SóProvas


ID
2565412
Banca
FCC
Órgão
TRF - 5ª REGIÃO
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      O filósofo Theodor Adorno (1903-1969) afirma que, no capitalismo tardio, “a tradicional dicotomia entre trabalho e lazer tende a se tornar cada vez mais reduzida e as ‘atividades de lazer’ tomam cada vez mais do tempo livre do indivíduo”. Paradoxalmente, a revolução cibernética de hoje diminuiu ainda mais o tempo livre.

      Nossa época dispõe de uma tecnologia que, além de acelerar a comunicação entre as pessoas e os processos de aquisição, processamento e produção de informação, permite automatizar grande parte das tarefas. Contudo, quase todo mundo se queixa de não ter tempo. O tempo livre parece ter encolhido. Se não temos mais tempo livre, é porque praticamente todo o nosso tempo está preso. Preso a quê? Ao princípio do trabalho, ou melhor, do desempenho, inclusive nos joguinhos eletrônicos, que alguns supõem substituir “velharias”, como a poesia.

      T.S. Eliot, um dos grandes poetas do século XX, afirma que “um poeta deve estudar tanto quanto não prejudique sua necessária receptividade e necessária preguiça”. E Paul Valéry fala sobre uma ausência sem preço durante a qual os elementos mais delicados da vida se renovam e, de algum modo, o ser se lava das obrigações pendentes, das expectativas à espreita… Uma espécie de vacuidade benéfica que devolve ao espírito sua liberdade própria.

      Isso me remete à minha experiência pessoal. Se eu quiser escrever um ensaio, basta que me aplique e o texto ficará pronto, cedo ou tarde. Não é assim com a poesia. Sendo produto do trabalho e da preguiça, não há tempo de trabalho normal para a feitura de um poema, como há para a produção de uma mercadoria. Bandeira conta, por exemplo, que demorou anos para terminar o poema “Vou-me embora pra Pasárgada”.

      Evidentemente, isso não significa que o poeta não faça coisa nenhuma. Mas o trabalho do poeta é muitas vezes invisível para quem o observa de fora. E tanto pode resultar num poema quanto em nada.

      Assim, numa época em que “tempo é dinheiro”, a poesia se compraz em esbanjar o tempo do poeta, que navega ao sabor do poema. Mas o poema em que a poesia esbanjou o tempo do poeta é aquele que também dissipará o tempo do leitor, que se deleita ao flanar por linhas que mereçam uma leitura por um lado vagarosa, por outro, ligeira; por um lado reflexiva, por outro, intuitiva. É por essa temporalidade concreta, que se manifesta como uma preguiça fecunda, que se mede a grandeza de um poema.

(Adaptado de: CÍCERO, Antonio. A poesia e a crítica: Ensaios. Companhia das Letras, 2017, edição digital) 

Se não temos mais tempo livre, é porque praticamente todo o nosso tempo está preso. Preso a quê? Ao princípio do trabalho... (2° parágrafo)


Respeitando-se a correção e a clareza, uma redação alternativa para o segmento acima está em:

Alternativas
Comentários
  • a) Posto que, praticamente todo o nosso tempo está preso ao princípio do trabalho, não dispomos mais o tempo livre. ERRADO. Quem dispôe, dispôe de alguma coisa. É um verbo que precisa de preposição. Exemplo: Disponho de muita paciência para estudar.


    b) A quê nosso tempo está preso? Ao princípio do trabalho, por isso não temos mais praticamente nenhum tempo livre. ERRADO. Esse que não é acentuado. 


    c) As pessoas não tem mais tempo livre, pois praticamente todo o tempo delas está preso: ao princípio do trabalho. ERRADO. O correto seria têm.


    d) Compreende-se nossa falta de tempo livre quando se observa que praticamente todo o nosso tempo está preso ao princípio do trabalho. CERTO.


    e) Como praticamente todo o nosso tempo, encontra-se preso ao princípio do trabalho, isso explica o motivo porque não temos mais tempo livre. ERRADO. Construção totalmente errada. Como diz o Prof. Arenildo: "podre, podre". 
     

     

    Gabarito: letra D.

  • a) “Posto que” é conjunção concessiva, que nada tem a ver com a relação original do período.

    b) O “que” não deveria ser acentuado, pois não é seguido de pontuação.

    c) Faltou o acento diferencial: “as pessoas não tÊm”. Além disso, não faz sentido inserir esse sinal de dois-pontos entre “preso” e seu complemento “ao princípio do trabalho”.

    d) O sentido foi mantido, numa reescrita sem erros.

    e) Não pode haver vírgula entre sujeito (nosso tempo) e o verbo (encontra-se). Além disso, a grafia correta seria “por que”, equivalente a “pelo qual”.

     

    Professor Felipe Luccas. Curso Estratégia

  • GAB D

     

    Fiquei em dúvida quanto à B, pensei que o "que" era substantivo. Segundo o livro do Fernando Pestana: O Vocábulo que e Suas Classificações:

     

    1) Substantivo
    Representa algo (fato, coisa etc.) de modo indeterminado, indefinido, equivalendo a “alguma coisa” ou “qualquer coisa”. É sempre modificado por um determinante (artigo, adjetivo, pronome ou numeral), tornando-se monossílabo tônico (logo, com acento circunflexo). Pode exercer qualquer função sintática substantiva.
    – “Meu bem querer / Tem um quê de pecado...” (Djavan)
    – A gramática normativa não é difícil, mas tem lá seus quês.
    – Sua tatuagem era um lindo quê, meio gótico, o qual representava sua inicial.

    Obs.: Quando se indica a décima sexta letra do alfabeto, usa-se o substantivo quê: A palavra quilo deve ser escrita com quê. Entre aspas, fazendo referência a outro igual, não recebe acento; por exemplo: Este “que” da frase destacada não é uma conjunção.

     

    6) Pronome Interrogativo
    Equivale a qual ou a qual coisa, em frases interrogativas diretas ou indiretas. Quando acompanha substantivo, exerce função de adjunto adnominal. Quando o substitui, exerce função própria de substantivo. Em fim de frase e antes de pontuação, este vocábulo, por ser tônico, sempre recebe acento circunflexo.
    – Que questão sobre a qual todos estão falando caiu na prova?
    – O que estava ocorrendo com aquela aeronave?
    – Não quiseram saber que se passava por lá.
    – Vocês estavam pensando em quê?
    – As muralhas da cidade eram feitas de quê, a ponto de cederem tão rápido ao ataque?

     

  • ERROS:

     

    A) ERRO DE REGÊNCIA = VERBO DISPOR REGE A PREPOSIÇÃO ''DE''. E NÃO ''O''

     

    B) ERRO DE ACENTUAÇÃO = O ''QUE'' NÃO DEVERIA ESTAR ACENTUADO. AINDA HÁ OUTRO ERRO, QUANDO ELE FALA QUE PRATICAMENTE NÃO TEMOS MAIS NENHUM TEMPO LIVRE. JÁ QUE NA REDAÇÃO ORIGINAL, FALA-SE EM ''NÃO TEMOS MAIS TEMPO LIVRE'' (JUÍZO ABSOLUTO)

     

    C) ERRO DE PONTUAÇÃO = O SINAL DE DOIS PONTOS ESTÁ SENDO USADO INCORRETAMENTE. NORMALMENTE SE USA P/ EXPLICAR ALGO QUE SE DISSE ANTERIORMENTE. ALÉM DE ERRO DE CONCORDÂNCIA, NA PARTE: '' AS PESSOAS TEM''. TÁ FALTANDO O ACENTO DIFERENCIAL DE PLURAL (CONCORDÂNCIA ESTABELECIDA POR PESSOAS)

     

    E) ERRO DE PONTUAÇÃO = SEPARANDO SUJEITO DE SEU VERBO. ALÉM DE ERRO NA CONJUNÇÃO COMO..

     

     

     

    GAB D

     

     

     

    *QUEM TIVER INTERESSE EM APROFUNDAR MAIS:

     

    USO DO ''QUÊ''

     

    (1)Enquanto pronome interrogativo, QUÊ é sempre acentuado quando aparece no final das frases. Quando sozinho pode se referir a uma indicação para repetir uma fala, como oi e diz.

     

    Exemplos de QUÊ como interrogação:

    Ele está procurando o quê?

    Você precisa disso para quê?

    Vocês estão falando do quê?

    Quê? Não entendi!

     

     

     

     

    (2)Enquanto substantivo, QUÊ indica alguma coisa, sendo sinônimo de algo, qualquer coisa, certa coisa e um tanto. Pode indicar também uma dificuldade ou complicação. Vem, normalmente, precedido de um artigo.

     

    Exemplos de QUÊ como substantivo:

    Sinto um quê de rebeldia nessa atitude.

    Esse problema é um quê complicado.

    Minha vida é cheia de quês.

     

     

     

     

    (3)Enquanto interjeição, QUÊ indica contrariedade e espanto, como oh e o quê. 

     

    Exemplos de QUÊ como interjeição:

    Quê! Como pode isso acontecer?

    Quê! Não é possível!

     

  • Complementando os comentários do Oliver, na letra E;

    e)

    Como praticamente todo o nosso tempo, encontra-se preso ao princípio do trabalho, isso explica o motivo porque não temos mais tempo livre.

    No uso desse "porquê", o correto seria escrevê-lo : por que, que tem mesmo sentido de "por/pelo qual".

    abx

  • a) “Posto que” é conjunção concessiva, que nada tem a ver com a relação original do período.

    b) O “que” não deveria ser acentuado, pois não é seguido de pontuação.

    c) Faltou o acento diferencial: “as pessoas não tÊm”. Além disso, não faz sentido inserir esse sinal de dois-pontos entre “preso” e seu complemento “ao princípio do trabalho”.

    d) O sentido foi mantido, numa reescrita sem erros.

    e) Não pode haver vírgula entre sujeito (nosso tempo) e o verbo (encontra-se). Além disso, a grafia correta seria “por que”, equivalente a “pelo qual”.

  • GABARITO: LETRA D.

    Letra A -  Posto que, praticamente todo o nosso tempo está preso ao princípio do trabalho, não dispomos mais o tempo livre.

    Errada: Inicialmente há erro no emprego da conjunção "Posto que". Tal conector possui valor concessivo, sendo sinônimo de "mesmo que", "ainda que", o que não fica coerente no período, até pelo emprego da forma verbal "está" no presente do indicativo. Claramente, a intenção linguística é de empregar uma conjunção causal (porque, já que, visto que, porquanto...). Também não há justificativa para a inserção da vírgula antes de "praticamente". Por fim, como o verbo "dispor" é transitivo indireto, há a necessidade de inserção da preposição "de" a ser combinada ao artigo "o", perfazendo "do". 

     

    Letra B -  A quê nosso tempo está preso? Ao princípio do trabalho, por isso não temos mais praticamente nenhum tempo livre.

    Errada: Como o vocábulo "que" não se encontra empregada no fim da oração, não se justifica a inserção do acento circunflexo.

     

    Letra C -  As pessoas não tem mais tempo livre, pois praticamente todo o tempo delas está preso: ao princípio do trabalho.

    Errada: Como o termo "As pessoas" está desempenhando a função de sujeito, a forma verbal "tem" deveria flexionar-se no plural: "têm". A inserção de dois-pontos configura falha gramatical, uma vez que separa o nome "preso" de seu complemento "ao princípio do trabalho".

     

    Letra D -  Compreende-se nossa falta de tempo livre quando se observa que praticamente todo o nosso tempo está preso ao princípio do trabalho.

    Certa: O período foi construído com total clareza e respeito às regras gramaticais.  Um detalhe interessante é a ausência da vírgula depois do vocábulo "livre". Quando a oração subordinada adverbial é redigida após a principal, a vírgula é facultativa. Logo, se houvesse a vírgula, o período continuaria correto.

     

    Letra E -  Como praticamente todo o nosso tempo, encontra-se preso ao princípio do trabalho, isso explica o motivo porque não temos mais tempo livre.

    Errada: A vírgula inserida após ""tempo" acaba por separar sujeito de verbo, configurando erro crasso. Outra falha ocorrente diz respeito à grafia de "porque". No caso, "que" é pronome relativo, podendo ser substituído por "pelo qual", devendo ser redigido separadamente da preposição "por".

     

    Fonte: Professor Rosenthal 

  • Apenas complementando: na letra A, além de a conjunção concessiva não estar correta (já que não cumpre com a relação do texto original) - ERRO 1 da alternativa, não caberia vírgula após o QUE - ERRO 2 da alternativa; como outros colegas tb já colocaram, o verbo DISPOR, NESTE CASO é regido pela preposição DE, não sendo VTD.

    MAS, EM OUTROS CASOS, o verbo dispor pode sim ser VTD. Ex.: Quando dispomos as cartas na mesa (sem preposição). 

  • Esse quê me FERROU.

  • Nesse tipo de questão, primeiro procure os erros tradicionais, concordância, regência, separação do S+V+ C...já dava pra eliminar três alternativas com isso!