SóProvas


ID
2222839
Banca
IBADE
Órgão
Câmara de Santa Maria Madalena - RJ
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Longe dos olhos, longe da consciência


   Alguns anos atrás os jornais noticiaram, com destaque, que a praça da Sé estava voltando a ser um aprazível ponto turístico de São Paulo.

  A providência higienizadora do nosso marco zero consistiu na retirada dos menores que por lá perambulavam. Com a saneadora medida, a praça estava salva, voltava a ser nossa. A sua crônica sujeira não mais incomodava. Os menores estavam fora, pouco importava a permanência dos marreteiros, pregadores da Bíblia, comedores de faca e fogo, ciganos, repentistas e os saudáveis churrasquinhos e pastéis. Até os trombadões permaneceram. Aliás, é compreensível; é bem mais fácil remover as crianças do que deter os trombadões.

  Anteriormente, competente e sensível autoridade levou dezenas de menores para fora das fronteiras de nosso Estado. A operação expurgo foi também bastante noticiada.

  No Rio de Janeiro a providência teve caráter definitivo. As crianças foram mortas na Candelária.

   Em Belo Horizonte, também há algum tempo, uma operação militar foi montada para retirar das ruas cerca de 500 crianças. A imprensa exibiu fotos de crianças de até quatro anos, várias com chupetas na boca, sendo colocadas em camburões pelos amáveis e carinhosos soldados da milícia mineira, que souberam respeitar as crianças, deixando-as com suas chupetas.

  Riscar as crianças dos mapas urbanos já não está mais nos planos dos zelosos defensores das nossas urbes e da nossa incolumidade física. Viram ser essa uma missão inócua. Retiradas daqui ou dali, passam a habitar lá ou acolá. Saem da praça da Sé, vão para a praça Ramos ou para as praças da zona Leste, Oeste, Norte ou Sul. Saem de uma capital e vão para outra, de um extremo ao outro do país.

  Ironias à parte, cuidar dos menores para evitar o abandono, para suprir as suas carências e para protegê-los da violência que os atinge é obrigação humanitária de todos nós. E, para quem não tem a solidariedade como móvel de sua conduta, que aja ao menos impulsionado pelo egoísmo em nome da autopreservação.

  No entanto novamente se assiste ao retumbante coral repressivo, que entoa a surrada, falsa e enganosa solução da cadeia para os que já cometeram infrações e, para os demais, esperar que as cometam, para irem fazer companhia aos outros.

  A verdade é que sempre quisemos distância das nossas crianças carentes. Longe dos olhos, longe da consciência. A sociedade só se preocupa com os menores porque eles estão assaltando. Estivessem quietos, amargando inertes as suas carências, continuariam esquecidos e excluídos.

  Esse problema, reduzido à fórmula simplista de solução - diminuição da idade -, bem mostra como a questão criminal no país é tratada de forma leviana, demagógica e irresponsável. Colocam-se nas penitenciárias ou nas delegacias os maiores de 16 anos e ponto final. Tudo resolvido.

  A indagação pertinente é por que diminuir a responsabilidade penal só para 16 anos. Há crianças com dez ou oito anos assaltando? Vamos encarcerá-las. Melhor, nascituros também poderiam ser isolados. Dependendo das condições em que irão viver, poderão estar fadados a nos agredir futuramente. Não será melhor criá-los longe dos centros urbanos, isolá-los em rincões distantes para que não nos ponham em risco?

  Parece estar na hora - tardia, diga-se de passagem - de encararmos com honestidade e com olhos de ver a questão do crime no país, especialmente do menor infrator e do menor carente. Chega de demagogia e de hipocrisia. Vamos cuidar da criança e do adolescente. Aliás, não só do carente e do abandonado, mas também daqueles poucos bem nascidos, pois também estavam cometendo crimes. Destes esperamos que os pais acordem e imponham regras e limites, deem menos liberdade, facilidades e dinheiro e mais educação, respeito pelo próximo e conhecimento da trágica realidade do país.

  Em relação aos outros, esperamos que a sociedade e o Estado, em vez de os porem na cadeia, eduquem-nos, deem-lhes afeto e os ajudem a adquirir autoestima, única maneira de os proteger do crime de abandono.

OLIVEIRA, Antônio Cláudio Mariz de. Longe dos olhos, longe da consciência. Folha de S. Paulo, São Paulo, 11 ago. 2004. Brasil, Opinião, p. A3.

Sobre os elementos destacados do fragmento “A providência higienizadora do nosso marco zero consistiu na retirada dos menores que por lá perambulavam.", leia as afirmativas.

I. A palavra HIGIENIZADORA é um substantivo derivado, feminino, singular.
II. QUE é um pronome substantivo relativo.
III. CONSISTIU é um verbo significativo, transitivo indireto.

Está correto apenas o que se afirma em:

Alternativas
Comentários
  • Porque seria a letra E? e não a alternativa D???

    Alguem tem alguma explicação?

  • “A providência higienizadora do nosso marco zero consistiu na retirada dos menores que por lá perambulavam.", leia as afirmativas.

     

    I. A palavra HIGIENIZADORA é um substantivo derivado, feminino, singular.  (ERRADO)   OBS.   "HIGIENIZADORA" é adjeitvo

     

    II. QUE é um pronome substantivo relativo. (CORRETO)   OBS.   Quando der para substituir por (O QUAL, A QUAL) será pronome realtivo.

     

    III. CONSISTIU é um verbo significativo, transitivo indireto. (CORRETO)   OBS. consistiu EM que.  Verbo trasitivo indireito VTI, pois pede complemento rigido de preposição "EM".

     

    Gabarito: E

  • Gabarito letra E

     

    Charles não é a letra D pq na frase a palavra "higienizadora" assume papel de adjetivo, qualificando  "providência".

     

    I. A palavra HIGIENIZADORA é um substantivo derivado, feminino, singular.  ERRADO, qualifica providência, é adjetivo, pode ser retirada da frase sem prejuízo, confirmando se tratar de um adjetivo.

     

    II. QUE é um pronome substantivo relativo. CERTO - retoma os menores, como o amigo disse sempre que for possível trocar por "os quais, pelos quais..." será pronome relativo. 

     

    III. CONSISTIU é um verbo significativo, transitivo indireto.Certo - sabia que era VTI  (consistiu EM) mas não lembrava o que era verbo significativo então fui pesquisar, segue a baixo.

     

    Verbos significativos, também chamados de plenos ou nocionais, são verbos que indicam uma ação, podendo ser transitivos diretos ou indiretos e intransitivos. Atuam como núcleo de um predicado verbal ou verbo-nominal.

     

    fonte: https://www.normaculta.com.br/verbos-significativos

  • A letra D não é, uma vez que higienizadora é adjetivo e não substantivo.

  • Por Favor alguém me ajude:

    Deixando de lado o contexto que está inserido o substantivo "higienizadora", ele é ou não derivado? 

    Parece que quanto mais estudo mais dúvidas tenho.....não tá fácil não

     

    Bons Estudos!!!

  • GALERA. Tem que saber fazer prova de múltipla escolha.

    Tendo em vista as inúmeras dúvidas dos candidatos na assertiva ''I'' vamos analisar as próximas assertivas.

    Tendo em vista que são mais fáceis, II e III são verdadeiras. Logo não há nenhuma alternativa que se enquadre nas três premissas verdadeiras. So restando a alternativa E.

  • Até então conhecia apenas como pronome relativo e não como relativo substantivo, aí fiz uma pesquisa e descobri que eles são a mesma coisa, acompanhe:

     

     

    Os pronomes relativos que, quem, o qual, onde e quanto são pronomes relativos substantivos, ou seja, substituem um substantivo, evitando sua repetição no período.

    Você gosta de uma garota. A garota viajou para longe.

    garota de quem você gosta viajou para longe.

    Os pronomes relativos substantivos podem ser facilmente substituídos pelo relativo o qual e suas variantes (a qual, os quais, as quais):

    A garota da qual você gosta viajou para longe.

     

     

     

     

     

    Ademais, esta do verbo significativo eu também não conhecia, errando e aprendendo para fazer uma boa prova :)

  • Verbos significativos = plenos =  nocionais = indicam uma ação (transitivos diretos ou indiretos e intransitivos)  =  

    predicado verbal

            ou

     verbo-nominal.

  • A providência higienizadora do nosso marco zero consistiu na retirada dos menores que (esse que poderia ser substituido pelo "os quais") por lá perambulavam." 

    II. QUE é um pronome substantivo relativo. CORRETO. Pois, o pronome relativo substitue um substantivo. Nesse caso, está substituindo "menores".  

    III. CONSISTIU é um verbo significativo, transitivo indireto. O fato da troca do verbo nocional pelo significativo da pra confundir muitas pessoas, principalmente se você for acostumado(a) com o nome nocional assim como eu, erraria a questão. Observe que o constistuiu vem acompanhado de uma contração da preposição "em + a = na. Por isso, é VTI pois esse tipo de verbo necessita de uma preposição. 

     

    Alternativa: E

  • Alquimista Federal, você fez um ótimo comentário mano!!!

  •  “A providência higienizadora do nosso marco zero consistiu na retirada dos menores que por lá perambulavam."

     

    I. A palavra HIGIENIZADORA é um substantivo derivado, feminino, singular.

    É um adjetivo e está caracterizando "providência".

    II. QUE é um pronome substantivo relativo.

    Sim e está substituindo "menores".

    III. CONSISTIU é um verbo significativo, transitivo indireto.

    Quem consiste, consiste em alguma coisa. "Consistir" é verbo de ação e transitivo indireto nesse contexto.

    Existem 3 tipos de verbos:

    - Verbo de ação ou significativo: possui significado próprio e revela algo que está sendo realizado pelo sujeito dentro da frase. Ex.: comer, beber, dançar, falar etc.;

    - Verbo de ligação ou de estado: indica um estado do sujeito, ou seja, liga características ao sujeito, estabelecendo entre eles certos tipos de relações. Ex.: ser, estar, continuar, permanecer etc.;

    - Verbo que indica fenômeno da natureza ou meteorológico: é autoexplicativo. Ex.: nevar, trovejar, chover etc.

    GAB E

  • Nenhum dos professores chamava de pronome relativo de pronome substantivo relativo, porém faz muito sentido. Nunca imaginei que a IBADE teria uma questão decente como esta!