SóProvas


ID
2944765
Banca
UFRRJ
Órgão
UFRRJ
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer “escrever claro” não é certo, mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua, mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.

            Claro que eu não disse tudo isso para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas – isso eu disse – vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenha também o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão . Não merecem o mínimo respeito.

VERISSIMO, L. F. O gigolô das palavras. In: VERISSIMO, L. F . Para gostar de ler; Luis Fernando Verissimo: o nariz e outras crônicas. 10a . ed. v. 14. São Paulo: Ática, 2002. p. 77 e 78. (Com adaptações)

Segundo o autor, “dizer “escrever claro” não é certo, mas é claro, certo?” Identifique a regra gramatical que explica o erro em “escrever claro”.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    escrever claro (cria uma ambiguidade) --- Adjetivo não modifica verbo (CORRETO)

    O adjetivo é uma classe gramatical que modifica os substantivos, indicando-lhes o modo de ser, uma qualidade, o aspecto e o estado.

    Força, guerreiros(as)!!

  • ADJETIVO: classe de palavras que modifica o SUBSTANTIVO, restringindo-lhe a extensão do seu significado.

  • O erro em “escrever claro” é que o adjetivo "claro" não pode modificar o verbo "escrever", pois adjetivos modificam apenas substantivos ou termos equivalentes. Para modificar o verbo "escrever", o termo deveria ser um advérbio.

     

    Quem escolheu a busca não pode recusar a travessia - Guimarães Rosa

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    Gabarito: A

  • GAB: A

    Questão linda ! Uma boa revisão dos conceitos de morfologia.

    Adverbio modifica um VERBO, um ADJETIVO ( locução adjetiva ) e outro ADVÉRBIO ( locução adverbial )

  • escrever claramente seria o correto! adjetivo não modifica verbo, advérbio sim!

     

  • VALEU, eu errei pois nao vi os 2 cm