SóProvas


ID
2612749
Banca
IBADE
Órgão
IPERON - RO
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.


    O rapaz e ela se olharam por entre a chuva e se reconheceram como dois nordestinos, bichos da mesma espécie que se farejam. Ele a olhara enxugando o rosto molhado com as mãos. E a moça, bastou-lhe vê-lo para torná-lo imediatamente sua goiabada-com-queijo.

    Ele... Ele se aproximou e com voz cantante de nordestino que a emocionou, perguntou-lhe:

    - E se me desculpe, senhorinha, posso convidara passear?

    - Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de ideia.

    - E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?

    -Macabéa.

    -Maca - o quê?

    - Béa, foi ela obrigada a completar.

    - Me desculpe, mas até parece doença, doença de pele.

    - Eu também acho esquisito, mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser chamada em vez de ter um nome que ninguém tem mas parece que deu certo - parou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor - pois como o senhor vê eu vinguei... pois é...

    - Também no sertão da Paraíba promessa é questão de grande dívida de honra.

    Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam diante da vitrine de uma loja de ferragem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e pregos. E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao recém-namorado:

    - Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?

    Da segunda vez em que se encontraram caía uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem ao menos se darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas escorrendo.

    Da terceira vez que se encontraram - pois não é que estava chovendo? - o rapaz, irritado e perdendo o leve verniz de finura que o padrasto a custo lhe ensinara, disse-lhe:

    -Você também só sabe é mesmo chover!

    -Desculpe.

    Mas ela já o amava tanto que não sabia mais como se livrar dele, estava em desespero de amor.

    Numa das vezes em que se encontraram ela afinal perguntou-lhe o nome.

    - Olímpico de Jesus Moreira Chaves - mentiu ele porque tinha como sobrenome apenas o de Jesus, sobrenome dos que não têm pai. Fora criado por um padrasto que lhe ensinara o modo fino de tratar pessoas para se aproveitar delas e lhe ensinara como pegar mulher.

    - Eu não entendo o seu nome - disse ela. - Olímpico?

    Macabéa fingia enorme curiosidade escondendo dele que ela nunca entendia tudo muito bem e que isso era assim mesmo. Mas ele, galinho de briga que era, arrepiou-se todo com a pergunta tola e que ele não sabia responder. Disse aborrecido:

    - Eu sei mas não quero dizer!

    - Não faz mal, não faz mal, não faz mal... a gente não precisa entender o nome.

    [...] Olímpico de Jesus trabalhava de operário numa metalúrgica e ela nem notou que ele não se chamava “operário" e sim “metalúrgico”. Macabéa ficava contente com a posição social dele porque tinha orgulho de ser datilógrafa, embora ganhasse menos que o salário mínimo. Mas ela e Olímpico eram alguém no mundo. “Metalúrgico e datilógrafa” formavam um casal de classe.

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, 30jan. p. 43-45. (Fragmento)

Sobre os elementos destacados do trecho “E a moça, bastou-lhe vê-lo para torná-lo imediatamente sua goiabada-com-queijo.” é correto afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • Alguém poderia fazer um comentário sobre essa questão? Obrigada!

  • a preposição PARA tem valor de destino. Finalidade

    os pronomes LHE e LO (nas duas ocorrências) referem-se à personagens diferentes, no caso, a moça (lhe) e o rapaz (lo).

    Mas fiquei na duvida sobre o gabarito.... 

    :(

  • Alguém entendeu essa questão?

     

  • Resp: B.

    Na letra E, o LO é objeto direto e o LHE é objeto direto preposicionado.

     

  • a) a preposição PARA tem valor de destino. (E) - A preposição para tem valor de finalidade

     b) o verbo ver, em VÊ(-lo) necessita de um objeto direto para completar o seu sentido. (C) Correto, pois o verbo ver sem seu objeto direto (lo) ficaria sem sentido, pois o verbo ver exige complemento.

     c) os pronomes LHE e LO (nas duas ocorrências) referem-se à mesma personagem. (E) LHE refere-se a ela e LO refere-se a ele.

     d) o sujeito da primeira oração é desinencial. (E) o sujeito da primeira oração não é desinencial, por conseguinte não conseguimos identificar algum sujeito expresso citado anteriormente, portanto estamos diante de um sujeito indeterminado.

     e) LO e LHE sintaticamente, possuem a mesma classificação. (E) - LO - Obejto direito e LHE - Obejto indireto.

     

    GAB:B

     

    #DEUSN0CONTROLE

    #FOCONOALVO

  • nao consegui entender a D se o sujeito nao e desinencial isso implica que ele e indeterminado como vcs conseguiram ver a indeterminaçao do sujeito??

  • ??????????? O LO é o próprio complemento verbal...

  • Uma correção quanto à letra d) : o sujeito não é indeterminado pois toda a oração "vê-lo para torná-lo imediatamente sua goiabada-com-queijo" constitui o sujeito (Oração Subordinada Substantiva Subjetiva), com valor de "isso".

    FIcaria assim: "Isso (vê-lo para torná-lo imediatamente sua goiabada-com-queijo) bastou-lhe"

  • Questão bem fácil, mas boa para exercício básico. Gabarito: B.

  • Com a porcentagem enorme de erros na questão ainda tem gente que diz que a QUESTÃO É BEM FÁCIL.

    Deve ja ter passado em uns 20 concursos. Affs

  • Carlos Rodrigues, muito obrigada pelo comentário.

  • Essa questão deixa com duplo sentido..

     Quando a banca diz na laternativa B que: 

    o verbo ver, em VÊ(-lo) necessita de um objeto direto para completar o seu sentido.

    Realmente no contexto geral sim, pois o verbo VER é transitivo direto, necessitando de complemento. Mas, se olharmos para a alternativa não necessitaria mais, pois em VÊ(-lo) o LO já é o proprio complemento,tornando a questão incorreta..

    Como achei que a preposição PARA tem valor de destino, e destino valor de finalidade, marquei a letra A.

  •  a) Errado. FINALIDADE

     b) Correto: Quem vê, vê alguma coisa. 

     c) Errado: bastou-lhe (= à moça) vê-lo (=o rapaz).

     d) Errado. O que bastou? Vê-lo. Ou seja, o sujeito é oracional.  

     e) Errado. O primeiro é um objeto direto e o segundo objeto indireto.

  • O lo é o complemento do verbo VER. Ponto final! Questão errada!

  • é por essas  e outras que Português derruba muita gente.

  • questão maldosa,a banca colocou o complemento do verbo VÊ(-lo),e  afirma que o verbo precisa de complemento.Depois q lí o comentario do Carlos Rodrigues percebi que a questão e pura interpretação, o complemento do verbo já está na questão; vê-lo.

  • Creio que a questão é passiva de recurso, pois na situação o candidato se vê na obrigação de compreender o verbo "ver" dentro do contexto sintático da oração em que ele se insere.

  • Clarice! Ahhhhh, sempre um prazer! Em meio as cacetadas das bancas, um refresco!

  • O sujeito é determinado, não havendo indeterminação.

     

  • Já que a questão é bem fácil Marcos Silva, faz uma análise detalhada das alternativas para nós?

  • b-

    verbo ver é transitivo direto po exigir objeto direto, o qual nao tem preposição

  • O para é condição.  a condição para torná-lo imediatamente sua goiaba-com-queijo é vê-lo.

     

     

     

     

    #pas

  • e a moça é classificado sintaticamente como o que ?

  • Primeiramente, os pronomes oblíquos átonos o, a, os, as sempre exercem função sintática de objeto direto. O  "lo", no caso, nada mais é do que o pronome oblíquo átono "o", que é acompanhado pelo L devido à exigência do verbo ver que é terminado em R. Além disso, o verbo "ver" é transitivo direto. Logo, seu complemento será um objeto direto.

     

    O erro das demais assertivas:

     a) tem valor de finalidade;

     c) lhe se refere à moça; lo se refere ao rapaz;

     d) o sujeito da primeira oração é oracional (vê-lo);

     e) lhe exerce função sintática de objeto indireto, enquanto lo exerce função sintática de objeto direto;

     

    Para ficar mais fácil vizualizar o sujeito oracional, vamos trocar por um pronome reto: "E a moça, bastou-lhe ver ele ...

    Agora, vamos organizar as orações: "Ver ele / bastou à moça". Agora é fácil observar que o termo ver ele (originalmente vê-lo) é o sujeito. Como trata-se de uma oração (porque tem verbo), o sujeito é oracional.

     

    Quem escolheu a busca não pode recusar a travessia - Guimarães Rosa

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    Gabarito: B

  • Sujeito oculto ou desinencial é aquele que não aparece representado por palavras (s) na oração, mas pode ser identificado pela desinência (terminação) do verbo ou pelo contexto.

    -Exemplo 1. Durante a reunião, discutimos as propostas de mudanças no programa. (discutimos associa-se a nós (que é o sujeito oculto/desinencial))

    -Exemplo 2. Os computadores são máquinas maravilhosas, por isso encantam os jovens.

    Na 1 oração: sujeito simples (“os computadores”).

    Na 2 oração: sujeito oculto / desinencial (“os computadores”, que não está escrito na 2a oração)

  • Também entendi como Germarque Neto: " o lo é o complemento do verbo ver.

  • Ver no sentido de olhar, enxergar é VTI.... Precisa de preposição
  • Acho que esta questão deve ser anulada, pois o LO é o Objeto Direto do verbo VER.