SóProvas


ID
2069887
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Sertãozinho - SP
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia a crônica “Não parta”, de Antonio Prata, para responder à questão.

   

   Ter trinta e poucos anos significa, entre outras coisas, que é praticamente impossível reunir cinco casais num jantar sem que haja pelo menos uma grávida. E estar na presença de uma grávida significa, entre outras coisas, que é praticamente impossível falar de qualquer outro assunto que não daquele rotundo e miraculoso acontecimento, a desenrolar-se do lado de lá do umbigo em expansão.

    

  Enquanto a conversa gira em torno dos nomes cogitados, da emoção do ultrassom, dos diferentes modelos de carrinho, o clima costuma ser agradável e os convivas se aprazem diante da vida que se aproxima. Mas eis então que alguém pergunta: “e aí, vai ser parto normal ou cesárea?”, e toda possível harmonia vai pra cucuia.

   

  Num extremo, estão as mulheres que querem parir de cócoras, ao pé de um abacateiro, sob os cuidados de uma parteira de cem anos, tendo como anestesia apenas um chá de flor de macaúba e cantigas de roda de 1924. Na outra ponta, estão as que têm tremedeiras só de pensar em parto normal, pretendem ir direto pra cesárea, tomar uma injeção e acordar algumas horas depois, tendo no colo um bebê devidamente parido, lavado, escovado, penteado e com aquela pulseirinha vip no braço, já com nome, número de série e código de barras.

    

  Os dois lados acusam o outro de violência: as naturebas dizem que a cesárea é um choque; as artificialebas alegam que dar as costas à medicina é uma irresponsabilidade. Eu, que durante meses ouvi calado as discussões, pesei bastante os argumentos e cheguei, enfim, a uma conclusão: abaixo o nascimento! Viva a gravidez!

    

  Imaginem só a situação: os primeiros grãos de consciência germinam em seu cérebro. Você boia num líquido morninho – nem a gravidade, essa pequena e constante chateação, te aborrece. Você recebe alimento pelo umbigo. Você dorme, acorda, dorme, acorda e jamais tem que cortar as unhas dos pés. Então, de repente, o líquido se vai, as paredes te espremem, a fonte seca, a luz te cega e, daí pra frente, meu amigo, é só decadência: cólicas, fome, sede, pernilongos, decepções, contas a pagar. Eis um resumo de nossa existência: nove meses no paraíso, noventa anos no purgatório.

   

   Freud diz que todo amor que buscamos é um pálido substituto de nosso primeiro, único e grande amor: a mãe. Discordo. A mãe já é um pálido substituto de nosso primeiro, único e grande amor: a placenta. Tudo, daí pra frente – as religiões, os relacionamentos amorosos, a música pop, a semiótica* e a novela das oito – é apenas uma busca inútil e desesperada por um novo cordão umbilical, aquele cabo USB por onde fazíamos, em banda larga, o download da felicidade. Do parto em diante, meu caro leitor, meu caro companheiro de infortúnio, a vida é conexão discada, wi-fi mequetrefe, e em vão nos arrastamos por aí, atrás daquela impossível protoconexão.

    

   No próximo jantar, se estiver do lado de uma grávida, jogarei um talher no chão e, ao abaixar para pegá-lo, cochicharei bem rente à barriga: “te segura, garoto! Quando começar a tremedeira, agarra bem nas paredes, se enrola no cordão, carca os pés na borda e não sai, mesmo que te cutuquem com um fórceps, te estendam uma mão falsamente amiga, te sussurrem belas cantigas de roda, de 1924. Te segura, que o negócio aqui é roubada!”.


(Revista Ser Médico. Edição 57 – Outubro/Novembro/Dezembro de 2011. www.cremesp.org.br. Adaptado)

*semiótica: ciência dos modos de produção, de funcionamento e de recepção dos diferentes sistemas de sinais de comunicação entre indivíduos ou coletividades.

Assinale a alternativa que está redigida de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO "A"

     

    Em meio às diferentes opiniões, existem as artificia-lebas, que consideram que se contrapor à medicina é uma irresponsabilidade à qual as mulheres não devem se submeter.

     

    Ao meu ver o item sublinhado, mesmo sendo o gabarito, deveria ficar: NÃO SE DEVEM (...) devido à haver próclise.

    Alguém comenta ?

     

  • Nada é fácil, tudo se conquista!

  • Gabarito A

    Complementando Paulo Roberto e Brasil! Brasil!

    A colocação pronominal está correta pois o "não" é atrativo para o auxiliar da locução verbal, a única possibilidade incorreta seria: 

    Não devem-se submeter (proibida ênclise do verbo auxiliar por existir palavra atrativa)

     

    As outras colocações estariam corretas:

    Não devem submeter-se: ênclise sempre facultativa após infinitivo

    Não devem se submeter: próclise em relação ao verbo principal

    Não se devem submeter: próclise em relação ao verbo auxiliar

  • I) Em meio a (alguma coisa) = crase > Em meio às diferentes opiniões

    II) Quem se contrapõe, se contrapõe a algo = crase > que consideram que se contrapor à medicina

    III) Quem se submete, se submete a algo = crase > à qual as mulheres não devem se submeter

  • Nao concordo com paulo roberto pois Vejo uma locuçao verbal, a qual mesmo tendo palavra atrativa nao muda em bda, oque seria facuktativo o uso de proclise ou enclise.

  • À QUAL = AO QUAL

    A obra À QUAL = AO QUAL fiz referência.

  • Na ordem direta: As melhores não devem se submeter à irresponsabilidade de se contrapor à medicina. É o "a" de "submeter a" que junta com o "a" do "a qual".

  • Submeter a

  • B - Troca 'uma irresponsabilidade' por 'um erro':

    ...consideram que se contrapor à medicina é um erro ao qual as mulheres não devem se submeter.

    Viu como aparece o artigo, e a preposição em 'ao'? Isso significa crase no caso feminino.

  • Acho que para maioria a principal dúvida fica nesse: "é uma irresponsabilidade à qual as mulheres não devem se submeter."

    "é uma irresponsabilidade a que as mulheres não devem se submeter."

    que = a qual ------ -> a + a qual = à qual.

  • Rosiane,"que" não é igual a "a qual". Grato

  • Minha maior dúvida ficou entre  "irresponsabilidade ao qual as mulheres" (leva crase) e "irresponsabilidade a qual as mulheres" (não concorda em número, então o artigo tem prioridade).

  •  

    Prin Campos

     

    Este caso refere-se à regência com pronome relativo. Quem se submete, se submete a alguma coisa, logo a regência é "a" e soma ao "a qual" pronome relativo e por isso ocorre a crase.

     

    Portanto a crase vem em razão da regência do verbo "submeter".

     

    Em meio às diferentes opiniões, existem as artificia-lebas, que consideram que se contrapor à medicina é uma irresponsabilidade à qual as mulheres não devem se submeter.

     

     

  • Pensei qe nao fosse acento no a qual

  • eh foda. o filtro é sobre pontuação mas pintou uma questão de acentuação. não se se eh bom ou ruim.

  • Uma dica: A Vunesp adorar misturar pontuação com acentuação gráfica e morfologia.

  • um pouco complexa.

  • professor explica 

  • mas e esse uma irresponsabilidade, por conta deste uma não era pra ficar sem crase?

  • A QUAL: para saber sde tem crase ou nao, e so voces trocarem a palavra antecedente feminina por uma masculina que seria "AO QUAL", se o sentido se fizer, entao ha carse, por exemplo:

    irresponsavel ao qual as mulheres não deve...

    irresponsabilidade à qual as mulheres não deve...

     

    Deus vos abençoe!

  • Quando podemos substituir "A QUE" por "A QUAL ou AS QUAIS", o acento é obrigatório é À QUAL, ÀS QUAIS.

    No caso presente, "(...) é uma irresponsabilidade à qual as mulheres não devem se submeter", à qual pode ser substituída, sem prejuízo do entendimento, por a que. "(...) é uma irresponsabilidade a que as mulheres não devem se submeter". 

    Pela regra, considerando a substiuição do aque, por a qual, este à qual deve ser acentuado.

  • FIZ UM TESTE E PERCEBÍ QUE POSSO RESOLVER CORRETAMENTE CERCA DE 80 % DAS QUESTÕES SEM NECESSARIAMENTE TER QUE LER O TEXTO ASSOCIADO. APENAS EM ALGUNS CASOS ESPECÍFICOS ISSO É NECESSÁRIO. NITIDAMENTE UMA MANOBRA DAS BANCAS EM QUERER CANSAR OS CANDIDATOS.

  • á qual????????

     

  • Pessoal, na alternativa A, a ênclise no auxiliar não está incorreta? 

    "Em meio às diferentes opiniões, existem as artificia-lebas, que consideram que se contrapor à medicina é uma irresponsabilidade à qual as mulheres não devem se submeter."

     

     

  • Em 19/03/2018, às 20:06:50, você respondeu a opção A. Certa!

    Em 08/03/2018, às 14:54:13, você respondeu a opção E. Errada!

     

    Parece que alguém andou estudando.

  •  Quem se submete, se submete a algo = crase > à qual as mulheres não devem se submeter

  • Queria que esse professor explicasse o porquê do SE está entre os verbos da loc. verbal 

    Pensei que podeira ser somente assim com palavras atrativas 

    Não se devem submeter 

    Não devem submeter-se 

  • Excelente questão .. 

  • Hachima Paulo pronome relativo atrai próclise, que é pronome relativo

  • willian rodrigues sentido negativo atrai pronome, lembrando que esse se é do submeter

  • willian rodrigues sentido negativo atrai pronome, lembrando que esse se é do submeter

  • No caso da questão do jeito que foi colocado esta errado mesmo...ou é "não se devem submeter" ou "não devem submeter-se", no caso da questão realmente esta errado, tal forma só seria aceita se não tivesse a palavra atrativa, no caso poderia ser antes do auxiliar, entre o auxiliar e o principal ou após o principal

  • E regra que entre palavras no "Plural" e "Singular" não pode ter Crase.

    ????

    Em meio às diferentes opiniões ......

  • Colaborando

    As alternativas (B, D, E) são eliminadas rapidamente em face do erro de paralelismo.

    E a Letra (C) fere a concordância "existe as artificia-lebas (...)

    Bons estudos.