SóProvas


ID
2713219
Banca
FCC
Órgão
DPE-RS
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Tomando resolutamente a sério as narrativas dos “selvagens”, a análise estrutural nos ensina, já há alguns anos, que tais narrativas são precisamente muito sérias e que nelas se articula um sistema de interrogações que elevam o pensamento mítico ao plano do pensamento propriamente dito. Sabendo a partir de agora, graças às Mitológicas, de Claude Lévi-Strauss, que os mitos não falam para nada dizerem, eles adquirem a nossos olhos um novo prestígio; e, certamente, investi-los assim de tal gravidade não é atribuir-lhes demasiada honra.


Talvez, entretanto, o interesse muito recente que suscitam os mitos corra o risco de nos levar a tomá-los muito “a sério” desta vez e, por assim dizer, a avaliar mal sua dimensão de pensamento. Se, em suma, deixássemos na sombra seus aspectos mais acentuados, veríamos difundir-se uma espécie de mitomania esquecida de um traço todavia comum a muitos mitos, e não exclusivo de sua gravidade: o seu humor.


      Não menos sérios para os que narram (os índios, por exemplo) do que para os que os recolhem ou leem, os mitos podem, entretanto, desenvolver uma intensa impressão de cômico; eles desempenham às vezes a função explícita de divertir os ouvintes, de desencadear sua hilaridade. Se estamos preocupados em preservar integralmente a verdade dos mitos, não devemos subestimar o alcance real do riso que eles provocam e considerar que um mito pode ao mesmo tempo falar de coisas solenes e fazer rir aqueles que o escutam.


      A vida cotidiana dos “primitivos”, apesar de sua dureza, não se desenvolve sempre sob o signo do esforço ou da inquietude; também eles sabem propiciar-se verdadeiros momentos de distensão, e seu senso agudo do ridículo os faz várias vezes caçoar de seus próprios temores. Ora, não raro essas culturas confiam a seus mitos a tarefa de distrair os homens, desdramatizando, de certa forma, sua existência.


      Essas narrativas, ora burlescas, ora libertinas, mas nem por isso desprovidas de alguma poesia, são bem conhecidas de todos os membros da tribo, jovens e velhos; mas, quando eles têm vontade de rir realmente, pedem a algum velho versado no saber tradicional para contá-las mais uma vez. O efeito nunca se desmente: os sorrisos do início passam a cacarejos mal reprimidos, o riso explode em francas gargalhadas que acabam transformando-se em uivos de alegria.


(Adaptado de: CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. São Paulo, Ubu, 2017) 

As frases abaixo dizem respeito à pontuação do texto.


I. No segmento ... não exclusivo de sua gravidade: o seu humor... (2°parágrafo), os dois-pontos podem ser substituídos por travessão, uma vez que se segue um aposto relativo ao termo “traço”, presente na mesma frase.

II. No segmento ... para os que narram (os índios, por exemplo)... (3°parágrafo), os parênteses podem ser suprimidos, mantendo-se a correção, desde que se acrescente uma vírgula imediatamente após “exemplo”.

III. No segmento ... do esforço ou da inquietude; também eles sabem... (4° parágrafo), o ponto e vírgula pode ser substituído por dois-pontos, sem prejuízo da correção, uma vez que a ele se segue uma explicação.


Está correto o que consta APENAS de:

Alternativas
Comentários
  • Errei a questão porque não enxerguei o sentido de explicação no item III.

    Quanto ao item II, acredito que a correção seria mantida ainda que não fosse acrescentada a vírgula a que se refere.

  • GABARITO: B

     

    I. CORRETA No segmento ... não exclusivo de sua gravidade: o seu humor... (2°parágrafo), os dois-pontos podem ser substituídos por travessão, uma vez que se segue um aposto relativo ao termo “traço”, presente na mesma frase. No texto:  "veríamos difundir-se uma espécie de mitomania esquecida de um traço todavia comum a muitos mitos, e não exclusivo de sua gravidade: o seu humor."

     

    II. ERRADA No segmento ... para os que narram (os índios, por exemplo)... (3°parágrafo), os parênteses podem ser suprimidos, mantendo-se a correção, desde que se acrescente uma vírgula imediatamente após “exemplo”.  Para considerar correta a supressão dos parênteses, não bastaria a vírgula após "exemplo", mas também seria necessário o acréscimo de vírgula antes de "os índios", dessa forma: para os que narram, os índios, por exemplo, ....

     

    III. CORRETA No segmento ... do esforço ou da inquietude; também eles sabem... (4° parágrafo), o ponto e vírgula pode ser substituído por dois-pontos, sem prejuízo da correção, uma vez que a ele se segue uma explicação. Precisa voltar no texto para identificar que há uma explicação em sequência. No texto: "A vida cotidiana dos “primitivos”, apesar de sua dureza, não se desenvolve sempre sob o signo do esforço ou da inquietude; também eles sabem propiciar-se verdadeiros momentos de distensão". Veja que o ";" introduz a explicação da razão pela qual a vida cotidiana não é sempre desenvolvida sob esforço, esclarecendo que também há, nela, momentos de distensão. Como introdução de uma explicação, pode ser substituída por ":" sem problemas.

  • Tipos de aposto

     

    Segundo a intenção do discurso o aposto pode ser classificado em:

     

    1. Explicativo

     

    Oferece uma explicação sobre o termo anterior:

     

    A geografia, estudo da terra, é uma disciplina fundamental do currículo escolar.
    Júlia, dos Recursos Humanos, pediu para você preencher essas fichas.

     

    2. Distributivo

     

    Retoma as explicações sobre os termos, contudo, de maneira separada na oração:

     

    Vitória e Luís foram os vencedores, aquela na corrida e este no atletismo.
    Adoro João e Maria, um exemplo de calma e a outra, de agitação.

     

    3. Enumerativo

     

    Enumera as explicações sobre o termo, sendo separado por vírgulas:

     

    Na bolsa levava o que precisava: roupasbiquínis toalhas.
    O programa de hoje é: praia, pizza e cinema.

     

    4. Comparativo

     

    Compara o termo da oração:

     

    A garota, que parecia desacordada, foi levada para o hospital.
    Do doce, manjar dos deuses, não tinha sobrado nada.

     

    5. Resumidor ou recapitulativo

     

    Resume os termos anteriores do enunciado:

     

    Saúde, educação e acesso à cultura, tudo isso são prioridades para a melhoria de um país.
    Paz e sossego, esses são os meus desejos para as férias.

     

    6. Especificativo

     

    Especifica um termo da oração:

     

    A aluna Joana continua se nos surpreender.
    A avenida Paulista é lindíssima.

     

    7. Aposto de oração

     

    Consiste numa oração que depende da outra em termos sintáticos:

     

    Os bolos ficaram lindos e saborosos, fruto da sua técnica e dedicação.
    As coisas correram mal, desfecho inevitável.

     

    Fonte: https://www.todamateria.com.br/aposto/

     

     

     

    “Continue andando. Haverá a chance de você ser barrado por um obstáculo, talvez por algo que você nem espere. Mas siga, até porque eu nunca ouvi falar de ninguém que foi barrado enquanto estava parado.”

  • Aposto

    Com vírgulas, explicativo

    Sem vírgulas, restritivo

    Abraços

  • Eric, para que os não assinantes possam ver qual a resposta certa caso errem.

  • Resposta: LETRA B

     

    I (CORRETA) Que "traço" é esse que é comum a muitos mitos? O humor. [sempre faço essa perguntinha para garantir, ajuda muito] Ficaria assim: "(...) veríamos difundir-se uma espécie de mitomania esquecida de um traço todavia comum a muitos mitos, e não exclusivo de sua gravidade - o seu humor".

     

    II (ERRADA) Para tirar os parêntes e manter a correção, teria que ser adicionada uma vírgula antes de "os índios" e outra após "exemplo". Assim, ficaria: "Não menos sérios para os que narram, os índios, por exemplo, do que para os que os recolhem ou leem (...)".

     

    III (CORRETA) Sr. Pink, pensei da mesma forma! Entendi que o sentido era de adição ("não só....mas também..."). Agora aprendi que o "também" pode ter o sentido de explicação (pois, porquanto, porque...), PORQUE o autor faz o que quer no texto, né? kkk Temos que interpretar mesmo. 

     

    Persista...

  • Bom, achei a questão excelente. Muito bem elaborada. 

    -

    "A vida cotidiana dos “primitivos”, apesar de sua dureza, não se desenvolve sempre sob o signo do esforço ou da inquietude; também eles sabem propiciar-se verdadeiros momentos de distensão, e seu senso agudo do ridículo os faz várias vezes caçoar de seus próprios temores."

    -

    Por que eles não se desenvolvem sempre sob o signo do esforço ou da inquietude? Porque também sabem propiciar-se verdadeiros momento de distenção, e seu senso agudo do ridículo os faz várias vezes caçoar de seus própios temores.

    Gabarito: I e III. 

  • Pessoal, a alternativa II pede manutenção da CORREÇÃO do segmento, não do sentido. Ao retirar-se os parênteses com colocação de vírgula após "exemplos" há total alteração do sentido da frase, pois passaria a significar que estão narrando os índios. Contudo, não há que se falar em incorreção. Acredito que caberia recurso da questão:

    "Não menos sérios para os que narram os índios, por exemplo, do que para os..."

    Alguém concorda?

  • Letra B é a correta, questão sinistra.

  • Tive a mesma dúvida que você, Hugo Costantin.

  • Item II bem discutível como alguns colegas comentaram: não fala em sentido e, sim, correção gramatical. 

     

  • I. No segmento ... não exclusivo de sua gravidade: o seu humor... (2°parágrafo), os dois-pontos podem ser substituídos por travessão, uma vez que se segue um aposto relativo ao termo “traço”, presente na mesma frase.

    CORRETA. Nesta questão haviam duas coisas a saber. A primeira é de que "o seu humor" é aposto explicativo. A outra é que sendo aposto, o trecho pode ser destacado por dois-pontos, vírgulas ou TRAVESSÃO.

    II. No segmento ... para os que narram (os índios, por exemplo)... (3°parágrafo), os parênteses podem ser suprimidos, mantendo-se a correção, desde que se acrescente uma vírgula imediatamente após “exemplo”

    ERRADA. Ainda que consideremos sentidos diferentes, nenhum atende a propositura. Se o sentido é de que os índios são os narrados, então a vírgula não deve ser acrescida, uma vez que jamais se separa verbo de seu objeto direto. Se o trecho "os índios, por exemplo" é aposto que se refere aos "que narram", então não deve ser acrescida apenas uma vírgula imediatamente após o exemplo, como também imediatamente após o verbo "narram".

    III. No segmento ... do esforço ou da inquietude; também eles sabem... (4° parágrafo), o ponto e vírgula pode ser substituído por dois-pontos, sem prejuízo da correção, uma vez que a ele se segue uma explicação.

    Correta. Basta conhecer as regras de utilização do "dois-pontos"

    Bons estudos!

     

  • Pensei exatamente igual ao Hugo Costantin, por isso errei a questão --'

  • Obrigado Deus por me capacitar

  • Arenildo, cadê você? Pessoal, solicitem explicação do professor.

  • Também errei por acreditar que o item II não teria incorreção (que só mudaria o sentido caso se suprimissem os parênteses). Entretanto, segundo a Professora Flávia Rita, em live de correções de provas realizada em 20-07-2019 no youtube, há mudança total de sentido e gera incoerência na frase (aí entra o erro = a incoerência).

    II. No segmento ... para os que narram (os índios, por exemplo)...

    a expressão "os índios" retoma o pronome demonstrativo "os"

    ... para os que narram os índios, por exemplo,... (Ao retirar os parenteses "os índios" vira objeto direito do verbo narrar = mudança de sentido, porém ao continuar lendo a frase a gente percebe a incoerência gerada pela supressão dos parênteses.

    É como se "as pessoas" fossem narrar a história dos índios e não os índios narrarem a história. A incoerência é gerada, porque muda o referente, ao continuar lendo a frase a gente percebe a incoerência.

    = Perceba na frase: "Não menos sérios para os que narram (os índios, por exemplo) do que para os que os recolhem ou leem,..."). = Agora leia a frase transformando os pronomes demonstrativo "OS" em outra palavra

    "Não menos sérios para as pessoas que narram os índios, por exemplo, do que para as pessoas que os recolhem ou leem (Como??? recolher e ler os índios??? = viu só? aí é que entra a incoerência e isso é erro normativo!)

    Espero ter ajudado, pois para mim foi muito difícil chegar a esse raciocínio, mesmo após a explicação da profª...

    "Seja Gentil e corajosa!" @futuraauditorarfb

  • A alternativa I está correta, pois o termo “seu humor” desempenha papel de aposto especificador. Cabe, portanto, o emprego dos dois pontos ou do travessão para introduzi-lo.

    A alterativa II está errada. Havendo a exclusão dos parênteses e a inclusão de uma vírgula depois de “por exemplo”, teríamos uma modificação do sentido e da estrutura gramatical do trecho. O segmento entre parênteses mostra originalmente um exemplo de pessoas “que narram”. Caso sejam feitas as alterações, os índios passariam a ser narrados, tornando-se objeto direto do verbo “narram”.

    A alternativa III está correta, pois vemos no segmento depois do ponto e vírgula uma explicação para aquilo que foi dito anteriormente (oração coordenada explicativa). Sendo assim, poderia haver a substituição dessa pontuação por dois-pontos. 

    Resposta: B

  • Correção é uma coisa, sentido é outra! Nem a banca sabe o que ela quer rsrsrs

    Vejo '' incoerência'' muito mais relacionado ao sentido do que correção gramatical!