- ID
- 3424585
- Banca
- CONSULPAM
- Órgão
- Prefeitura de Viana - ES
- Ano
- 2019
- Provas
-
- CONSULPAM - 2019 - Prefeitura de Viana - ES - Auditor Fiscal de Defesa do Consumidor
- CONSULPAM - 2019 - Prefeitura de Viana - ES - Auditor Fiscal de Meio Ambiente - Engenheiro Agrônomo
- CONSULPAM - 2019 - Prefeitura de Viana - ES - Auditor Fiscal de Meio Ambiente - Engenheiro Ambiental
- CONSULPAM - 2019 - Prefeitura de Viana - ES - Auditor Fiscal de Meio Ambiente - Engenheiro Químico
- CONSULPAM - 2019 - Prefeitura de Viana - ES - Auditor Fiscal de Meio Ambiente - Geólogo
- CONSULPAM - 2019 - Prefeitura de Viana - ES - Auditor Fiscal de Obras
- CONSULPAM - 2019 - Prefeitura de Viana - ES - Auditor Fiscal de Posturas
- CONSULPAM - 2019 - Prefeitura de Viana - ES - Auditor Fiscal de Tributos - Administração
- CONSULPAM - 2019 - Prefeitura de Viana - ES - Auditor Fiscal de Tributos - Ciências Contábeis
- CONSULPAM - 2019 - Prefeitura de Viana - ES - Auditor Fiscal de Tributos - Direito
- CONSULPAM - 2019 - Prefeitura de Viana - ES - Auditor Fiscal de Tributos - Economia
- CONSULPAM - 2019 - Prefeitu
- Disciplina
- Português
- Assuntos
O Escriba
Conhecida também pelo pernóstico apelido
de Sorbonne, a Escola Superior de Guerra era produto
de um sincero interesse da cúpula militar pelo
aprimoramento intelectual dos oficiais superiores,
mas também de um desejo dos ministros de manter
longe dos comandos de tropa e de posições
importantes no Estado-Maior os oficiais de muita
capacidade e pouca confiança. Enquanto se puniam
com transferências para circunscrições de
recrutamento os coronéis chucros ou extremados, a
oposição militar bem-educada ganhava escrivaninhas
na ESG, cuja primeira virtude era a localização: no
Rio de Janeiro, debruçada sobre a praia da Urca. Em
1953, somando-se os estagiários ao seu quadro de
pessoal, a ESG dava o que fazer a doze generais, três
almirantes, dois brigadeiros, 33 coronéis e onze
capitães-de-mar-e-guerra, efetivo equivalente a mais
que o dobro dos coronéis e generais que foram para a
guerra.
Desde 1950 a escola juntava por volta de
setenta civis e militares num curso de um ano,
verdadeira maratona de palestras e estudos em torno
dos problemas nacionais. Essa convivência de
oficiais, burocratas e parlamentares era experiência
inédita, mas seria exagero dizer que nos seus
primeiros dez anos de vida a ESG aglutinou uma
amostra da elite nacional. O número de estagiários
sem ligação funcional com o Estado dificilmente
alcançava um terço das turmas. A seleção dos 483
militares que fizeram qualquer tipo de curso na ESG
entre 1950 e 1959 deu-se sem dúvida no estrato
superior da oficialidade. Dois chegaram à Presidência
da República (Geisel e Castello Branco), 23 ao
ministério, e, deles, seis chefiaram o Exército. Com
os 335 civis que passaram pela escola no mesmo
período, o resultado foi outro. Só quatro chegaram ao ministério. Um deles, Tancredo Neves, pode ser
computado como se tivesse chegado à Presidência.
A escola funcionava num clima
grandiloquente e autocongratulatório. Suas primeiras
turmas incluíam oficiais sinceramente convencidos
de que participavam de um mutirão intelectual que
repensava o Brasil. Havia neles um verdadeiro
sentido de missão. “Nenhum de nós sabia nada e
queríamos que alguém nos desse ideias”, contaria
mais tarde o general Antônio Carlos Muricy. Ainda
assim, a ESG não produziria uma só ideia ao mesmo
tempo certa e nova. Seus fundadores empilharam
conceitos redundantes, como Planejamento da
Segurança Nacional, e impenetráveis, como o
Conceito Estratégico Nacional, atrás dos quais se
escondia uma metafísica do poder estranha à ordem e
às instituições democráticas, aos sistemas partidários
e aos mecanismos eleitorais. Carlos Lacerda
chamava-a de “escola do blá-blá-blá”. Com o tempo
edificou-se a mitologia de que a Sorbonne foi
laboratório de aperfeiçoamento da elite nacional e
sacrário ideológico do regime de 1964. Parte da
cúpula militar que a criou, no entanto, haveria de
tomá-la como mau exemplo tanto pela fauna como
pela flora. “Cuidado com os picaretas. Veja a ESG”,
advertiu Geisel a um amigo. As famosas apostilas de
capa cinza eram documentos irrelevantes para o
general: “Podem ir para o lixo, pois as turmas e os
grupos são muito díspares”.
Fundada na premissa de que o
subdesenvolvimento brasileiro era produto da falta de
articulação e competência de sua elite, a ESG se
propunha a sistematizar o debate dos problemas do
país. Oferecia-se também como centro de estudos
para uma crise universal muito mais ameaçadora e
urgente. Em maio de 1949 a escola ainda não estava
legalmente organizada, mas seu comandante, o
general Oswaldo Cordeiro de Farias, advertia:
“Precisamos preparar-nos para a eventualidade da
terceira guerra mundial, o que é uma consequência do
panorama internacional, uma política de autodefesa,
um imperativo de nossa soberania e do nosso espírito
de sobrevivência. Viver despreocupado problema, num mundo que não se entende, é ter
mentalidade suicida”.
Esse mundo vivia sob a influência de duas
expressões: Cortina de Ferro e Guerra Fria.
A primeira fora mais uma expressão genial
do ex-primeiro-ministro inglês Winston Churchill.
Em março de 1946, discursando na pequena cidade de
Fulton, nos Estados Unidos, ele denunciou: “De
Stettin, no Báltico, a Trieste no Adriático, uma cortina
de ferro caiu sobre o Continente. Atrás dessa linha,
todas as capitais dos velhos Estados da Europa
Central, Varsóvia, Berlim, Praga, Viena, Budapest,
Belgrado, Bucarest e Sofia, todas essas famosas
cidades, bem como as populações que as circundam,
estão submetidas não só à influência soviética, mas a
um grande e crescente controle por Moscou”.
A segunda fora produto da memória do
jornalista americano Walter Lippmann. Ao dar título
a uma coletânea de artigos dos últimos meses de
1947, ele recorreu à expressão francesa usada em 39
para designar a política de intimidação de Hitler na
Europa, “la guerre froide”.
(GASPARI, E. A ditadura derrotada. São Paulo:
Companhia das Letras, 2003, p. 121-124).
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