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ID
3066997
Banca
FCC
Órgão
Prefeitura de Manaus - AM
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Considere o texto abaixo para responder a questão.

         O brasileiro gosta de pensar que o Brasil é uma nação acolhedora, que recebe imigrantes de braços abertos. Em termos de dados históricos e estatísticos, não é bem assim. Apesar da imigração maciça promovida por sucessivos governos durante o Império e o primeiro período republicano, sempre houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável, passando pela rejeição explícita a determinados grupos. Na década de 1860, a questão da imigração de chineses atingiu proporções de grande controvérsia e chegou a ser debatida no parlamento. O consenso era de que devia ser impedida para evitar o suposto risco de degeneração racial. Pelo mesmo motivo, a pseudociência da época desaconselhava a entrada de mais africanos, para além dos milhões que já haviam ingressado escravizados no país. Em 1890, já sob a República, a entrada de asiáticos foi efetivamente barrada por decreto. [...]
        O imigrante ideal, para as autoridades brasileiras daquele tempo, era branco e católico. De preferência, com experiência em agricultura e disposto a se fixar nas zonas rurais. Braços para a lavoura, era o que se dizia, e uma injeção de material genético selecionado com o intuito de “melhorar a raça”. [...]. A preferência por imigrantes católicos seguia a premissa de que seriam de assimilação fácil e não ameaçariam a composição cultural da jovem nação. Aqueles no poder queriam que o brasileiro continuasse do jeitinho que era, só que mais branco. Seguindo as premissas eugênicas então em voga, acreditava-se que o sangue europeu, tido como mais forte, venceria o sangue africano e ameríndio, eliminando-os paulatinamente. Essa política de branqueamento já foi documentada, ad nauseam, por nossa historiografia. Ela é o pano de fundo ideológico para o crescimento da cidade de São Paulo, onde a porcentagem de italianos ficou acima de 30% entre as décadas de 1890 e 1910, período em que a população aumentou quase dez vezes.
         Os doutores daquela época não conseguiram o que almejavam, por três motivos. O primeiro, concreto, é que as doutrinas científicas em que acreditavam eram falsas. Não existe raça pura, em termos biológicos, muito menos a superioridade de uma sobre outra. O segundo, circunstancial, é que a fonte de imigrantes na Europa foi secando antes que a demanda por trabalhadores no Brasil se esgotasse. Quando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos em junho de 1908, com 165 famílias japonesas a bordo, era o reconhecimento implícito de que os interesses econômicos iriam prevalecer sobre a ideologia eugenista. A imigração em massa de japoneses para o Brasil, ao longo do século 20, não somente descarrilou o projeto de branqueamento como também quebrou o paradigma de que não católicos eram inassimiláveis. Os japoneses ficaram e se fixaram. Seus descendentes tornaram-se brasileiros, a despeito de muito preconceito e até perseguição. Conseguiram essa proeza, de início, porque se mantiveram isolados no interior do país. Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós.
         O terceiro motivo do fracasso do modelo de assimilabilidade católica é conceitual. Seus defensores partiam de um pressuposto falso: o de que a população brasileira era homogênea em termos de religião. [...] o mito do bom imigrante católico ignorava estrategicamente a presença de judeus, muçulmanos e protestantes no Brasil. Os três grupos estiveram presentes desde a época colonial e, cada um a seu modo, contribuíram para a formação do país.
(CARDOSO, Rafael. O Brasil é dos brasileiros. Revista Serrote, nº 27, pp. 45 e 47, 2018) 

Afirma-se com correção:

Alternativas
Comentários
  • a) (parágrafo 1) A frase Pelo mesmo motivo, a pseudociência da época desaconselhava a entrada de mais africanos, para além dos milhões que já haviam ingressado escravizados no país exemplifica enunciado em que as formas verbais denotam que as ações ocorrem em simultaneidade.

    Incorreto. A locução “haviam ingressado” está no pretérito mais-que-perfeito e indica uma ação passada anterior a outra também passada, não há simultaneidade.

    b) (parágrafo 2) À oração inicial do período Seguindo as premissas eugênicas então em voga, acreditava-se que o sangue europeu, tido como mais forte, venceria o sangue africano e ameríndio, eliminando-os paulatinamente, deve ser atribuído o sentido temporal, sem outra possibilidade de valor.

    Incorreto. É possível, por exemplo, atribuir valor de causa: Porque seguiam-se…

    c) (parágrafo 2) Em Seguindo as premissas eugênicas então em voga, acreditava-se que o sangue europeu, tido como mais forte, venceria o sangue africano e ameríndio, eliminando-os paulatinamente, a forma grifada é semanticamente equivalente a “para eliminar”.

    Incorreto. A forma “para eliminar” indica finalidade, o sentido original é de consequência.

    d) (parágrafo 2) A transposição da frase Essa política de branqueamento já foi documentada, ad nauseam, por nossa historiografia para a voz ativa gerará a forma “tinha documentado”.

    Incorreto. Geraria a forma “documentaram”; como o agente da passiva não aparece, na voz ativa não saberemos quem é o sujeito, então ficará em forma de sujeito indeterminado: “documentaram”. 

    e) (parágrafo 3) Nas orações Conseguiram essa proeza, de início, porque se mantiveram isolados no interior do país. Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós, o pronome destacado tem valor reflexivo e ao segmento sublinhado é possível atribuir-se o valor causal.

    Correto. “Mantiveram-se”= mantiveram a si mesmos…

    Em “Longe da vista”, pode-se subentender valor causal: Porque ficaram longe, porque se esconderam…

    Fonte: Estratégia Concursos - Felipe lucas

  • GABARITO: LETRA E

    → acrescentando ao comentário do colega, já que essa questão é uma das mais difíceis que já vi da FCC:

    → (parágrafo 3) Nas orações Conseguiram essa proeza, de início, porque se mantiveram isolados no interior do país. Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós, o pronome destacado tem valor reflexivo e ao segmento sublinhado é possível atribuir-se o valor causal. → mantiveram a si mesmos (temos o "se" sendo um pronome reflexivo; longe da vista (já que estava longe da vista, visto que estava longe da vista → o melhor jeito é tentar fazer essas substituições).

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • BIZARRO esse LONGE DA VISTA ser causal, pois está deslocado em outra sentença. Vejamos:

    A FCC interpretou o "Longe da vista" no outro período como continuidade da oração anterior e equivalente à expressão "se mantiveram isolados".

    Os japoneses conseguiram ficar (consequência) no Brasil porque se maniveram isolados, ou seja, longe da vista (causa).

    Entenderam? Ademais, a FCC sempre nos presenteia com temáticas louváveis e necessárias. Um salve à diversidade. Abraço e bons estudos, povo.

  • Dicas para questões longas em que devemos fazer assim no "rengue-rengue": Geralmente a resposta está na E, pq eles querem vc gaste mais tempo e chegue nela cansado e cheio pé atrás com as outras alternativas.

  • pra mim tem valor comparativo eles se mantiveram isolados como fizeram os avós...
  • Concurseiro Metaleiro,

    voce está parecendo aqueles "sensitarios", nao invente moda nao.

    :D

  • OLHA O TAMANHO DO TEXTO!

    AS ALTERNATIVAS SÃO MAIORES AINDA, PERDE NO MÍNIMO UNS 3 MINUTOS PARA LER O TEXTO E UNS 10 PARA RESPONDER A QUESTÃO

    NESSA SITUAÇÃO DEIXA POR ÚLTIMO E SE NÃO DER TEMPO VAI NA "MINHA MÃE MANDOU"

  • A alternativa E, realmente tem sentido causal, mas sentido reflexivo nuuuuuuunnnnnnnnnnnnnnca.

  • A questão requer conhecimentos gramaticais, tais como: tempos verbais, vozes verbais e valor semântico das conjunções e preposições.

    ALTERNATIVA (A) INCORRETA – As ações não ocorrem em simultaneidade porque a ação para além dos milhões que já haviam ingressado escravizados no país ocorreu antes da ação a pseudociência da época desaconselhava a entrada de mais africanos.

    ALTERNATIVA (B) INCORRETA – A oração inicial do período Seguindo as premissas eugênicas então em voga, apresenta apenas o valor de conformidade, a ação presente na outra oração acontece porque está de acordo com as ideias da primeira. Poder-se-ia, inclusive, substituir o verbo “seguindo" pela conjunção conformativa “segundo" ou “conforme".

    ALTERNATIVA (C) INCORRETA – A forma grifada (verbo na sua forma nominal gerúndio) seguida do advérbio de modo “paulatinamente" indica o modo como a ação vai ocorrer, já a expressão “para eliminar" (com verbo no infinitivo) acompanhado da preposição “para" indica uma finalidade.

    ALTERNATIVA (D) INCORRETA – Para a voz ativa gerar a forma “tinha documentado", a voz passiva analítica precisaria ter a seguinte locução verbal: “Essa política de branqueamento já tinha sido documentada, ad nauseam, por nossa historiografia".

    ALTERNATIVA (E) CORRETA – A palavra destacada “se" é classificada como pronome reflexivo e refere-se aos descendentes dos japoneses (3º parágrafo), é reflexivo porque a ação reflete no próprio sujeito (= mantiveram a si mesmos). A expressão sublinhada “longe da vista" exprime um dos motivos de os descendentes dos japoneses não terem sofrido preconceito e perseguição. Para corroborar tal afirmação, poder-se-ia pôr uma conjunção causal ou uma preposição de causa antes da expressão sublinhada. Por exemplo: “Eles não sofreram preconceito e perseguição porque estavam / devido estarem / por estarem longe da vista".

     

    GABARITO DA PROFESSORA: ALTERNATIVA (E)

  • A questão fala ....segmento sublinhado é possível atribuir-se o valor causal.

    Longe da vista ....??? está em outra frase.

    não entendi..

  • Deus me proteja das questões fáceis da FCC e das ruins também

  • Dre parker , “ longe de vista “ bizarro ser causal