SóProvas


ID
3431869
Banca
Instituto Tupy
Órgão
Prefeitura de Guaramirim - SC
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto de Clarice Lispector, “Declaração de amor”, abaixo:

11 de maio de 1968

Declaração de amor Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil.

        Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguajem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo.

        Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisto de uma frase.

        Eu gosto de manejá-la - como gosto de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes para nos dar para sempre uma herança de língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.

        Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.

        Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.

Lispector, C. Declaração de amor. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro. 11 de maio de 1968.

Assinale a alternativa que materializa a correção gramatical:

Alternativas
Comentários
  • Alguém poderia explicar por que a C está certa e o erro da alternativa E?

    Só consegui achar os erros das demais:

    A) Eu gosto de manejar ela. (O correto seria ''maneja-la'')

    B) Os que temerariamente ousam a transformar numa linguajem de sentimento... (O correto seria ousam transformar)

    D) O que recebi de herança não chega-me. (O correto seria ''não me chega'', pois o advérbio ''não'' atrai próclise)

  • Comentemos item por item:

    a) Eu gosto de manejar ela.

    Incorreto. Os pronomes pessoais do caso reto não se portam como objetos, devendo ser substituídos por pronomes oblíquos átonos — no caso em tela, o pronome "a", que passa a ser "la". Correção: "Eu gosto de manejá-la".

    b) ... os que temerariamente ousam a transformar numa linguajem de sentimento...

    Incorreto. Grafa-se "linguagem", com "g".

    c) Essas dificuldades, nós temo-las.

    Correto, conquanto, à primeira vista, haja estranheza na estrutura. A banca explorou dois assuntos em casos muito peculiares: o objeto direto pleonástico e a ênclise em verbos terminados em "s". Também é preciso observar a vírgula.

    "Nós temo-las" → Convém observar que o verbo "ter" é transitivo direto e termina em "s", de modo que, sempre que se usar a ênclise diante desses verbos, é obrigatória a supressão do "s" e o pronome "as" passa a "las".

    No que se refere à mencionada vírgula, ela se faz necessária, uma vez que há objeto direto pleonástico e considera-se a disposição dos termos: o objeto "essas dificuldades" é resgatado, sem necessidade, pelo pronome "las". A isso se dá o nome de objeto direto pleonástico.

    d) O que recebi de herança não chega-me.

    Incorreto. Deve-se dispor o pronome antes do verbo, ou seja, em posição proclítica, porque o advérbio o reclama para perto de si. Correção: "(...) herança não me chega".

    e) ...como gosto de estar montada num cavalo e o guiar pelas rédeas...

    Correto, mas a banca considerou incorreta a posição proclítica do pronome "o" (o guiar), porque, se regressar ao texto, verá que a única alteração se aloja na posição desse pronome. Veja:

    Trecho do texto:

    "(...) como gosto de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas."

    Trecho do enunciado:

    "(...) como gosto de estar montada num cavalo e o guiar pelas rédeas."

    Mesmo promovendo essa mudança, inexiste erro. É indiferente, nessa circunstância, a próclise ou a ênclise, considerando inexistir fator que obrigue uma ou outra colocação. Para respaldo de meu argumento, observe esta frase extraída, na íntegra, de Dom Casmurro, obra machadiana:

    "(...) para não fitá-lo, deixei cair os olhos."

    Acima, o autor, por mera predileção, optou pela ênclise, mas poderia ter usado a próclise: "(...) para não o fitar, deixei cair os olhos." Até mesmo no exemplo que trouxe, em que se vê palavra atrativa, permite-se a dupla colocação. Conclui-se, pois, que não há que se pôr, obrigatoriamente, o pronome antes ou depois do verbo nessa alternativa. Ambas as redações, a do texto e a do enunciado, respeitam o padrão normativo do idioma.

    Em resumo, a questão possui dois gabaritos, quais sejam: Letras C e E

  • E) ...como gosto de estar montada num cavalo e o guiar pelas rédeas...

    Comentário: já que não existe nenhuma palavra atrativa, o pronome deverá vir após o verbo.

    Forma correta: ...como gosto de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas...

  • Concordo com a Banca.É mais coerente. O próprio texto diz: português é difícil. Por isso, você pode estar certo como eu, também, posso.

  • Concordo com a Banca.É mais coerente. O próprio texto diz: português é difícil. Por isso, você pode estar certo como eu, também, posso.

  • Se alguém puder explicar de uma forma mais resumida, agradeço!

  • Simone Santos, preguiça de ler, né minha filha?! A explicação do Sr. Shelking está perfeita. O cara praticamente mastigou a questão, coisa que professor não faz aqui.

  • CUIDADO

    A questão possui dois gabaritos possíveis, ensejando anulação.

    A alternativa C, apontada como gabarito pela banca, embora estranha à leitura, encontra-se livre de vícios. Não tecerei maiores comentários sobre a alternativa, acredito que o comentário do Sr. Shelking seja suficientemente didático e esclarecedor.

    Nosso problema está na alternativa E, "(...) como gosto de estar montada num cavalo e o guiar pelas rédeas.". Embora a banca tenha promovido certa mudança, ao realocar o pronome oblíquo "o", em relação ao trecho original, a nova redação não possui qualquer incorreção, independendo, aqui, a posição do pronome.

    Em resposta a recursos fundamentados, a banca limitou-se a afirmar que a questão esta correta, sem contudo apresentar qualquer embasamento que justifique o teor da alternativa E

  • Nossa ! eu num sei nem o que o enunciado queria.

  • PERFEITO @ivan_lucas, A letra E não tem qualquer vício, vale ressaltar que no infinitivo cabe enclise e próclise. 2 alternativas corretas, a banca deveria ter tido mais sensatez na hora de apreciar os recursos. 

  • Alternativa E há erro.

    Não se inicia frase com próclise.

  • Nao decifrei nem o enunciado!

  • referente à alternativa da letra E

    Estranho, pois infinitivo admite próclise e enclise.

    O colega abaixo mencionou que não se inicia oração com próclise. A meu ver não se aplica essa essa justificativa, pois a oração não está sendo iniciada pelo pronome proclítico, ela está sendo iniciada pela conjunção ''e'', a qual da inicio à oração coordenada aditiva''

    como gosto de estar montada num cavalo e o guiar pelas rédeas..

  • Como bem salientado ,geralmente, quando o assunto é explorado, os objetos diretos ou indiretos pleonásticos aparecem com vírgulas.

    Cito um exemplo da gramática:

    Meus amigos, respeito-os muito.

    Suas roupas , passei-as ontem

    Aos gatos, dava-lhes ração

    Amim, ensinaram-me belas lições.

    (279)

    Cumpre lembrar que alguns gramáticos também apresentam como correta a utilização de vírgulas nas construções em que o Objeto direto ou indireto aparecem deslocados:

    De doce, eu gosto (Spadoto,556)

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • Não vejo erro na C e nem na E.

    Enfim, conforme comentado pelo Shelking.

  • Alguém explica a letra B?

  • Na alternativa B, a palavra linguagem está escrito incorretamente com a letra J.

  • Apesar de ter marcado a e, nem considerarei como erro. Como disse o amigo, foi pura predileção do examinador
  • O enunciado da questão não deixou claro o que queria, rojão. ;(

  • Banca de índio.

  • O pronome NÓS não seria atrativo ???

  • Questão muito fácil de resolver, pois, como não se sabe o quê se quer na questão, você marca qualquer alternativa e pula para a próxima.

    Espero ter ajudado.

  • nem vou ler pra nao dar ideia

  • e)...como gosto de estar montada num cavalo e o guiar pelas rédeas... 

    Num é usado em ambiente descontraído, isto é, no coloquial. A forma correta seria em um.

    e)...como gosto de estar montada em um cavalo e o guiar pelas rédeas...

  • Você tem que adivinhar que a banca não gosta da frase E