SóProvas


ID
3366709
Banca
IBADE
Órgão
IABAS
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão .

Casa de pensão

João Coqueiro, quando saiu do Hote! dos Príncipes na manhã do almoço, ia preocupado [...] e correu logo para casa. 
    Ao chegar foi direto à mulher [...] 
    - Sabes? disse ele, sem transição , assentando-se ao rebordo da cama. - É preciso arranjarmos cômodo para um rapaz que há de vir por ai domingo.[...] 
    - É um achado precioso! Ainda não há dois meses que chegou do Norte, anda às apalpadelas! Estivemos a conversar por muito tempo: - é filho único e tem a herdar uma fortuna! [...] 
    Mme. Brizard escutava, sem despregar os olhos de um ponto, os pés cruzados e com uma das mãos apoiando-se no espaldar da cama. 
    - Ora, continuou o outro gravemente. - Nós temos de pensar no futuro de Amelinha... ela entrou já nos vinte e três!... se não abrirmos os olhos... adeus casamento! 
    - Mas daí... perguntou a mulher, fugindo a participar da confiança que o marido revelava naquele plano. 
    - Daí - é que tenho cá um palpite! explicou ele. 
    - Não conheces o Amâncio!... A gente leva-o para onde quiser!... Um simplório, mas o que se pode chamar um simplório. 
    Mme. Brizard fez um gesto de dúvida. 
    - Afianço-te, volveu Coqueiro - que, se o metermos em casa e se conduzirmos o negócio com um certo jeito, não lhe dou três meses de solteiro! [...] 
    - Negócio decidido! A questão é arranjar-lhe o cômodo, e já! Tu - fala com franqueza à     Amelinha; a mim não fica bem... [...] 
    Nessa mesma tarde Mme. Brizard entendeuse com a cunhada. Falou-ihe sutilmente no “futuro", disse-lhe que “uma menina pobre, fosse quanto fosse bonita, só com muita habilidade e alguma esperteza poderia apanhar um marido rico”. [...] 
    Amélia riu, concentrou-se um instante e prometeu fazer o que estivesse no seu alcance, para agradar ao tal sujeitinho. 
    Ardia, com efeito, por achar marido, por se tornar dona de casa. A posição subordinada de menina solteira não se compadecia com a sua idade e com as desenvolturas do seu espírito. Graças ao meio em que se desenvolveu, sabia perfeitamente o que era pão e o que era queijo; por conseguinte as precauções e as reservas, que o irmão tomava para com ela, faziam-na sorrir. 
    Às vezes tinha vontade de acabar com isso. “Que diabo significavam tais cautelas?... Se a supunham uma toleirona, enganavam-se - ela era muito capaz de os enfiar a todos pelo ouvido de uma agulha!”    
    - Agora, por exemplo, neste caso do tal Amâncio, que custava ao Coqueiro explicar-se com ela francamente?. ..[...] Mas, não senhor! - meteu-se nas encolhas e entregou tudo nas mãos da mulher! [...]
    E Amélia, quanto mais refletia no caso, tanto mais se revoltava contra a reserva do irmão.
    - Ele já a devia conhecer melhor! pelo menos já devia saber que aquela que ali estava era incapaz de cair em qualquer asneira; aquela não “dava ponto sem nó”. Outra, que fosse, quanto mais - ela, que conhecia os homens, como quem conhece a palma das próprias mãos! - Ela, que vira de perto, com os seus olhos de virgem, toda a sorte de tipos! - ela, que lhes conhecia as manhas, que sabia das lábias empregadas pelos velhacos para obter o que desejam e o modo pelo qual se portam [...]! - Ela! tinha graça! 

AZEVEDO, Aluisio. Casa de pensão. São Paulo: Ática, 1992, p.71-73. (Fragmento).

Vocabulário; 
Meteu-se nas encolhas: calou-se.

Considere as seguintes afirmações sobre aspectos da construção do texto:

I. Na frase " - Ora, continuou o OUTRO gravemente.", o termo destacado é um substantivo.
II. Atentando para o uso do sinal indicativo de crase, o A, em todas as ocorrências do trecho “Estivemos a conversar por muito tempo: - é filho único e tem a herdar uma fortuna!", deveria ser acentuado.
III. Na frase “Às vezes tinha vontade de acabar com ISSO.", refere-se a “Que diabo significavam tais cautelas?"

Está correto o que se afirma apenas em:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA E

    I. Na frase “– Ora, continuou o OUTRO gravemente.”, o termo destacado é um substantivo → A palavra "OUTRO" na oração está precedida de um determinante (o artigo definido "o"), o que pelo processo de derivação imprópria modifica a classe gramatical do termo em destaque, passa a ser um substantivo.

    II. Atentando para o uso do sinal indicativo de crase, o A, em todas as ocorrências do trecho “Estivemos a conversar por muito tempo: - é filho único e tem a herdar uma fortuna!”, deveria ser acentuado → incorreto, somente a preposição presente, não temos crase antes de verbo.

    III. Na frase “Às vezes tinha vontade de acabar com ISSO.”, refere-se a “Que diabo significavam tais cautelas?” → incorreto, o pronome demonstrativo "isso" tem caráter anafórico e retoma toda a situação vivida, acabar com aquela situação.

    ✓ FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Sobre a assertiva III:

    "Isso" é um pronome demonstrativo ANAFÓRICO e, portanto, retoma uma expressão já citada no texto, a qual não poderia vir depois (exceto incorreção gramatical). Quando se fala "isso", há que se retornar no texto para encontrar seu referencial.

    Há os pronomes CATAFÓRICOS, que inserem o termo a que se referem posteriormente, como: isto. E os termos DÊITICOS, que precisam ser encontrados ou recuperados no contexto, pois estão fora do discurso.

    Todos fazem parte da coesão referêncial, sendo os dois primeiros do conjunto EXOFÓRICO e o último ENDOFÓRICO. Só agregando... bons estudos!

    Gabarito: D.