SóProvas


ID
3431251
Banca
VUNESP
Órgão
Valiprev - SP
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Se a vida é um vale de lágrimas, por que não processar os pais por nos terem trazido ao mundo?

      Se o leitor nunca pensou nessa hipótese, isso pode significar duas coisas. Primeiro, que é uma pessoa sã. Segundo, que nunca leu a saga do indiano Raphael Samuel, 27, que tentou processar os progenitores, segundo o jornal “The Guardian”.

      Sim, Samuel confessa que tem uma excelente relação com eles. Mas há, digamos, um “pecado original” que o rapaz não pode perdoar: ele nasceu sem dar o seu consentimento. Uma indenização, ainda que simbólica, seria uma forma de fazer doutrina: quando queremos ter filhos, é importante ter o consentimento deles.

      Por essa altura, o leitor inteligente que lê as minhas colunas já deve ter feito uma pergunta fundamental: como obter esse consentimento? E, já agora, em que fase?

      A ciência terá aqui uma palavra importante. Mas, conhecendo o narcisismo da espécie e a tendência irresistível de marchar pelas causas mais improváveis, não é de excluir que adolescentes de todas as idades, frustrados com a vida e com a necessidade de escovar os dentes, encontrem em Raphael Samuel um modelo (de negócio).

      Antigamente, os pais poupavam para a universidade dos filhos. Hoje, convém poupar primeiro para a indenização que eles nos vão pedir.

      No limite, ver o filho a pedir uma indenização aos pais por ter nascido faz tanto sentido como pedir uma indenização ao filho por ele não querer estar cá. Quem disse que só o filho pode ter razões de queixa?

      O problema dos cálculos meramente utilitaristas é que eles são dotados de uma espantosa flexibilidade. E da mesma forma que os filhos avaliam os seus danos por terem nascido, os pais podem atuar da mesma forma.

      Investiram tudo no delfim – patrimônio genético, tempo, dinheiro, sanidade e expectativas legítimas de que ele seria um adulto.

      Mas o ingrato, no fim das contas, ainda quer fazer contas. Se isso não é motivo para uma indenização pesada, só um anjo nos pode salvar.


(João Pereira Coutinho, Alô, filho, você quer mesmo sair?

Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br.

Acesso em: 15.11.2019. Adaptado)

As palavras destacadas nas passagens – tendência irresistível de marchar pelas causas mais improváveis / ver o filho a pedir uma indenização aos pais por ter nascido – podem ser substituídas, correta e respectivamente, por:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    ? ? tendência irresistível de marchar pelas causas mais improváveis / ver o filho a pedir uma indenização aos pais por ter nascido ?

    ? Marchar em favor de algo; em nome de algo. Indenização aos pais por algum fato (=pelo fato de ter nascido).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Assertiva D

    em favor das / pelo fato de

  • Observe que, para responder a esta questão com propriedade, precisaremos examinar o valor semântico das preposições no contexto. Uma preposição não possui valor sintático, ou seja, ela não pode ser analisada sintaticamente, no entanto traz sentido ao texto. Observação: Não se prenda ao fato de que a preposição sempre terá valor semântico, pois é uma inverdade. Em alguns contextos, a preposição não tem sentido algum, servindo apenas como um conector. Cuidado! Sabendo isso, vamos à análise do trecho exposto no enunciado.

    “...tendência irresistível de marchar pelas causas mais improváveis / ver o filho a pedir uma indenização aos pais por ter nascido..."
    Note que a primeira preposição em contração com o artigo AS (PELAS) traz o sentido de MARCHAR EM FAVOR DE, EM BENEFÍCIO DE, EM PROL DE ALGO. Agora, na segunda preposição em destaque no contexto, há o sentido de POR CAUSA DE, PELO FATO DE, CAUSALIDADE."
    Vamos às alternativas.

    A) em função das / com base em
    ERRADO- A primeira preposição em destaque no enunciado traz sentido de EM BENEFÍCIO de, não “em função de" e a segunda traz sentido de causalidade, não embasamento.
    B) como se fossem / devido a
    ERRADO- A primeira preposição em destaque no enunciado traz sentido de EM BENEFÍCIO de, não comparação.
    C) em relação a / no que toca a
    ERRADO- A primeira preposição em destaque no enunciado traz sentido de EM BENEFÍCIO de, não de comparação.
    D) em favor das / pelo fato de
    GABARITO: As preposições no fragmento exposto no enunciado possuem sentido de EM FAVOR DE e PELO FATO DE no contexto.
    E) em nome das / na dependência de
    ERRADO- A primeira preposição em destaque no enunciado traz sentido de EM BENEFÍCIO de, não de “representação".
    GABARITO: D
  • Macete para causa e consequência:

    "O fato de faz com que"

  • O que me gerou dúvidas foi a expressão "em favor de".

    A dúvida é se o correto é "em favor de" ou "a favor de".

    O Dicionário Houaiss traz dois exemplos significativos: (i) "Advoga a favor dos pobres"; (ii) "Fazia lei em favor do povo"2. Portando, a duas expressões existem e são empregadas como sinônimos (mesmo sentido).