SóProvas


ID
2283544
Banca
FUNCAB
Órgão
Faceli
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

As intermitências da morte

(Fragmento) 

    A morte conhece tudo a nosso respeito, e talvez por isso seja triste. Se é certo que nunca sorri, é só porque lhe faltam os lábios, e esta lição anatômica nos diz que, ao contrário do que os vivos julgam, o sorriso não é uma questão de dentes. Há quem diga, com humor menos macabro que de mau gosto, que ela leva afivelada uma espécie de sorriso permanente, mas isso não é verdade, o que ela traz à vista é um esgar de sofrimento, porque a recordação do tempo em que tinha boca, e a boca língua, e a língua saliva, a persegue continuamente. Com um breve suspiro, puxou para si uma folha de papel e começou a escrever a primeira carta deste dia, Cara senhora, lamento comunicar-lhe que a sua vida terminará no prazo irrevogável e improrrogável de uma semana, desejo-lhe que aproveite o melhor que puder o tempo que lhe resta, sua atenta servidora, morte. Duzentas e noventa e oito folhas, duzentos e noventa e oito sobrescritos, duzentas e noventa e oito descargas na lista, não se poderá dizer que um trabalho destes seja de matar, mas a verdade é que a morte chegou ao fim exausta. Com o gesto da mão direita que já lhe conhecemos fez desaparecer as duzentas e noventa e oito cartas, depois, cruzando sobre a mesa os magros braços, deixou descair a cabeça sobre eles, não para dormir, porque morte não dorme, mas para descansar. Quando meia hora mais tarde, já refeita da fadiga, a levantou, a carta que havia sido devolvida à procedência e outra vez enviada, estava novamente ali, diante das suas órbitas atônitas.

    Se a morte havia sonhado com a esperança de alguma surpresa que a viesse distrair dos aborrecimentos da rotina, estava servida. [...] Entre ir e vir, a carta não havia demorado mais que meia hora, provavelmente muito menos, dado que já se encontrava em cima da mesa quando a morte levantou a cabeça do duro amparo dos antebraços, isto é, do cúbito e do rádio, que para isso mesmo é que são entrelaçados. Uma força alheia, misteriosa, incompreensível, parecia opor-se à morte da pessoa, apesar de a data da sua defunção estar fixada, como para toda a gente, desde o próprio dia do nascimento. É impossível, disse a morte à gadanha silenciosa, ninguém no mundo ou fora dele teve alguma vez mais poder do que eu. eu sou a morte, o resto é nada. As intermitências da morte (Fragmento)

SARAMAGO, José. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 139-40


Sobre os elementos destacados do fragmento “Se a morte havia sonhado com a esperança de alguma surpresa que a viesse distrair dos aborrecimentos da rotina, estava servida.”, leia as afirmativas.
I. O verbo “haver” como auxiliar da expressão HAVIA SONHADO fica no plural se o sujeito estiver no plural.
II. “DE ALGUMA SURPRESA” é objeto indireto da primeira oração.
III. QUE é uma conjunção integrante.
Está correto o que se afirma em:

Alternativas
Comentários
  • Gab:A

    Dica para a III. "Se tem verbo ANTES, então o QUE é conjunção integrante.". No caso, como não há verbo antes do que, não é conjunção integrante.

  • I - O verbo haver flexiona com o sujeito, visto que não tem sentido de "existir".

    II - "Com a esperança" é O.I 

    III - "QUE" exerce a função de pronome relativo.

  • DICA

    QUANDO O "QUE" PODER SER SUBSTITUÍDO POR "AS QUAIS" = PRONOME RELATIVO

  •  "de alguma surpresa" não é complemento nominal de esperança?

  • Exatamente Nio, é complemento nominal!

  • QUE e SE podem ser conjunções integrantes.

    Neste caso, o QUE é pronome.

  • DE ALGUMA SURPRESA é CN

  • GAB A! PMSC 2019. "AGINDO DEUS QUEM IMPEDIRÁ?"
  • Sobre os elementos destacados do fragmento “Se a morte havia sonhado com a esperança de alguma surpresa que a viesse distrair dos aborrecimentos da rotina, estava servida.”, leia as afirmativas.

    I. O verbo “haver” como auxiliar da expressão HAVIA SONHADO fica no plural se o sujeito estiver no plural. Certa, aqui o verbo haver - não está no sentido de existir ou ocorrer- está como auxiliar, caso o sujeito vá para o plural, o verbo auxiliar (haver) sofre a alteração.

    II. “DE ALGUMA SURPRESA” é objeto indireto da primeira oração. Errada. Sintaticamente é um adjunto nominal, pois caracteriza o termo esperança. Morfologicamente, "de alguma surpresa", é uma locução adjetiva.

    III. QUE é uma conjunção integrante. (Errada: pois é um pronome relativo, podendo ser substituindo por o qual, retoma um termo anterior)

    Alternativa A

  • a-

    I - Se as mortes haviam sonhado - V

    II. “DE ALGUMA SURPRESA” é o complemento nominal de esperança.

    III- 'que' é pronome relativo para conectar oração subordinada adjetiva a ALGUMA SURPRESA

  • Se a morte havia sonhado com a esperança de alguma surpresa que a viesse distrair dos aborrecimentos da rotina, estava servida.

     I. O verbo “haver” quando não está sendo utilizado no sentido de existir, ocorrer= flexiona-se normalmente.

     II. esperança de alguma

    Veja que esperança é um nome que exige complemento.. esperança de q? de alguma surpresa.=CN.

     III.

    Quando puder trocar o "que" por isso= Conjunção integrante

    Quando puder trocar o "que" por qual(ais)= Pronome relativo.

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • Galera,

    Complemento Nominal X Adjunto Adnominal

    • CN tem valor paciente - sofre a ação - Pode ser pedido pela bancas como termo que a preposição é exigida pela regência; By Grasiela Cabral

    • ADN tem valor agente - pode ser pedido como Termo de valor adjetivo - By Grasiela Cabral

    Pulo do gato:

    • Ambos tem em comum apenas o Substantivo Abstrato- e para diferenciar é pensar se o termo é paciente (CN) ou agente (ADN)

    Complemento Nominal

    Complemento de nomes transitivos

    A) Adjetivos

    B) Advérbios

    C) Substantivos abstratos (Exceto preposição de)

    D) Substantivo abstrato (preposição de + paciente)

    ADJUNTO ADNOMIAL

    É uma locução adjetiva

    A) Substantivos concretos

    B) Substantivos abstratos (preposição de + agente)

    Fonte: A Gramática do Concursando + Prof. Grasiela Cabral

    Correções? gentileza mandar um mensagem no privado. Obrigado.

  • Contribuição referente a 1º afirmativa:

    Verbo haver pode ser pessoal ou impessoal!

    Impessoal >

    • = Existir, acontecer e ocorrer.
    • Tempo decorrido.

    Pessoal >

    • Verbo auxiliar de uma locução verbal. = "ter"

     "as mortes haviam sonhado" = "As mortes teriam sonhado."

  • Gabarito: letra A.

    I - Certo. Se o sujeito estivesse no plural, o verbo "haver" como auxiliar da expressão "havia sonhado" também ficaria no plural. Ex: "As pessoas haviam sonhado com a esperança de alguma surpresa".

    II - Errado. "DE ALGUMA SURPRESA" não é objeto indireto, pois não completa um verbo, completa um substantivo: "esperança", portanto é complemento nominal.

    III - Errado. "que" não é conjunção integrante, é pronome relativo (pode ser substituído por "a qual").