SóProvas


ID
2102629
Banca
FCC
Órgão
Prefeitura de Teresina - PI
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O comportamento esperado na escola é bastante marcado por expectativas. Quando pensamos que "matemática é coisa de menino", que "menina é mais caprichosa", enfim, que certas coisas são próprias de meninas e outras de meninos, estamos limitando as aprendizagens e as experiências de vida das crianças e adolescentes.
Por exemplo, quantas grandes jogadoras de futebol podemos ter perdido em nossas escolas a cada ano justamente porque as meninas são desencorajadas a praticar esse esporte, considerado "de menino"? Ou quantas matemáticas e físicas o mundo pode ter perdido cada vez que se acreditou que as alunas, por serem meninas, são naturalmente mais fracas nas disciplinas da área de exatas? Toda vez que uma menina tem menos incentivo para fazer algo considerado "de menino", os estereótipos de gênero funcionam como um freio para todas as possibilidades de aprendizagem que poderiam delinear outro futuro para ela.
Apesar de haver registros sobre equipes femininas de futebol nos anos de 1920, jogar futebol passou a ser proibido às mulheres em um decreto federal de 1941. Ao lado de lutas, saltos, rúgbi, polo e atletismo, a proibição se estendeu até 1979, sob a alegação de que era uma atividade violenta demais para elas.
Atualmente, o Brasil conta com uma das melhores jogadoras de futebol de toda a história. Marta Vieira da Silva recebeu cinco vezes o título de melhor jogadora de futebol feminino do mundo pela Fifa, dois a mais que o mais premiado brasileiro na versão masculina do prêmio. Entretanto, a vantagem de Marta em suas premiações não garantiu visibilidade para os campeonatos femininos nas programações da TV brasileira nem salários iguais àqueles recebidos por seus colegas do futebol masculino. Ações como a proibição do futebol feminino nos anos de 1940 mostram que tais desigualdades devem-se muito mais aos estereótipos de gênero socialmente formulados e reproduzidos do que à falta de habilidade das mulheres no esporte.
Esse exemplo nos lembra o quanto ideias de que há "coisas de homem" ou "coisas de mulher" são muitas vezes produtos de estereótipos e hierarquias sociais. Assim, é sempre preciso celebrar pessoas que desafiam as regras previstas e mostram que o corpo humano, feminino ou masculino, pode desenvolver habilidades as mais variadas, inclusive aquelas não previstas culturalmente.
(Adaptado de: ACCIOLY, Lins, Beatriz et al. Diferentes, não desiguais: a questão de gênero na escola. São Paulo: Reviravolta, 2009, p.19-21) 

Depreende-se do texto que 

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C.

     

    Fundamento:

     

     a) as hierarquias sociais, se incentivadas, desafiam leis opressoras como as que determinaram a proibição do futebol feminino na década de 1940, reforçando a imagem de fragilidade da mulher.

    incorreta: "Esse exemplo nos lembra o quanto ideias de que há "coisas de homem" ou "coisas de mulher" são muitas vezes produtos de estereótipos e hierarquias sociais."

     

     b) a escola, ao questionar as limitações impostas pela sociedade, termina por reforçar fatores ligados à cultura, corroborando estereótipos que caracterizam tradicionalmente homens e mulheres. 

    incorreta: pelo contrário. Se a escolar questionar a limitação vai desestimular fatores ligados à cultura: "Por exemplo, quantas grandes jogadoras de futebol podemos ter perdido em nossas escolas a cada ano justamente porque as meninas são desencorajadas a praticar esse esporte, considerado "de menino"? Ou quantas matemáticas e físicas o mundo pode ter perdido cada vez que se acreditou que as alunas, por serem meninas, são naturalmente mais fracas nas disciplinas da área de exatas?"

     

     c) a cultura tradicional prevê as escolhas profissionais e suas limitações, muitas vezes ligadas a questões de gênero; a escola, por sua vez, pode ter um papel decisivo na problematização dessas barreiras. 

    correta: vide comentário da alternativa anterior.

     

     d) as desigualdades entre homens e mulheres advêm de uma educação pautada no questionamento e na problematização de questões de gênero socialmente constituídas e repetidas por muitos anos. 

    incorreta: pelo contrário: o questionamento e a problematização das questões de gênero desestimulam as desigualdades, cujas causas "(...) devem-se muito mais aos estereótipos de gênero socialmente formulados e reproduzidos do que à falta de habilidade das mulheres no esporte."

     

     e) o destaque de mulheres nos esportes resulta da superação de características próprias ao gênero feminino, que, não obstante, deixaram de constar das leis federativas, a exemplo da proibição de praticar jogos "violentos".

    incorreta: "tais desigualdades devem-se muito mais aos estereótipos de gênero socialmente formulados e reproduzidos do que à falta de habilidade das mulheres no esporte. (...) Assim, é sempre preciso celebrar pessoas que desafiam as regras previstas e mostram que o corpo humano, feminino ou masculino, pode desenvolver habilidades as mais variadas, inclusive aquelas não previstas culturalmente."

  • Pra mim, questão de interpretação de texto da FCC é pior que uma questão de tributário para juiz.

    Segue um trecho do texto que me fez acertar, talvez ajude alguem:

    "Toda vez que uma menina tem menos incentivo para fazer algo considerado "de menino", os estereótipos de gênero funcionam como um freio para todas as possibilidades de aprendizagem que poderiam delinear outro futuro para ela."

     

     c) a cultura tradicional prevê as escolhas profissionais e suas limitações, muitas vezes ligadas a questões de gênero; a escola, por sua vez, pode ter um papel decisivo na problematização dessas barreiras. 

    FREIO = BARREIRAS.

  • SEGUE UMA REDAÇÃO SOBRE O TEMA:

     

    O movimento “Escola sem Partido” ganhou força depois que alguns Entes Federados aprovaram leis que impedem professores de impor doutrinas político-ideológicas e dogmas religiosos nas salas de aula. Nesse contexto,  o Supremo Tribunal Federal também foi provocado a se manifestar sobre o ensino religioso nas escolas públicas, gerando um intenso debate.

     

    Segundo algumas associações de docentes, o movimento tenta controlar o que pode ou não ser dito nas escolas – uma espécie de “Lei da Mordaça”, que viola a liberdade de expressão. Todavia, os apoiadores do movimento afirmam que o professor não pode ter ampla liberdade para pregar ideologias unilaterais, devendo-se apresentar aos alunos conteúdos plurais. Ademais, questiona-se no STF a constitucionalidade das leis que tratam da matéria em debate, porquanto é competência privativa da União legislar sobre as diretrizes da educação nacional. Não obstante, a Carta Magna garante a pluralidade de ideias e de concepções pedagógicas no ambiente escolar, não se devendo limitar o ensino a uma única visão política ou religiosa.

     

    Com efeito, no caso do ensino religioso nas escolas públicas, o Supremo Tribunal decidiu que é permitida a educação de natureza confessional, ou seja, vinculada às diversas religiões. De um lado, ficaram vencidos os ministros que defendiam que a laicidade estatal não implica o menosprezo da religião na vida comunitária, mas afasta o dirigismo no tocante a uma determinada crença. Defende-se que o Poder Público não pode interferir nas escolhas religiosas das pessoas, sendo obrigado a manter uma posição de neutralidade axiológica.

     

    No entanto, a maioria dos ministros asseverou que o ensino religioso pode ter natureza confessional, desde que a matrícula na disciplina seja facultativa. Assentou-se que, embora o Estado seja laico, a Constituição não afastou a liberdade de crença, de expressão e a manifestação de ideias no âmbito escolar. Por fim, vale lembrar que a Convenção Americana de Direitos Humanos preceitua que os pais têm direito a que seus filhos recebam educação religiosa e moral.