SóProvas


ID
2895595
Banca
IBADE
Órgão
Câmara de Cacoal - RO
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Uma andorinha não faz verão

        No domingo de sol anterior ao Dia de Finados, evitei a praia lotada e subi para um refresco nas Paineiras. Morei dez anos em São Conrado e, na época, costumava fazer o trajeto com frequência, mas desisti do programa, depois de dar com dois corpos desovados pelo caminho. Agora só arrisco a visita nos feriados, quando o parque se enche de gente.

        A beleza do Rio é comparável à sua barbárie.

        No último mirante, depois da terceira queda d'água, o vento soprava forte, anunciando a virada de tempo na Guanabara. Dezenas de andorinhas aproveitavam a corrente de ar ascendente, impulsionando o voo num vertiginoso balé. Eu, conformada com as pernas, invejei a farra dos que nascem com asas. O espetáculo pontuou o fim do passeio.

        Uma semana depois, esperando o sinal abrir no cruzamento da Lagoa, ao lado do Clube do Flamengo, fui surpreendida por uma andorinha solitária, que cruzou o para-brisa do carro a toda. Depois de driblar o trânsito, arriscando a vida num rasante pela via expressa, ela se meteu no vão entre o verde e o vermelho do sinal de pedestres do outro lado da rua.

        Surpresa, percebi um resto de capim seco saindo da fresta do poste. Era um ninho em plena Avenida Epitácio Pessoa. Com tanta mata, tantas árvores e prédios altos na cidade, por que criar filhos num lugar tão desolado? Neurose urbana? Só pode ser.

        Chocar ovos requer um planejamento requintado. É preciso encontrar um parceiro disposto, um endereço seguro e esmerar-se para juntar a palha. Não é algo que pega uma ave de surpresa, como uma contração fora de hora que te obriga a parir na estrada. 

        Que anomalia era aquela que fazia um casal de andorinhas trocar o êxtase das Paineiras pela tensão do asfalto? A solidão de uma esquina feia? 

        O delírio da passarinhada do alto da Tijuca não tinha nada de humano. Era um estado natural, como o das plantas e o das pedras, sem consciência ou sentido em si. Mas o ser do sinal de pedestres da esquina na Rodrigo de Freitas era um indivíduo escarrado, um quase parente. Ao vê-lo, eu me reconheci na sofreguidão de seu retorno para casa, no esforço de criar os filhos num ambiente inóspito, no risco e na ansiedade.

        A andorinha aculturada sou eu.

        Neste mês, o Brasil assassinou um rio e o El aterrorizou Paris. O mundo não anda nada hospitaleiro. Mesmo assim, ainda creio nos ninhos e nas revoadas.

Fernanda Torres. In: fernandatorresvejario1@gmail.com

No trecho: “Eu, conformada com as pernas, invejei a farra dos que nascem com asas.”, as vírgulas foram corretamente empregadas para:

Alternativas
Comentários
  • "Eu, conformada com as pernas, invejei a farra dos que nascem com asas." (trata-se de uma oração subordinativa adjetiva reduzida, em destaque)

    Agora a mesma oração, porém desenvolvida.

    "Eu, que sou conformada com as pernas, invejei a farra dos que nascem com asas." (QUE= PRONOME RELATIVO, por isso é uma oração subordinativa adjetiva)

  • Sobre a letra A:

    Galera, para ser considerado um aposto precisa haver equivalência semântica, ou seja, A=B. Quando pensamos que 'eu = conformada com as pernas', percebemos que, do ponto de vista lógico, isso não faz sentido. Teria lógica se, por exemplo, fosse: 'eu, um ser humano que possui as duas pernas, ...', pois poderíamos, semanticamente, fazer o seguinte raciocínio 'eu = um ser humano que possui as duas pernas'.

    Sobre a letra B:

    No início, pensei que fosse uma oração subordinada adverbial de modo, mas é só "jogar" a suposta oração para o final do período considerado no enunciado e percebemos que a ausência da vírgula prejudicaria a clareza da frase, sendo assim, a vírgula seria obrigatória mesmo se considerássemos a seguinte construção:

    Eu invejei a farra dos que nascem com asas (,) conformada com as pernas.

    Sobre a letra C:

    É o gabarito. Podemos, então, entender que se trata de uma oração subordinada adjetiva explicativa reduzida de particípio.

    Sobre a letra D:

    Existem dois tipos de predicativo: nominal e verbo-nominal. No primeiro caso, deveria haver um verbo de ligação, o que não ocorre, portanto, descartamos essa possibilidade. Já na segunda situação, caso 'conformada com as pernas' fosse a parte nominal do predicativo, ainda assim estaria faltando um verbo explícito para ele, correto? E cadê esse verbo? Não há. Então, não configura essa possibilidade também. (Observação adicional: em nenhuma hipótese há pontuações entre o sujeito e seu predicado, exceto em intercalações).

    Sobre a letra E:

    A sugestão dessa alternativa é o caso do que observamos, por exemplo, nas enumerações quando há mais de dois núcleos do sujeito, objetos diretos, ou objetos indiretos, por exemplo, e isso não ocorre.

  • Conformada = Particípio de Conformar.

    Se tem verbo é oração.

  • COMENTÁRIO DE PROFESSORESSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS

  • 40% foi na letra A 30% na C.

  • a ) APOSTO X = Y

    X = conformada com as pernas

    Y = Eu invejei a farra dos que nascem com asas ( são completamente diferentes )

    c) GABARITO !

    oração subordinada adjetiva explicativa, com pontuação! ( foi a que restou para marca )