SóProvas


ID
3388558
Banca
FCC
Órgão
METRÔ-SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

     Para ele, o fim do ano era sempre uma época dura, difícil de suportar. Sofria daquele tipo de tristeza mórbida que acomete algumas pessoas nos festejos de Natal e de Ano-Novo. No seu caso havia uma razão óbvia para isso: aos setenta anos, solteirão, sem parentes, sem amigos, não tinha com quem celebrar, ninguém o convidava para festa alguma. O jeito era tomar um porre, e era o que fazia, mas o resultado era melancólico: além da solidão, tinha de suportar a ressaca.
       No passado, convivera muito tempo com a mãe. Filho único, sentia-se obrigado a cuidar da velhinha que cedo enviuvara. Não se tratava de tarefa fácil: como ele, a mãe era uma mulher amargurada. Contra a sua vontade, tinha casado, em 31 de dezembro de 1914 (o ano em que começou a Grande Guerra, como ela fazia questão de lembrar) com um homem de quem não gostava, mas que pais e familiares achavam um bom partido. Resultado desse matrimônio: um filho e longos anos de sofrimento e frustração. O filho tinha de ouvir suas constantes e ressentidas queixas. Coisa que suportava estoicamente; não deixou, contudo, de sentir certo alívio quando de seu falecimento, em 1984. Este alívio resultou em culpa, uma culpa que retornava a cada Natal. Porque a mãe falecera exatamente na noite de Natal. Na véspera, no hospital, ela lhe fizera uma confissão surpreendente: muito jovem, apaixonara-se por um primo, que acabou se transformando no grande amor de sua vida. Mas a família do primo mudara-se, e ela nunca mais tivera notícias dele. Nunca recebera uma carta, uma mensagem, nada. Nem ao menos um cartão de Natal.
       No dia 24 pela manhã ele encontrou um envelope na carta do correio. Como em geral não recebia correspondência alguma, foi com alguma estranheza que abriu o envelope.
         Era um cartão de Natal, e tinha a falecida mãe como destinatária. Um velhíssimo cartão, uma coisa muito antiga, amarelada pelo tempo. De um lado, um desenho do Papai Noel sorrindo para uma menina. Do outro lado, a data: 23 de dezembro de 1914. E uma única frase: “Eu te amo.”
        A assinatura era ilegível, mas ele sabia quem era o remetente: o primo, claro. O primo por quem a mãe se apaixonara, e que, por meio daquele cartão, quisera associar o Natal a uma mensagem de amor. Uma nova vida, era o que estava prometendo. Esta mensagem e esta promessa jamais tinham chegado a seu destino. Mas de algum modo
 o recado chegara a ele. Por quê? Que secreto desígnio haveria atrás daquilo?
      Cartão na mão, aproximou-se da janela. Ali, parada sob o poste de iluminação, estava uma mulher já madura, modestamente vestida, uma mulher ainda bonita. Uma desconhecida, claro, mas o que importava? Seguramente o destino a trouxera ali, assim como trouxera o cartão de Natal. Num impulso, abriu a porta do apartamento e, sempre segurando o cartão, correu para fora. Tinha uma mensagem para entregar àquela mulher. Uma mensagem que poderia transformar a vida de ambos, e que era, por isso, um verdadeiro presente de Natal.

(SCLIAR, Moacyr. Mensagem de Natal. Porto Alegre: L&PM, 2018, p. 26-28)



O termo sublinhado em ela lhe fizera uma confissão surpreendente (2º parágrafo) exerce a mesma função sintática daquele sublinhado em:

Alternativas
Comentários
  • Cuidado!

    a questão solicita uma classificação em objeto indireto (OI)

    A) o fim do ano era sempre uma época dura (1o parágrafo)

    Sempre=adjunto adverbial de tempo (Spadoto, 188).

    B) Mas de algum modo o recado chegara a ele (5o parágrafo)

    Chegara a alguém, a ele= (OI)

    C) No seu caso havia uma razão óbvia para isso (1o parágrafo)

    O haver no sentido de existir = sem pessoa, sujeito, plural. O que vem após= Objeto indireto.

    D) uma culpa que retornava a cada Natal (2o parágrafo)

    Expressão com valor adverbial de tempo.

    faça uma troca = ao anoitecer, quando chegava o natal...

    E) mas ele sabia quem era o remetente (5o parágrafo)

    Quem sabia?

    -Ele= Sujeito.

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • letra "C" OB DIRETO.

  • Obs: Na letra c) o que vem após o verbo haver é objeto direto.

    Infelizmente o qc não permite a edição deste comentário.

    grato!

  • “Ela lhe fizera uma confissão surpreendente

    (Esse “lhe” está exercendo a função sintática de objeto indireto, pois ao fazer a pergunta ao verbo “quem é que fez uma confissão surpreendente? “Obtemos o sujeito “Ela”, “fez uma confissão surpreendente a quem?” resposta=” lhe”, portanto esse “lhe” exerce a função sintática de objeto indireto).

    *

    (A)

    O fim do ano era sempre uma época dura (1º parágrafo)

    (Esse “sempre” é um adjunto adverbial de tempo) ITEM ERRADO

    *

    (B)

    Mas de algum modo o recado chegara a ele (5º parágrafo)

    (Fazemos a pergunta ao verbo “o recado chegara a quem?” e obtemos a resposta= “a ele”, note que a pergunta é com preposição, portanto a resposta vai ser um objeto indireto que não vai receber o acento indicativo de crase, pelo fato de estar diante de uma palavra masculina). ITEM CORRETO

    *

    (C)

    No seu caso havia uma razão óbvia para isso (1º parágrafo)

    (Fazemos a pergunta ao verbo “havia o que?” e obtemos a resposta “uma razão óbvia”, note que a pergunta é sem preposição e devido a isso a resposta é nosso objeto direto”). ITEM ERRADO

    *

    (D)

    Uma culpa que retornava a cada Natal (2º parágrafo)

    ( “A cada natal” é um adjunto adverbial de tempo). ITEM ERRADO

    *

    (E)

    Mas ele sabia quem era o remetente (5º parágrafo)

    (“ele” está exercendo a função sintática de sujeito, pois se fizermos a pergunta “quem é que sabia?” vamos obter a resposta “ele”) Item errado

  • lhe = retorna candidato

    Mas de algum modo o recado chegara a ele

    chegara a quem?

    a ele = sujeito

    ela lhe fizera uma confissão surpreendente

    ela fizera a confissão a quem?

    a ele = sujeito

    gabarito= B

  • Mas de algum modo o recado chegara a ele 

    primeiramente devemos identificar a função de cada termo dentro da oração:

    1 termo verbo : chegara

    2 termo : quem é que chegara ? o recado (sujeito)

    3 termo :quem chega chega à algum lugar : a ele ( Objeto Indireto) exerce a mesma função do citado.

    4 termo : Mais de um algum modo - adjunto adverbial

  • LHE – objeto indireto, uso formal

    A primeira coisa a notar e gravar é que o pronome LHE é a sintetização de a ele/ela ou a você (ou ao senhor e outras formas de tratamento correspondentes), quando a preposição A é insuprimível, pois introduz um objeto indireto. Em outros termos: o pronome LHE só é usado com verbos transitivos indiretos que exijam a preposição A ou PARA. Ele serve tanto para o masculino quanto para o feminino e normalmente se refere a pessoas. Então: falei-lhe = falei a você (não se diz *falei você); disse-lhe = disse a ele; já lhes informaram? = já informaram a vocês?; entreguei-lhe o livro = entreguei a ele [o livro]; mandei-lhe flores = mandei [flores] para ela.

    http://www.linguabrasil.com.br/nao-tropece-detail.php?id=123

  • Até estranhei a FCC colocar uma questão fácil dessa.

  • só no meu que não está sublinhado?
  • C) No seu caso havia uma razão óbvia para isso (1o parágrafo)

    O haver no sentido de existir = sem pessoa, sujeito, plural. O que vem após= Objeto DIRETO

    verbo EXISTIR é intransitivo e pessoal (possui sujeito). - O verbo HAVER, no sentido de EXISTIR, é transitivo direto e impessoal (não possui sujeito).

  • Assertiva B

    Mas de algum modo o recado chegara a ele (5º parágrafo)

  • Quem está respondendo questões na quarentena dá um like aqui.

    #laveasmãos

    #FIK_IN_HOUSE.

  • Uma culpa que retornava a cada Natal verbo intransitivo e “A cada natal” é um adjunto adverbial de tempo

    gabarito B

    treinar só depende de vc

  • as questões dessa banca são muito bem boladas e muito bem feitas...sem margem para erro !

  • o fim do ano era SEMPRE uma época dura (1º parágrafo) advérbio de tempo

    Mas de algum modo o recado chegara A ELE (5º parágrafo) Chegava a alguém, objeto indireto

    No seu caso havia UMA RAZÃO ÓBVIA para isso (1º parágrafo) Havia algo, objeto direto

    uma culpa que retornava A CADA NATAL (2º parágrafo) Locução adverbial

    mas ELE sabia quem era o remetente (5º parágrafo) Quem sabia? ELE

  • O que devemos nos atentar para essa questão é que ela nos mostra uma regência diferente do que estamos acostumados para o verbo chegar. Caso fosse: "Mas de algum modo o recado chegara ao local" o verbo seria intransitivo e ao local um adjunto adverbial. Mas como na oração é "chegara a ele" e ele é uma pessoa, o verbo é transitivo indireto.

  • o fim do ano era sempre uma época dura (1º parágrafo)

    O fim do ano: Sujeito simples.

    Era: Verbo de ligação.

    Sempre: Adjunto adverbial de tempo.

    Uma época dura: Predicativo do sujeito.

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    Mas de algum modo o recado chegara a ele (5º parágrafo)

    O recado: Sujeito simples.

    Chegará: Quem chega, chega a algum lugar. VTI.

    A ele: Objeto indireto.

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    No seu caso havia uma razão óbvia para isso (1º parágrafo)

    Havia: Verbo impessoal, não possui sujeito.

    Uma razão óbvia... : Objeto direto.

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    uma culpa que retornava a cada Natal (2º parágrafo)

    Que: Sujeito. Retomando ''uma culpa''.

    A cada Natal: Adjunto adverbial de tempo.

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    mas ele sabia quem era o remetente (5º parágrafo)

    Ele: Sujeito

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  • Aff acertei.kkk

  • a questão pede o objeto indireto pois "lhe" = " a ele"

    • objeto indireto sempre usa uma preposição antes

    "Mas de algum modo o recado chegara a ele "

    Letra, B