SóProvas


ID
3396049
Banca
AOCP
Órgão
Prefeitura de Juiz de Fora - MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  Considerações sobre a loucura

                                                                                                            Ferreira Gullar


      Ouço frequentemente pessoas opinarem sobre tratamento psiquiátrico sem na verdade conhecerem o problema. É bacana ser contra internação. Por isso mesmo traçam um retrato equivocado de como os pacientes eram tratados no passado em manicômios infernais por médicos que só pensavam em torturá-los com choques elétricos, camisas de força e metê-los em solitárias.

      Por isso mesmo exaltam o movimento antimanicomial, que se opõe à internação dos doentes mentais. Segundo eles, os pacientes são metidos em hospitais psiquiátricos porque a família quer se ver livre deles. Só pode fazer tal afirmação quem nunca teve que conviver com um doente mental e, por isso, ignora o tormento que tal situação pode implicar.

      Nada mais doloroso para uma mãe ou um pai do que ter de admitir que seu filho é esquizofrênico e ser, por isso, obrigado a interná-lo. Há certamente pais que se negam a fazê-lo, mas ao custo de ser por ele agredido ou vê-lo por fim à própria vida, jogando-se da janela do apartamento.

      Como aquelas pessoas não enfrentam tais situações, inventam que os hospitais psiquiátricos, ainda hoje, são locais de tortura. Ignoram que as clínicas atuais, em sua maioria, graças aos remédios neuroléticos, nada têm dos manicômios do passado.

      Recentemente, num desses programas de televisão, ouvi pessoas afirmarem que o verdadeiro tratamento psiquiátrico foi inventado pela médica Nise da Silveira, que curava os doentes com atividades artísticas. Trata-se de um equívoco. A terapia ocupacional, artística ou não, jamais curou algum doente.

      Trata-se, graças a Nise, de uma ocupação que lhe dá prazer e, por mantê-lo ocupado, alivia-lhe as tensões psíquicas. Quando o doente é, apesar de louco, um artista talentoso, como Emygdio de Barros ou Arthur Bispo do Rosário, realiza-se artisticamente e encontra assim um modo de ser feliz.

      Graças à atividade dos internados no Centro Psiquiátrico Nacional, do Engenho de Dentro, no Estado do Rio, criou-se o Museu de Imagens do Inconsciente, que muito contribuiu para o reconhecimento do valor estético dos artistas doentes mentais. Mas é bom entender que não é a loucura que torna alguém artista; de fato, ele é artístico apesar de louco.

      Tanto isso é verdade que, das dezenas de pacientes que trabalharam no ateliê do Centro Psiquiátrico, apenas quatro ou cinco criaram obras de arte. Deve-se reconhecer, também, que conforme a personalidade de cada um seu estado mental compõe a expressão estética que produz.

      No tal programa de TV, alguém afirmou que, graças a Nise da Silveira, o tratamento psiquiátrico tornou-se o que é hoje. Não é verdade, isso se deve à invenção dos remédios neurolépticos que possibilitam o controle do surto psíquico.

      É também graças a essa medicação que as internações se tornaram menos frequentes e, quando necessárias, duram pouco tempo – o tempo necessário ao controle do surto por medicação mais forte. Superada a crise, o paciente volta para casa e continua tomando as doses necessárias à manutenção da estabilidade mental.

      Não pretendo com esses argumentos diminuir a extraordinária contribuição dada pela médica Nise da Silveira ao tratamento dos doentes mentais no Brasil. Fui amigo dela e acompanhei de perto, juntamente com Mário Pedrosa, o seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional. 

      Uma das qualidades dela era o seu afeto pelas pessoas e particularmente pelo doente mental. Eis um exemplo: como o Natal se aproximava, ela perguntou aos pacientes o que queriam de presente. Emygdio respondeu: um guarda-chuva.

      Como dentro do hospital naturalmente não chovia, ela concluiu que ele queria ir embora para casa. E era. Ela providenciou para que levasse consigo tinta e tela, a fim de que não parasse de pintar.

      Ele se foi, mas, passado algum tempo, alguém toca a campainha do gabinete da médica. Ela abre a porta, era o Emygdio, de paletó, gravata e maleta na mão. “Voltei para continuar pintando, porque lá em casa não dava pé.” E ficou pintando ali até completar 80 anos, quando, por lei, teve que deixar o hospital e ir para um abrigo de idosos, onde morreu anos depois.

(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ferreiragullar/2016/02/174 1258-consideracoes-sobre-a-loucura.shtml)

“Trata-se, graças a Nise, de uma ocupação que lhe dá prazer e, por mantê-lo ocupado, alivia-lhe as tensões psíquicas. Quando o doente é, apesar de louco, um artista talentoso, como Emygdio de Barros ou Arthur Bispo do Rosário, realiza-se artisticamente e encontra assim um modo de ser feliz.” Os termos destacados introduzem, respectivamente, no contexto apresentado,

Alternativas
Comentários
  • Por que o gabarito é a letra E? Não entendi esse "quando" com valor de Conjunção Condicional. Alguém comenta aí!
  • Substitui o quando por "se", assim a relação condicional vai aparecer bem clara.

  • Também não entendi.. Esse gabarito está errado..

  • “Trata-se, graças a Nise, de uma ocupação que lhe dá prazer e, por mantê-lo ocupado, alivia-lhe as tensões psíquicas. Quando o doente é, apesar de louco, um artista talentoso, como Emygdio de Barros ou Arthur Bispo do Rosário, realiza-se artisticamente e encontra assim um modo de ser feliz.” 

    ...de uma ocupação que lhe dá prazer... (QUE é pronome relativo e introduz uma oração subordinada adjetiva restritiva)

  • Da onde que o gabarito é letra E?

  • Oração Adjetiva Restritiva não vem isolada por vírgulas. Ao meu ver a questão está incorreta.

  • iii, algo de errado não está certo!

  • Embora eu tenha errado, concordo com o gabarito... fui seco na A ( autor fdp quis inventar, tem diversas conjunções condicionais... Mas o cara me vem com uma conjunção normalmente utilizada nas orações temporais).

    Mamma Mia!

  • “Trata-se, graças a Nise, de uma ocupação que lhe dá prazer e, por mantê-lo ocupado, alivia-lhe as tensões psíquicas. Quando o doente é, apesar de louco, um artista talentoso, como Emygdio de Barros ou Arthur Bispo do Rosário, realiza-se artisticamente e encontra assim um modo de ser feliz.”

    Comentário:

    Essas vírgulas, nada tem haver com a oração "de uma ocupação que lhe dá prazer", por isso é uma oração RESTRITIVA.

    Exemplos de Conjunções Condicionais:

    Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, dado que, desde que, a menos que, a não ser que.

    Temos que ter atenção à ideia do texto. POR ISSO RESPOSTA CORRETA LETRA: E

  • Ae fico bugado errei por não saber ou errei por tá errado...

  • Quase tudo depende de contexto! Ele, portanto, transmitiu uma ambiência clara de condição! Questão Linda!

  • PESSOAL ESSA QUESTÃO ABORDA SOBRE NISE DA SILVEIRA, UMA GRANDE PSIQUIATRA BRASILEIRA, TEM O FILME DELA NA NETFLIX, CHAMA-SE : NISE, O CORAÇÃO DA LOUCURA, VALE A PENA ASSISTIR, ATÉ PQ VALORIZAR O CINEMA NACIONAL NUNCA É DEMAIS QUANDO REALMENTE COMPENSA.

    SOBRE A QUESTÃO : NEM SEMPRE O QUANDO SERÁ TEMPORAL

  • Embora eu também tenha errado, concordo com o gabarito. Fui no calor da emoção e me lasquei.

  • Se o meu professor de português diz que isso é uma m*&%# que só serve pra passar numa prova quem sou eu pra discordar dele! Absolutamente ninguém precisaria saber disso no seu dia a dia, quanto mais um agente de trânsito de Juiz de Fora, MG.

  • O conector QUANDO pode expressar TEMPO, CONDIÇÃO ou CONCESSÃO.

    A torcida vaiou o técnico quando anunciaram a substituição.

    = A torcida vaiou o técnico no momento em que anunciaram a substituição.

    Ele só quer saber de festas, quando poderia estar ajudando a família.

    = Ele só quer saber de festas, apesar de poder estar ajudando a família.

    Quando ele quer algo, não mede esforços.

    Se ele quer algo, não mede esforços.

    No último caso, como identificamos a ideia de condição? A concretização da condição implica um resultado, uma consequência. O fato de ele querer algo implica não medir esforços.

    Outros exemplos de QUANDO condicional:

    Ele se irrita quando falamos sobre o assunto.

    A concretização da condição implica um resultado, uma consequênciaO fato de se falar sobre o assunto tem como implicação sua irritação.

    →A palavra “mal”, tipicamente um advérbio de modo, quando expressa tempo - equivale a “assim que”, “logo que”, funciona como CONJUNÇÂO SUBORDINATIVA TEMPORAL.

    Mal entrei pela sala, fui ovacionado pelos alunos. 

    Assim que entrei pela sala...

    Mal cheguei a minha residência, fui informado da tragédia.

    Logo que cheguei a minha residência...

  • Errei , nem smp o quando é temporal né
  • POR QUÊ ELA É RESTRITIVA SE TEM VIRGULA?

  • O contexto é soberano na análise.

  • quem foi seco na letra A, kkkkkk.. gostei da questao!

  • Orações Subordinadas Adjetivas.

    Há aquelas que restringem ou especificam o sentido do termo a que se referem, individualizando-o. Nestas orações não há marcação de pausa , sendo chamadas subordinadas adjetivas restritivas 

    Orações Subordinadas Adjetivas.

    Existem também orações que realçam um detalhe ou amplificam dados sobre o antecedente, que já se encontra suficientemente definido. Há marcação de pausa , Estas orações denominam-se subordinadas adjetivas explicativas.

    Exemplo 1: Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que passava naquele momento. 

    Oração Subordinada Adjetiva Restritiva

    Exemplo 2: O homem , que se considera racional, muitas vezes age animalescamente.

     Oração subordinada Adjetiva Explicativa.

    Orações subordinadas Condicionais: introduzem uma oração que indica a hipótese ou a condição para ocorrência da principal. São elas: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser que, desde que, a menos que, sem que, etc.

    Se precisar de minha ajuda, telefone-me.

  • Cuidado com o " quando " ele pode ser conjunção subordinativa de:

     tempo : durante o tempo que, no tempo em que.

    Ex: "quando chove, fica em casa"

     proporção : à medida que, ao passo que.

    Ex: "quando iam entrando em casa, tiravam os sapatos"

     condição : se, acaso.

    Ex: "quando achava bom, ia em frente"

     concessão : ainda que, apesar de que.

    Ex: "costuma convidá-la para jantar, quando sabe muito bem que ela está de regime"

  • Questão linda! O "quando" pode ser substituído por "caso" e a oração subordinada adjetiva restritiva está correta. Pessoal, pra ser explicativa a vírgula tem de vir imediatamente antes do "que", fica a dica. C.S.A.
  • adjetiva restritiva por causa do pronome relativo mas e as virgulas?

  • Gabarito E

    Embora tenha errado (consoante a maioria rsrs), concordo com o gabarito. Não podemos levar ao "pé da letra" que as O. Restritivas virão sem pontuações. Na verdade, como se trata de oração intercalada/ inferente/ interferente, a pontuação por meio da qual a introduziu, será a mesma a encerrá-la. Portanto, "o grande lance" é ficar de olho no contexto: Caso haja divisão, limitação ou especificação, será RESTRITIVA.

    Fonte:

    Prof. Mourão - IAP. "OBS"!.

  • A vírgula que constitui oração explicativa, deve anteceder o pronome QUE.
  • A condição necessária para o doente ser realizado artisticamente e encontrar a felicidade é o fato dele ser um artista talentoso. A primeira, sem dúvidas, é adjetiva restritiva. Gabarito E