SóProvas


ID
2318752
Banca
IESES
Órgão
Prefeitura de São José do Cerrito - SC
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

LÍNGUAS MUDAM
Por Sírio Possenti. Adaptado de: http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/3089/n/linguas_mudam Acesso em 13 jan 2017.
Que as línguas mudam é um fato indiscutível.O que interessa aos estudiosos é verificar o que muda, em que lugares uma língua muda, a velocidade e as razões da mudança. Desde a década de 1960, um fator foi associado sistematicamente à mudança: a variação. Isso quer dizer que, antes que haja mudança de uma forma a outra, há um período de variação, quando as duas (ou mais) ocorrem – inicialmente em espaços ou com falantes diferentes. Aos poucos, a forma nova vai sendo empregada por todos; depois, a antiga desaparece. [...].
Os sociolinguistas, eventualmente, fazem testes para verificar se um caso de variação é ou não candidato à mudança. O teste simula a passagem do tempo verificando qual é a forma adotada pelos falantes mais velhos e pelos mais jovens. Por exemplo: se os mais velhos escrevem ou dizem sistematicamente “para fazer uma tese é preciso que...” e os mais jovens, “para se fazer uma tese...”, este é um indício de que o infinitivo sem sujeito, nesta posição, tende a desaparecer com o desaparecimento dos falantes mais idosos (e “para se fazer” será a forma única, pelo menos durante um tempo).
De vez em quando, há discussões sobre certos casos. Dois exemplos: o pronome ‘cujo’ e a segunda pessoa do plural dos verbos (‘jogai’ etc.). Minha avaliação (bastante informal) é que ‘cujo’ desapareceu. O que quer dizer “desapareceu”? Que não se emprega mais? Não! Quer dizer que não é mais de emprego corrente; só aparece em algumas circunstâncias – tipicamente, em textos muito formais (em geral de autores idosos). E, claro, em textos antigos.
Que apareça em textos antigos é uma evidência de que a forma era / foi empregada. Que apareça cada vez menos é um indício de que tende a desaparecer. Com um detalhe: desaparecer não quer dizer não aparecer nunca mais em lugar nenhum. Quer dizer não ser de uso corrente. Para fazer uma comparação, ‘cujo’ é como a gravata borboleta: só usamos esse item em certas cerimônias, ou seu uso é uma idiossincrasia [...].
Outro caso é a segunda pessoa do plural, em qualquer tempo ou modo. Recentemente, um colunista defendeu a tese de que a forma está viva. Seu argumento: aparece em cartazes de torcedores em estádios de futebol, especialmente do Corinthians, no apelo “jogai por nós”. Mesmo que este seja um fato, a conclusão é fraca. A forma é inspirada numa ladainha de Nossa Senhora, toda muito solene, muito mais do que formal. E é bem antiga, traduzida do latim. [...] A cada invocação, os fiéis respondem “rogai por nós”. “Jogai por nós” é uma fórmula inspirada em outra fórmula, típica desta oração. Para que se possa sustentar que a segunda pessoa do plural não desapareceu, seria necessário que seu uso fosse regular. Que, por exemplo, os corintianos também gritassem “Recuai, Wendel”, “Não erreis estas bolas fáceis, Vagner Love”, “Tite, fazei Malcolm treinar finalizações” e, quando chateados, gritassem “Como sois burro!”. Espero que nenhum colunista sustente que isso ocorre... [...] O caso “jogai” me faz lembrar outro, da mesma natureza, de certa forma. Se há um fato consensual em português (do Brasil) é que não se diz naturalmente “ele o/a viu, vou fazê-la sair”. Estas formas pronominais objetivas diretas de terceira pessoa são verdadeiros arcaísmos. Só são parcialmente aprendidas na escola. Os alunos começam a empregá-las depois de alguns anos, um pouco por pressão, um pouco porque se dão conta de que cabem em textos mais monitorados. Mas essas formas nunca aparecem na fala deles (e são muitíssimo raras também na fala de pessoas cultas, como as que aparecem em debates na TV).
Curiosamente, uma das formas de manifestar chateação, com perdão da expressão, é “p*** que o pariu”! Aqui, o pronome oblíquo aparece! Entretanto, ninguém vai dizer que esse é um argumento para sustentar que o pronome oblíquo está vivo. Se disser...
Sírio Possenti Departamento de Linguística - Universidade Estadual de Campinas
 

Analise as proposições a seguir sobre a pontuação do seguinte trecho:
Curiosamente, uma das formas de manifestar chateação, com perdão da expressão, é “p*** que o pariu”! Aqui, o pronome oblíquo aparece! Entretanto, ninguém vai dizer que esse é um argumento para sustentar que o pronome oblíquo está vivo. Se disser...
I. A primeira vírgula é opcional, ou seja, sua presença é apenas um recurso de entonação.
II. A segunda e a terceira vírgula estão isolando uma oração explicativa.
III. As aspas foram empregadas para indicar que a expressão é própria da linguagem verbal.
IV. O segundo ponto de exclamação que aparece no trecho foi empregado para indicar espanto.
Agora assinale a alternativa que contenha análise correta sobre as proposições.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO B

     

    I - CORRETA: A vírgula foi usada para dar ênfase no que será dito. Precebe-se que sua retirada em nada altera a progressão da oração.

     

    II - ERRADA: A vírgula está isolando um aposto. E nesse caso não se configura uma oração, pois não há presença de verbo.

     

    III - CORRETA: As aspas são usadas para: 

    ● Isolar palavras ou expressões que fogem à norma padrão, como gírias, estrangeirismos, palavrões, etc.

     

    ● Indicar citação textual.

     

    Obs.: o termo "verbal" nessa opção está se referindo a linguagem "falada".

     

    IV - CORRETA: o ponto de exclamação é usado para:

    ●  Indicar ordem, espanto, admiração, surpresa, etc.

     

    Bons estudos.

  • "IV. O segundo ponto de exclamação que aparece no trecho foi empregado para indicar espanto."
    "Curiosamente, uma das formas de manifestar chateação, com perdão da expressão, é “p*** que o pariu”!"

    Aceitar este "!" com o sentido de espanto, está difícil de engolir. 

  • Já são, no mínimo, duas questões de português com gabarito duvidoso/errado.

     

    Vide Q772912.

  • Não faz sentido, como o autor pode se espantar com a informação que ele já conhecia? Pra mim a exclamaçao aparece pra enfatizar a fala!

  • também não concordo com o item IV...

     

    O chato do português é isso mesmo, pois pode ter duas interpretações para uma mesma frase. Assim a banca pode utlizar como resposta correta qualquer uma das possibilidades...

  • sobre o item ''II'': não ta separando oração explicativa porque ''com perdão da expressão'' não é oração, pois não contem verbo!

  • a segunda e a terceira virgula, estao separando um anacoluto, ou seja,uma intercalação, uma interrupção brusca numa frase. Exemplos: isto é, ou seja, a meu ver, no caso da frase é a expressão " com o perdão da expressão".

  • Segundo Flávia Rita, adjunto adverbial com mais de tres silabas é considerado de grande extensão. Adjunto adverbial de grande  e média extensão no inicio da frase obriga o uso da virgula. Portanto, não estaria incorreta a I ?

  • I. A primeira vírgula é opcional, ou seja, sua presença é apenas um recurso de entonação.

     

         Correta a número I. Advérbio antes do verbo, a vírgula é opcional.

  • tres sílabas ou três palavras? A ABL diz 3 palavras ou mais

  • Eu jurava que a l estava errada

  • puta que me pariu!
    Banca ordinária

  • Isso é igual falar que em "Aqui é Galo!" (ou seu time de escolha) a exclamação indica espanto. Esse examinador deve se assustar fácil pra caramba se isso ai expressa espanto.

  • Esse espanto, Misericórdia...

  • Curiosamente, uma das formas de manifestar chateação, com perdão da expressão, é p*** que o pariu! Aqui, o pronome oblíquo aparece! Entretanto, ninguém vai dizer que esse é um argumento para sustentar que o pronome oblíquo está vivo. Se disser...

    I. A primeira vírgula é opcional, ou seja, sua presença é apenas um recurso de entonação, pois o adjunto adverbial antecipado é de pequena extensão.

    II. A segunda e a terceira vírgula estão isolando um adjunto adverbial deslocado.

    III. As aspas foram empregadas para indicar que a expressão é própria da linguagem verbal.

    IV. O segundo ponto de exclamação que aparece no trecho foi empregado para indicar espanto.