-me

        Dias depois reportei-me a um poema de Mario Quintana...

     

     d) ... apenas ficavam olhando as pessoas nas janelas do trem... (4º parágrafo) – examinando às

         ... apenas ficavam examinando as pessoas nas janelas do trem...

     

     e) O poema de Mario Quintana devolveu-me a paz. (5º parágrafo) – deu-me à paz de volta

         O poema de Mario Quintana deu-me a paz de volta.

  • Qual o erro da letra D?

  • a letra D o erro seria o emprego da crase incorretmente em examinando ÀS

  • quase fui na letra a .... mudei a tempo!

  • Torturei-me durante algumas semanas... (3º parágrafo) – Sujeitei-me à tortura. VTI

  • na letra E, se fosse substituido apenas a parte em negrito , que  é oque a questão manda ,a palavra PAZ apareceria duas vezes...

  • Qual o erro da letra E se devolver e dar de volta alguma coisa a alguém são as mesmas coisas?

     

    Buguei.

  • Thiago Oliveira, O ERRO E QUE NAO HA CRASE... SE FOSSE COLOCA-LA, DARIA SENTIDO AMBIGUO

  • Mas diante de pronome não pode usar crase? Por que na frase sujeitei-me à tortura está correto?
  • Questão complicada, na prova iria tomar tempo..... 

  • Então @amanda regina


    Na verdade a crase não está diante de pronome, está diante de uma palavra feminina que admite o artigo a e o anterior exige a preposição a


    Quem se sujeita "se sujeita A alguma coisa " VTI que exige a preposição a logo a crase


    Essa questão tomaria um tempinho meu na prova....

  • questao que diferencia o candidato @

  • atenção a crase não esta diante de pronome, ela esta diante de palavra feminina, é errado falar diante, a crase é proibida ANTES e não diante (diante é a frente).

  • Alternativas C, D e E são fáceis de eliminar se analisarmos com carinho . No caso da E que gerou muitas dúvidas, uma dica: Perguntem ao verbo. Sempre. Observem: Deu-me a paz. Deu-me o que? A paz. VTD não precisa de preposição. Quem dá,dá alguma coisa a alguém. Como o pronome "me" já está junto ao verbo, só sobra o "deu o que?". Se ainda assim tiverem dúvidas, troque a palavra por uma masculina. Isso realmente funciona. Deu-me O equilíbrio. Se fosse AO no lugar do O teria crase pois quando tem AO quer dizer que o verbo pede preposição.
  • Era a alternativa gramaticalmente correta, mas o sentido não é o mesmo. Forçado.
  • Uma observação a respeito do gabarito da questão, corrijam-se se eu estiver errado!

    Torturei-me durante algumas semanas... (3º parágrafo) – Sujeitei-me à tortura

    Torturei-me seria verbo pronominal (torturar-se), e a sua substituição por sujeitei-me (sujeitar-se), embora também seja pronominal, altera o sentido da frase; no mínimo ambígua.

    A tortura deixa de ser verbo pronominal e passa a ser substantivo.

    Veja que uma coisa é dizer, por exemplo, que você se torturou durante dias por não ter feito alguma coisaoutra coisa é dizer que você se sujeitou à tortura durante dias.

    Não fica claro se a pessoa "sofreu tortura" do verbo "torturar-se" ou sofreu tortura por meio de outra pessoa.